São Paulo, quarta-feira, 25 de agosto de 2004

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GOVERNO

Petista aponta "falta de coragem" para ter mudado rumos da economia em ano eleitoral; ex-presidente evita comentar

No Chile, Lula critica política cambial de FHC

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTIAGO DO CHILE

Pouco antes de deixar Santiago (Chile) ontem para seguir até Quito (Equador), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a política econômica do governo de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso.
Sem citá-lo nominalmente, Lula fez alusão ao que definiu como falta de "coragem" de FHC para ter mudado os rumos da economia quando isso contrariava interesses em ano eleitoral.
Lula fazia uma referência ao ano de 1998, quando FHC era candidato à reeleição e deixou de desvalorizar o real -segundo a oposição na época, a moeda foi mantida sobrevalorizada para beneficiar a candidatura de FHC, que acabou reeleito.
"O Brasil, durante muitos anos, viveu subordinado a duas moedas que não eram reais. O real nunca valeu um dólar, e o peso [moeda argentina que ficou atrelada ao dólar por lei] nunca valeu um dólar", disse Lula, ao comentar a relação do país no Mercosul.
"Portanto, a falta de iniciativa para mudar a política cambial no momento certo fez com que um país do tamanho do Brasil acumulasse durante muitos anos seguidos um déficit comercial sem precedentes na nossa história. E não foi por falta de aviso. Quando se trata de política econômica, muitos governantes não têm a coragem de fazer as mudanças no tempo certo se a política econômica estiver rendendo algum dividendo eleitoral", acrescentou.
Curiosamente, ele fez tal comentário poucos minutos depois de ter citado FHC como um de seus amigos que receberam acolhida no Chile durante o regime militar brasileiro (1964-85).
"O Chile tem significado especial para nós, brasileiros. No momento mais difícil da história política do Brasil, em que muitos jovens não puderam fazer política, foi o Chile que abriu suas portas e estendeu as mãos para que os brasileiros pudessem encontrar um pouco de tranqüilidade."
Lula continuou: "Está certo que não foi tão duradoura essa tranqüilidade, mas não deixou de ser importante. Por aqui [Chile], passaram o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e vários companheiros que fazem parte do governo, como meu assessor especial Marco Aurélio Garcia, que aqui lecionou por três anos".
Lula disse ainda que seu governo está "reconstruindo" o Mercosul. "Com todas as fragilidades que ainda temos, achamos que está sendo reconstruído do ponto de vista político." Em diversos momentos, Lula defendeu a unidade do Mercosul como essencial para aumentar as exportações e para ser "tão duro quanto os EUA" ao defender seus interesses nas negociações comerciais. "É o que mais admiro neles." Lula fez essas declarações durante o seminário "Como fazer negócios com o Brasil". Cerca de 400 empresários chilenos compareceram.
A assessoria de comunicação do Instituto Fernando Henrique Cardoso, que intermedeia o contato entre os assessores do ex-presidente e os órgãos de imprensa, informou ontem que ele não comenta as declarações de Lula.


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