São Paulo, domingo, 25 de julho de 2004

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OTIMISMO

Para ex-diretor do BC, país pode crescer 5%

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

A economia pode crescer em vôo de cruzeiro a 3%, 4%, 5% ao ano ou mais se o governo fizer as reformas microeconômicas e melhorar a infra-estrutura. A opinião é de Luiz Fernando Figueiredo, diretor de Política Monetária do BC no governo FHC. "O nome do jogo é crescimento e, se ele continuar, então podemos dizer que os ativos brasileiros estão baratos hoje", diz. "Há oportunidade para investimento tanto financeiro como produtivo."
Figueiredo, com o ex-presidente do BC Armínio Fraga, é sócio-fundador da Gávea Investimentos, empresa de gestão de recursos que administra um "global fund", destinado a investidores internacionais, e um fundo local, que aplica em papéis brasileiros (ações e títulos de renda fixa). A Gávea completará dois anos no próximo mês e administra quase US$ 1 bilhão em recursos de terceiros. Leia trechos da entrevista:

 

Folha - Cai o desemprego, a renda do assalariado mostra recuperação e aumenta a confiança dos empresários. Qual o fôlego da melhora?
Luiz Fernando Figueiredo -
Estamos passando por um processo de recuperação da economia, que vinha andando muito pouco nos últimos anos. Esse processo tem se mostrado mais intenso do que parecia no início do ano, e temos várias razões para crer que se trata de um processo mais duradouro.

Folha - Isso não pode ser mais uma "bolha"?
Figueiredo -
O Brasil está numa situação muito melhor, no que diz respeito aos fundamentos da economia, do que no passado recente. A nossa fragilidade externa diminuiu: as contas externas têm mostrado uma robustez muito grande, o que nos permite dizer que esse crescimento é mais robusto. O segundo aspecto é que vemos uma aumento do crédito na economia. O volume de crédito no país corresponde a 25% do PIB (Produto Interno Bruto), enquanto nos demais países emergentes é de 70% a 80% do PIB.

Folha - E do ponto de vista interno, a inflação voltou a preocupar?
Figueiredo -
Com os choques que tivemos em 2001, em 2002 e em 2003, tínhamos de trazer a inflação para um nível mais adequado e sustentável no longo prazo. Esse processo não se encerrou, mas andamos muito nele. A tendência, daqui para a frente, é que a política monetária não seja tão dura como foi.

Folha - Os juros em 16% ao ano não inibem os investimentos?
Figueiredo -
Dizer que taxa de juros é determinante para o investimento é superestimar o efeito dos juros. Há uma série de coisas a serem feitas para estimular investimentos, isso não depende só do BC. Se o governo fizer uma reforma trabalhista razoável, por exemplo, a importância do juro cai. Hoje se dá uma importância maior ao juro do que ele tem para o investimento. Tanto que o investimento, que foi muito baixo nos últimos anos, está crescendo.

Folha - Quanto aumentou a taxa de investimento na economia?
Figueiredo -
Os últimos dados mostram que hoje a formação bruta de capital [taxa de investimento] está rodando em 20% do PIB. Entre 2000 e 2002, estava em torno de 18%. O aumento do investimento é natural quando a economia cresce. Também ajuda o crescimento do Brasil o fato de o mundo estar crescendo 4% neste ano e dever crescer 3,5% em 2005. Em poucos momentos da história tivemos crescimento mundial tão robusto. Temos várias indicações de que o crescimento do país tende a ser de médio e longo prazo.

Folha - O que poderá atrapalhar o crescimento?
Figueiredo -
Para termos um risco baixo de que esse crescimento diminua lá na frente, temos de continuar as reformas microeconômicas, impulsionar o crédito, melhorar a infra-estrutura para superar gargalos na produção e na distribuição.


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