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GANÂNCIA INFECCIOSA
Ação de Bush, Congresso e especuladores contém baixas; Nova York vive maior euforia desde "crash" de 87
EUA fazem arrastão antipânico na Bolsa
DA REDAÇÃO
As autoridades americanas decidiram contra-atacar o pânico
nas Bolsas, a crise de confiança
nas empresas e o risco de colapso
nos mercados. A ofensiva, em várias frentes, fez a Bolsa de Nova
York viver seu dia de maior euforia desde o "crash" de 1987. A
ação de especuladores também
ajudou na forte alta de ontem.
O Dow Jones, que desabara ao
pior nível em quatro anos, iniciou
o dia em queda. As Bolsas européias mergulhavam em direção
ao "crash" -a Bolsa de Frankfurt
caía 7%. Mas, depois de meia hora
de operação, uma série de notícias
que agradaram ao mercado provocaram o que no jargão de Wall
Street é chamado de "o pulo do
gato morto". Uma dessas notícias
foi a iminência da aprovação, pelo
Congresso, do projeto que reprime e pune fraudes contábeis. O
Dow Jones subiu 6,35%, a maior
alta desde 1987.
Após ter caído abaixo de 8.000
pontos (índice não visto desde
1998, durante a crise da moratória
russa) no começo da semana, o
Dow Jones subiu para 8.191 pontos. Em número de pontos, a disparada de ontem foi a segunda
maior da história do índice.
Bush e O'Neill acordam
O governo dos Estados Unidos
agiu. O secretário do Tesouro,
Paul O'Neill, adiou a visita que faria ao Brasil e a outros países da
América do Sul e ficará em Washington para combater a crise
nos mercados. O secretário de
Comércio, Donald Evans, foi ao
Congresso e afirmou: "Devemos
recuperar a confiança de todo o
sistema e o faremos".
Se a economia não voltar a decolar, a equipe de Bush estuda novas medidas, revelou ontem o diretor de Orçamento do governo
norte-americano, Mitch Daniels.
O diretor apontou para o risco de
o déficit público americano crescer ainda mais caso a derrocada
nas Bolsas não cesse. A queda nas
Bolsas derruba a arrecadação de
impostos. "O efeito seria maior do
que em qualquer outro momento
no passado", disse Daniels, sobre
o impacto da desvalorização das
ações no caixa federal.
Alguns analistas do mercado
atribuíram parte da euforia de ontem à especulação de que o Federal Reserve (banco central) faria
uma reunião de emergência para
conter os juros. A redução estimularia as Bolsas, mas o Fed não
comentou tal possibilidade.
Ação parlamentar e policial
Senadores e deputados chegaram a um acordo para aprovar,
ainda neste mês, um projeto que
pretende moralizar a contabilidade das grandes empresas. As medidas prevêem penas de até dez
anos de prisão para especuladores
e dão fim a algumas das práticas
que contribuíram para a "exuberância irracional" e a "ganância
infecciosa" na década passada.
Além disso, fundadores e ex-diretores da Adelphia foram presos
ontem por autoridades federais,
dando a impressão de que as fraudes empresariais serão reprimidas com rigor. A empresa de TV a
cabo, que responde a processos
por fraude contábil, está em concordata e deu um prejuízo de US$
60 bilhões a seus investidores.
Alívio momentâneo?
As molas propulsoras da ascensão no Dow foram os bancos Citigroup (cujas ações subiram 10%)
e JP Morgan Chase (alta de 16%).
Ambas as instituições financeiras,
as maiores do país, estão sendo
acusadas de terem participado
dos esquemas fraudulentos da
empresa de energia Enron e haviam sofrido grandes perdas nos
dois pregões anteriores.
Os papéis dos bancos haviam
caído cerca de 30% nesta semana,
o que estimulou o movimento de
compra. Apesar das suspeitas lançadas pelas investigações do Senado, o Citi e o JP insistiram ontem em que não fizeram absolutamente nada de errado. A agência
de classificação de crédito Standard & Poor's informou que não
pretende rebaixar as instituições e
afastou o risco de insolvência.
A Nasdaq, Bolsa composta sobretudo por empresas tecnológicas, subiu 4,98%. O índice Standard & Poor's 500 (que traz 500
empresas, bem acima das 30 que
formam o Dow) disparou 5,73%.
O volume de negócios foi grande. Cerca de 2,8 bilhões de ações
trocaram de mãos na Bolsa de
Nova York. Pela primeira vez na
história, as trocas ficaram acima
de 2 bilhões, em quatro dias.
Mas, para boa parte dos analistas do mercado nova-iorquino, a
euforia de ontem não marca o
fundo do poço. As altas teriam sido circunstanciais e não se devem
a uma grande mudança no estado
de ânimo dos abatidos investidores, escaldados com a enxurrada
de escândalos e concordatas.
Segundo Bill Barker, estrategista da corretora RBC Dain Rauscher, as Bolsas subiram porque
especuladores que haviam feito
vendas a descoberto aproveitaram os baixos preços para comprar ações. "Cada vez mais o mercado é dominado por especuladores de curto prazo", afirmou.
Nos negócios a descoberto, os
investidores vendem ações emprestadas, que não são suas, apostando na desvalorização. Quando
os preços estão em forte baixa,
abaixo do preço combinado de
venda, eles recompram os papéis
para entregá-los aos compradores, embolsando a diferença.
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