São Paulo, quinta-feira, 25 de junho de 2009

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Brasil deve crescer 4% no próximo ano, prevê OCDE

Retomada da expansão deverá começar já neste 2º semestre; para 2009, entidade estima que haverá retração de 0,8%

Ao constatar que os ricos já teriam superado a pior fase, estudo traça um cenário otimista das perspectivas do Brasil nos próximos meses

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

A economia brasileira sofrerá contração de 0,8% em 2009, mas já deve retomar o crescimento no segundo semestre do ano e ter forte expansão em 2010, sustentada pela demanda doméstica e pela recuperação da atividade industrial.
As projeções fazem parte do relatório anual da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), divulgado ontem em Paris.
O estudo traça um cenário otimista das perspectivas econômicas do Brasil nos próximos meses, em meio à avaliação de que o pior da crise nos países ricos provavelmente está perto do fim.
Levando em conta a queda no PIB no primeiro trimestre, a OCDE reavaliou negativamente a previsão anterior sobre a economia brasileira, divulgada em março, de contração de 0,3% em 2009. Mas elevou a previsão de crescimento em 2010: de 3,8% para 4%.
"A produção industrial está se expandindo, especialmente no setor automotivo. A demanda interna tende a ganhar força no segundo semestre de 2009", diz o estudo da entidade, da qual o Brasil não faz parte.
As condições para a concessão de crédito no país permanecem restritas, observa o relatório, mas começam a dar "sinais de melhora". Os empréstimos de bancos a indivíduos já se aproximam dos níveis anteriores à crise e os custos do crédito estão caindo em relação ao pico registrado no fim de 2008.
Sobre a inflação, o estudo prevê índice de 4,2% para este e o próximo ano, pouco abaixo do centro da meta do governo, de 4,5%. "As pressões inflacionárias derivadas da significativa depreciação do câmbio ocorrida no segundo semestre de 2008 foram reduzidas pela desaceleração econômica."

Políticas
Para o economista Luiz de Mello, responsável pela parte brasileira do estudo, as políticas fiscal e monetária implementadas pelo governo criaram condições domésticas favoráveis para a retomada do crescimento. Os principais riscos para o Brasil são externos, diz ele, sobretudo o aperto no crédito e a queda do comércio.
"A composição dos riscos é predominantemente de fontes externas, mas elas podem afetar a dinâmica interna, como a retomada das exportações de setores importantes, como a indústria automobilística e a agricultura", disse ele.
Entretanto, Mello crê que a forte contração do comércio mundial -segundo a OCDE, deve chegar neste ano a 16%, a maior desde a Segunda Guerra- não terá necessariamente impacto significativo no Brasil.
A OCDE lembra que o BC cortou as taxas de juros em 4,5 pontos percentuais, de 13,75% para 9,25% ao ano, e afirma que há espaço para novas reduções. Para a entidade, o "relaxamento" da política fiscal, com a redução da meta de superávit primário para este ano, é recomendável, mas só como medida temporária.
Isenções de impostos pontuais, como as aplicadas sobre veículos, são alvo de críticas da organização.
"Não somos fãs de políticas seletivas", disse à Folha o economista-chefe da OCDE, Jorgen Elmeskov, que, no entanto, reconhece o bom desempenho do governo em matéria fiscal. "No plano geral, o Brasil é um exemplo de país emergente que, graças a um comportamento virtuoso no passado, abriu espaço para alguma flexibilidade fiscal na situação atual", afirmou.


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