São Paulo, quarta-feira, 25 de julho de 2007

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Bolsa tem 2º pior pregão do ano e cai 3,8%

Preocupações com o setor imobiliário americano derrubam Bolsas pelo mundo; Nova York recua 1,6%, e Londres, 1,9%

Tensão global faz risco-país do Brasil subir 4,14%; dólar avança 1,1% diante do real e BC mantém compra da moeda americana

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado de ações teve ontem um de seus piores dias do ano. Perdas importantes foram registradas nas principais praças financeiras do mundo. Na Bovespa, o pregão de ontem registrou baixa de 3,86% -o pior desde o de 27 de fevereiro, quando a Bolsa de Xangai, na China, despencou e assustou o mundo financeiro global.
Mais uma vez, o epicentro foi o mercado imobiliário americano. Resultados ruins da maior empresa de financiamento imobiliário dos EUA desencadeou nova onda de temores. Junto a isso, somaram-se relatórios de bancos alertando para as incertezas que ainda rondam o segmento de dívidas hipotecárias dos EUA.
A queda da Bolsa de Nova York, que atingiu há poucos dias seu pico histórico de 14 mil pontos, ficou em 1,62%. A Bolsa eletrônica Nasdaq, onde são negociados papéis de companhias de alta tecnologia, caiu um pouco mais, 1,89%.
"O mercado já abriu preocupado com o setor imobiliário e só piorou durante o dia. Quando esses movimentos de realização de lucro começam, um investidor vai atrás do outro e se desfaz de ações que não venderia em um pregão normal", afirmou Álvaro Bandeira, diretor da corretora Ágora.
O volume financeiro movimentado na Bovespa mostra o quanto as vendas foram fortes. O pregão terminou com giro de R$ 5,83 bilhões, montante 42% acima da média diária do ano, que é de R$ 4,08 bilhões. E a queda foi generalizada. Apenas 2 das 59 ações que compõem o índice Ibovespa terminaram em terreno positivo.
Na Europa, houve desvalorizações fortes nas Bolsas de Londres (-1,90%), Milão (-1,89%), Frankfurt (-1,73%) e Paris (-1,69%). Entre os latino-americanos, perdas afetaram principalmente as Bolsas de Buenos Aires (-2,69%) e México (-2,20%).
O anúncio da Countrywide Financial, a maior empresa americana de financiamento imobiliário, de que seu lucro no segundo trimestre sofreu queda de 33% assustou o mercado, que esperava recuo menor.
Desde o primeiro trimestre do ano, os investidores têm se mostrado cada vez mais preocupados com a inadimplência no mercado de "subprime" (financiamento imobiliário para clientes de maior risco nos EUA) e suas conseqüências para o resto da economia.
"Além do resultado ruim da Countrywide Financial, houve um relatório feito pelo Citigroup que mostrou preocupação com a inadimplência em hipotecas de menor risco. E isso só piorou o clima", disse Gustavo Barbeito, analista da Prosper Gestão de Recursos.
O que assusta o mercado mundial são os efeitos que um aprofundamento da crise no setor imobiliário pode ter sobre a economia americana. Para piorar o humor do mercado, balanços mais fracos que o esperado de grandes empresas, como American Express e DuPont, foram divulgados ontem.
Os próximos dias contarão com relevantes dados econômicos -entre esses, o PIB dos EUA na sexta. Assim, os analistas não sabem prever se haverá recuperação das Bolsas até o fim da semana. Na agenda de hoje, há a divulgação do chamado livro bege -compilação de dados econômicos feita pelo Fed (banco central dos EUA). Por trazer um amplo panorama da maior economia do mundo, o documento pode mexer com o mercado financeiro mundial.
O mercado de câmbio brasileiro respondeu às tensões do dia com alta nas cotações do dólar. O pregão desfavorável à moeda brasileira não alterou a tática do Banco Central, que não deixou de fazer leilão para comprar moeda. O dólar terminou as operações vendido a R$ 1,863, em alta de 1,14%.
O risco-país brasileiro teve forte elevação de 4,14%, terminando a 176 pontos. A alta do risco ocorreu por causa de vendas expressivas de títulos da dívida brasileira no exterior.


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