São Paulo, domingo, 25 de julho de 2004

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Governo central vai herdar "esqueleto"

DE PEQUIM

As estatais chinesas têm um "esqueleto" em sua contabilidade de tamanho não revelado, mas estimado em bilhões de dólares. São valores relativos a obrigações que dificilmente serão pagas pelas estatais e terão de ser arcadas pelo governo central, entre as quais estão contribuições para fundos de pensão e pagamentos de empréstimos obtidos em bancos estatais.
William Mako, economista do Banco Mundial, afirma que o governo chinês não divulga as estatísticas que permitiriam calcular o valor desse rombo, mas ressalta que "presumivelmente" a quantia envolvida é enorme.
As empresas controladas pelo Estado são o principal destino dos financiamentos dos bancos estatais, que têm uma montanha de empréstimos de difícil recuperação. Especialistas estimam que pelo menos 30% da carteira dos bancos estatais não serão recuperados, o que os coloca em uma situação de virtual insolvência.
O governo reconhece a existência de um percentual menor, 21,4%, o que ainda representa um volume imenso de dinheiro: US$ 242 bilhões, cerca de metade do PIB brasileiro.
A manutenção do controle das empresas nas mãos dos Estados e das províncias provoca o que Mako chama de "localização de benefícios" e "nacionalização de passivos". Segundo ele, a interferência política nas estatais leva à concessão de vantagens para funcionários, que terão de ser pagas por toda a população quando os "esqueletos" saírem do armário.
Por enquanto, o governo tenta limitar esse processo com a profissionalização das estatais e o estabelecimento de concorrência entre elas. Em todos os setores há mais de uma empresa e começa a acabar a divisão de tarefas que antes existia entre elas.
O setor público também enfrenta em alguns setores a crescente presença de empresas privadas. James Dorn, do Instituto Cato, estima que o setor privado já representa 70% da indústria chinesa.
Esse percentual foi conquistado não pela diminuição do tamanho das estatais na economia, mas pela proliferação de empresas não-controladas pelo Estado.
O governo anunciou ontem, por exemplo, que irá permitir em breve a entrada de investidores privados no setor ferroviário, até agora dominado por estatais.
O setor financeiro será aberto a bancos internacionais a partir de 2007, segundo as obrigações assumidas pela China quando entrou na Organização Mundial do Comércio, em dezembro de 2001.
Grandes empresas que antes monopolizavam o seu setor foram separadas em unidades que passaram a ser concorrentes.
A Avic (Aviation Industry Corporation), por exemplo, foi dividida em duas, Avic I e Avic II. No setor de petróleo, existe pelo menos três grandes empresas, que começam aos poucos a atuar nas mesmas áreas. (CT)


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