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OPINIÃO ECONÔMICA
Teoria da conspiração?
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
Não costumo fazer autocitações, mas um leitor me
enviou a seguinte passagem, que
considerou profética, retirada de
artigo publicado nesta coluna em
novembro de 2004, logo depois da
derrota eleitoral de Marta Suplicy:
"Ilude-se (...) quem imagina
que o atual presidente da República será apoiado pelos centros
nacionais e internacionais de poder em 2006. Lula foi aceito em
2002 porque não havia outro remédio. O próprio candidato da
situação, José Serra, não era o nome ideal para assegurar a continuação da agenda econômica e
internacional do período FHC.
Em 2006, entretanto, as elites dispõem de mais de uma alternativa
potencialmente competitiva para
enfrentar Lula. E farão tudo para
derrotá-lo e eleger algum nome
do PSDB. Evidentemente, a operação será ainda maior do que a
que destronou Marta em 2004"
("Nobreza natural", Folha, 11 de
novembro de 2004).
Teoria da conspiração? Permita-me, leitor, uma breve e acaciana observação sobre esse assunto.
O poder econômico e político
nem sempre é exercido de forma
transparente. Freqüentemente, é
mais eficaz operar de modo opaco. Nesses momentos, sempre que
alguém tenta comentar ou desvendar manobras de bastidores,
logo aparece uma legião de políticos, economistas e jornalistas,
em atitude pseudo-sofisticada, a
tentar ridicularizar supostas teorias conspiratórias.
Nunca fui simpatizante do governo Lula. Só consegui elogiar a
condução das negociações comerciais externas (Alca, Mercosul-União Européia, acordos Sul-Sul, OMC). A política econômica,
continuísta e acovardada, sempre me desagradou.
E, no entanto, a bem da justiça,
cabem algumas perguntas. O sistema político-eleitoral brasileiro
é ou não é intrinsecamente corrupto? Algum governo brasileiro
resistiria a uma investigação da
envergadura da que está sendo
feita no momento? Algum dos
principais partidos políticos resistiria a uma investigação como
essa?
Obviamente, nada disso desculpa os erros e crimes de integrantes do atual governo, do PT
ou de outros partidos da base governista. E volto a escrever algo
que já escrevi aqui (para indignação furiosa de vários lulistas):
se aparecerem evidências claras e
inapeláveis de envolvimento do
presidente Lula com crimes e irregularidades, quem se animará
a ser contra o impeachment?
Em toda essa confusão, o grande objetivo dos setores dominantes das elites brasileiras e seus
aliados no exterior é preservar a
política econômico-financeira,
isto é, blindar o Ministério da Fazenda e o Banco Central. Não por
acaso, o presidente da República
reitera constantemente que a política econômica será mantida,
custe o que custar. Lula quer ser
poupado.
CPIs (ainda mais três!) são
muito difíceis de controlar. Mas,
se os donos do poder puderem,
tentarão levar Lula, desgastado e
enfraquecido, até o fim do seu
mandato. Afinal, por que derrubariam um governo que é, agora
mais do que nunca, basicamente
inofensivo e não ameaça os seus
interesses fundamentais? O impeachment não lhes interessa.
Tanto mais que o vice-presidente
da República, como se sabe, é um
crítico vigoroso da atual política
econômica.
A crise política já produziu os
efeitos que eles poderiam desejar.
A cada dia que passa, diminuem
as chances de Lula se reeleger. Se
ainda conseguir, chegará ao segundo mandato enquadrado e
domesticado.
Mesmo assim, não tenha dúvida, leitor: tudo se fará para favorecer a eleição de um tucano confiável, claramente comprometido
com a preservação da agenda
econômica e capaz de executá-la
com mais autenticidade e possivelmente mais competência.
Teoria da conspiração?
Paulo Nogueira Batista Jr., 50, economista e professor da FGV-EAESP, escreve
às quintas-feiras nesta coluna. É autor
do livro "O Brasil e a Economia Internacional: Recuperação e Defesa da Autonomia Nacional" (Campus/Elsevier, 2005).
E-mail -
pnbjr@attglobal.net
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