São Paulo, quinta-feira, 25 de julho de 2002

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GANÂNCIA INFECCIOSA

Ação de Bush, Congresso e especuladores contém baixas; Nova York vive maior euforia desde "crash" de 87

EUA fazem arrastão antipânico na Bolsa

DA REDAÇÃO

As autoridades americanas decidiram contra-atacar o pânico nas Bolsas, a crise de confiança nas empresas e o risco de colapso nos mercados. A ofensiva, em várias frentes, fez a Bolsa de Nova York viver seu dia de maior euforia desde o "crash" de 1987. A ação de especuladores também ajudou na forte alta de ontem.
O Dow Jones, que desabara ao pior nível em quatro anos, iniciou o dia em queda. As Bolsas européias mergulhavam em direção ao "crash" -a Bolsa de Frankfurt caía 7%. Mas, depois de meia hora de operação, uma série de notícias que agradaram ao mercado provocaram o que no jargão de Wall Street é chamado de "o pulo do gato morto". Uma dessas notícias foi a iminência da aprovação, pelo Congresso, do projeto que reprime e pune fraudes contábeis. O Dow Jones subiu 6,35%, a maior alta desde 1987.
Após ter caído abaixo de 8.000 pontos (índice não visto desde 1998, durante a crise da moratória russa) no começo da semana, o Dow Jones subiu para 8.191 pontos. Em número de pontos, a disparada de ontem foi a segunda maior da história do índice.

Bush e O'Neill acordam
O governo dos Estados Unidos agiu. O secretário do Tesouro, Paul O'Neill, adiou a visita que faria ao Brasil e a outros países da América do Sul e ficará em Washington para combater a crise nos mercados. O secretário de Comércio, Donald Evans, foi ao Congresso e afirmou: "Devemos recuperar a confiança de todo o sistema e o faremos".
Se a economia não voltar a decolar, a equipe de Bush estuda novas medidas, revelou ontem o diretor de Orçamento do governo norte-americano, Mitch Daniels. O diretor apontou para o risco de o déficit público americano crescer ainda mais caso a derrocada nas Bolsas não cesse. A queda nas Bolsas derruba a arrecadação de impostos. "O efeito seria maior do que em qualquer outro momento no passado", disse Daniels, sobre o impacto da desvalorização das ações no caixa federal.
Alguns analistas do mercado atribuíram parte da euforia de ontem à especulação de que o Federal Reserve (banco central) faria uma reunião de emergência para conter os juros. A redução estimularia as Bolsas, mas o Fed não comentou tal possibilidade.

Ação parlamentar e policial
Senadores e deputados chegaram a um acordo para aprovar, ainda neste mês, um projeto que pretende moralizar a contabilidade das grandes empresas. As medidas prevêem penas de até dez anos de prisão para especuladores e dão fim a algumas das práticas que contribuíram para a "exuberância irracional" e a "ganância infecciosa" na década passada.
Além disso, fundadores e ex-diretores da Adelphia foram presos ontem por autoridades federais, dando a impressão de que as fraudes empresariais serão reprimidas com rigor. A empresa de TV a cabo, que responde a processos por fraude contábil, está em concordata e deu um prejuízo de US$ 60 bilhões a seus investidores.

Alívio momentâneo?
As molas propulsoras da ascensão no Dow foram os bancos Citigroup (cujas ações subiram 10%) e JP Morgan Chase (alta de 16%). Ambas as instituições financeiras, as maiores do país, estão sendo acusadas de terem participado dos esquemas fraudulentos da empresa de energia Enron e haviam sofrido grandes perdas nos dois pregões anteriores.
Os papéis dos bancos haviam caído cerca de 30% nesta semana, o que estimulou o movimento de compra. Apesar das suspeitas lançadas pelas investigações do Senado, o Citi e o JP insistiram ontem em que não fizeram absolutamente nada de errado. A agência de classificação de crédito Standard & Poor's informou que não pretende rebaixar as instituições e afastou o risco de insolvência.
A Nasdaq, Bolsa composta sobretudo por empresas tecnológicas, subiu 4,98%. O índice Standard & Poor's 500 (que traz 500 empresas, bem acima das 30 que formam o Dow) disparou 5,73%.
O volume de negócios foi grande. Cerca de 2,8 bilhões de ações trocaram de mãos na Bolsa de Nova York. Pela primeira vez na história, as trocas ficaram acima de 2 bilhões, em quatro dias.
Mas, para boa parte dos analistas do mercado nova-iorquino, a euforia de ontem não marca o fundo do poço. As altas teriam sido circunstanciais e não se devem a uma grande mudança no estado de ânimo dos abatidos investidores, escaldados com a enxurrada de escândalos e concordatas.
Segundo Bill Barker, estrategista da corretora RBC Dain Rauscher, as Bolsas subiram porque especuladores que haviam feito vendas a descoberto aproveitaram os baixos preços para comprar ações. "Cada vez mais o mercado é dominado por especuladores de curto prazo", afirmou.
Nos negócios a descoberto, os investidores vendem ações emprestadas, que não são suas, apostando na desvalorização. Quando os preços estão em forte baixa, abaixo do preço combinado de venda, eles recompram os papéis para entregá-los aos compradores, embolsando a diferença.



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