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STF pode suspender processos de poupadores
Lobby do governo contra pedidos de indenização por perdas com planos econômicos dos anos 80 e 90 "sensibiliza" corte
Fazenda e Banco Central se aliam a bancos, que veem perdas bilionárias e perigo de risco sistêmico se ações na Justiça prosperarem
LEANDRA PERES
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de um intenso lobby
do Ministério da Fazenda e do
Banco Central, os ministros do
STF (Supremo Tribunal Federal) já admitem nos bastidores
que estão "sensibilizados" com
o argumento do governo contrário ao pagamento de indenizações a poupadores da caderneta de poupança que foram
prejudicados por regras de planos econômicos da década de
80 e do início dos anos 90.
Ministros ouvidos pela Folha já não descartam a possibilidade de o plenário do STF
conceder uma liminar que paralise todas as ações judiciais
em tramitação no país até que o
tribunal decida como deve ser
calculada a correção das cadernetas existentes no lançamento dos planos Bresser (1987),
Verão (1989), Collor 1 (1990) e
Collor 2 (1991).
O governo escalou um time
de primeira grandeza para tentar fazer valer seu argumento.
O ministro Guido Mantega
(Fazenda) esteve pessoalmente
com os ministros do STF. O
mesmo fizeram o presidente do
BC, Henrique Meirelles, e o advogado-geral da União, José
Antonio Dias Toffoli.
Foi depois de toda essa movimentação que o ministro Ricardo Lewandowski decidiu levar a discussão para o plenário
do STF. Em março, o ministro
negou liminar à Consif (Confederação Nacional do Sistema
Financeiro), que pedia a paralisação das ações.
Pelas regras do STF, só haveria necessidade de os outros
dez ministros confirmarem essa decisão se Lewandowski
houvesse concedido a liminar.
A Justiça tem dado ganho de
causa aos poupadores. As ações
mais comuns estão ligadas aos
planos Bresser e Verão.
Nos dois casos, as mudanças
na política econômica foram
feitas no meio do mês, mas as
cadernetas com aniversário na
primeira quinzena tiveram o
rendimento calculado de acordo com as novas regras.
Os correntistas defendem
que a remuneração deveria ser
calculada de acordo com os índices vigentes antes dos planos.
As diferenças chegam a 44,8%,
como no caso do Plano Collor 1.
No Plano Verão, a perda é estimada em 16,65%.
O prazo para questionar essas perdas na Justiça já expirou
no caso dos planos Bresser e
Verão. Só é possível entrar com
ações referentes aos planos
Collor 1 e 2.
A única chance de quem não
entrou na Justiça se beneficiar
é pegar carona em ações civis
públicas, que estendem o direito à indenização a grupos maiores, como uma categoria profissional ou a população de um
Estado.
Nesse caso, no entanto, o correntista tem que provar que tinha saldo em cadernetas nas
datas dos planos econômicos e
fazer uma adesão formal à ação
que normalmente é impetrada
pelas defensorias públicas ou
pelos institutos ligados à defesa
do consumidor
"A discussão não é com o governo, mas com os bancos, que
aplicaram retroativamente a
regra dos planos econômicos.
Isso fere o direito adquirido pelos clientes", diz a gerente jurídica do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor),
Karina Grou.
A Febraban (Federação Brasileira de Bancos), no entanto,
argumenta que os bancos apenas cumpriram as determinações do governo e, portanto,
não há dívida com os clientes.
O governo, em documento
enviado ao STF, afirma que não
há motivos para pagar os expurgos porque não houve perdas. Para isso, compara o rendimento das cadernetas depois
de aplicados os novos índices
com o que foi pago pelos bancos
nos CDBs (Certificados de Depósito Bancário).
A conclusão é que só houve
perda no plano Collor 1. A outra
grande preocupação do BC é
com o risco sistêmico, pois considera que o impacto dessas
ações pode levar à quebra de
grandes bancos, entre eles a
Caixa Econômica Federal.
As estimativas das perdas
dos poupadores variam de R$
29 bilhões a R$ 120 bilhões.
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