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TRIBUTOS
Governo sofre nova derrota; valores de receita para microempresas dobram e energia para casas terá menos imposto
Câmara amplia benefícios da "MP do Bem"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em nova derrota legislativa do
governo, a Câmara dos Deputados aprovou ontem o texto que
multiplica o número de empresas
consideradas de pequeno porte e,
nessa condição, com direito a benefícios tributários. Foi reduzida
ainda a tributação sobre a energia
elétrica para residências, para o
setor rural e para iluminação pública.
As regras foram incluídas na
medida provisória batizada de
"MP do Bem". A perda de receita
com a primeira é calculada em R$
1,7 bilhão ao ano, e a segunda, em
R$ 600 milhões -além de queda
de até 2% nas tarifas. No texto original da MP, esperava-se renúncia
fiscal de R$ 3,3 bilhões em 2006.
Em votação quase unânime
(330 votos a favor, 20 contra e
uma abstenção), foram dobrados
os limites para o enquadramento
no Simples -sistema que substitui seis tributos federais por um
único, com alíquota variando de
3% a 8,6%, dependendo do setor e
do porte da empresa.
Limites dobrados
Pela alteração aprovada, são
consideradas microempresas
aquelas com receita bruta anual
de até R$ 240 mil, e pequenas, até
R$ 2,4 milhões. Os limites atuais
(R$ 120 mil e R$ 1,2 milhão, respectivamente) não são alterados
desde a implantação do Simples,
em 1997, e a correção dos valores é
uma das principais bandeiras do
lobby empresarial.
Desde que a MP chegou ao Congresso, em junho, as entidades representativas das empresas de pequeno porte pressionavam para
incluir a revisão do Simples entre
os benefícios tributários criados
pela medida.
Um entendimento com o governo, porém, levou o relator da
MP, Custódio Mattos (PSDB-MG), a não prever a vantagem em
seu texto, aprovado anteontem
pela Câmara.
Pelo acerto, o tema seria discutido em outro projeto que tramita
no Congresso, a Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, também relatado por um tucano, Luiz
Carlos Hauly (PR). Outra hipótese era a edição de uma MP específica para o Simples. No entanto,
os tucanos decidiram apresentar
ontem a proposta na votação dos
pedidos de modificação da "MP
do Bem".
Sabia-se que, numa análise
aberta da proposta, os deputados
a aprovariam -o lobby das microempresas é um dos mais poderosos no Congresso. Quando viram que a derrota seria inevitável,
os governistas -PT, PC do B e
PTB- mudaram a orientação de
votos da bancada e acompanharam a oposição. Mesmo depois de
proclamado o resultado, alguns
dos poucos deputados contrários
pediram que seus votos fossem
retificados.
Benefícios ampliados
O resultado elevou a tensão entre os aliados ao Planalto e a oposição. O líder do governo, Arlindo
Chinaglia (SP), ausente no início
da votação, acusou os tucanos de
descumprirem um acordo, criticou a orientação de sua bancada e
anunciou que o governo não se
comprometerá com o texto aprovado -poderá tentar derrubá-lo
no Senado ou vetá-lo.
O líder do PSDB, Alberto Goldman (SP), disse que não havia
acordo fechado. Poucos minutos
antes, acontecia no Ministério da
Fazenda uma negociação sobre o
Simples.
O secretário da Receita Federal
do Brasil, Jorge Rachid, chegou a
telefonar para Goldman durante a
votação, mas não foi atendido. "É
tarde", disse o tucano.
Com o tumulto, a sessão foi interrompida, não sem antes os deputados aprovarem a proposta do
governista PL para beneficiar o
setor elétrico.
O Planalto já havia aceitado a
ampliação dos benefícios da "MP
do Bem", concebida originalmente para desonerar os investimentos feitos por empresas exportadoras -e que também alcançava
o setor imobiliário, a previdência
privada, inclusão digital e inovação tecnológica e empresas de regiões pobres.
Na Câmara, o rol dos beneficiados passou a englobar setores tão
diferentes como energia elétrica,
laticínios, taxistas e jóias e embalagens de frutas para exportação.
Em compensação, a Receita conseguiu incluir no texto medidas
para combater o planejamento
tributário e elevar a arrecadação.
(GUSTAVO PATU)
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