São Paulo, sexta-feira, 25 de agosto de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Desemprego sobe e é o maior em 15 meses

Indicador do IBGE contraria expectativa para o início do segundo semestre e atinge 10,7% em julho, maior marca desde abril de 2005

Pela primeira vez no ano, renda do trabalhador teve queda; para instituto, aumento da demanda por vagas pressionou índice


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Na contramão das expectativas e do seu padrão histórico, a taxa de desemprego começou o segundo semestre em alta: bateu em 10,7% em julho, na maior marca desde abril 2005 (10,8%), segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Outra má notícia foi a queda de 0,7% no rendimento de junho para julho (R$ 1.028,50), na primeira retração desde janeiro deste ano.
Com mais gente à procura de trabalho, o contingente de pessoas desocupadas nas seis principais regiões metropolitanas do país atingiu 2,430 milhões, retornando ao patamar de desempregados registrado em julho de 2004 (2,442 milhões).
De acordo com Cimar Azeredo Pereira, gerente da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, o mercado de trabalho frustrou as expectativas, a julgar pelo comportamento passado da taxa de desemprego, que sempre recua no segundo semestre, quando aumenta a oferta de postos de trabalho.
"O mercado de trabalho está menos favorável do que em junho. Esperávamos neste ano que a desocupação fosse ceder a partir de maio. Só que isso não aconteceu. Há uma pressão muito grande de entrada no mercado, e essa demanda não consegue ser atendida pelos postos criados", disse Pereira.
De junho para julho, foram abertos 84 mil postos de trabalho (+0,4%). A geração de vagas, porém, foi insuficiente para cobrir o aumento de 174 mil pessoas na População Economicamente Ativa (inclui quem está empregado ou em busca de trabalho). Neste ano, o desemprego não cedeu na comparação mensal nenhuma vez. De janeiro a julho, a taxa média de desocupação ficou em 10,2%, mesma marca dos sete primeiros meses de 2005.
Uma das hipóteses para a maior busca por emprego, segundo ele, é o calendário eleitoral, que aquece a procura por trabalho. Em tese, não há tanto emprego neste pleito por causa das regras mais restritivas à campanha.
Já Marcelo de Ávila, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), diz acreditar que a recuperação do rendimento nos últimos meses acabou atraindo mais pessoas para o mercado de trabalho, que antes relutavam em procurar um emprego.
"O mercado de trabalho está inchando muito rápido e mais cedo do que em outros anos. A perspectiva de se empregar com uma renda mais alta pode estar trazendo pessoas da inatividade", afirmou.
Para Fábio Romão, da LCA, os trabalhadores estão "vislumbrando uma possibilidade maior de se empregar" agora, o que inflou o mercado de trabalho e pressionou a taxa de desemprego. O economista também acredita no efeito das eleições -a hipótese, porém, é menos provável, afirma.
Uma outra explicação, diz Pereira, é a redução, ainda que pontual, do rendimento, de junho para julho. Tal fenômeno, segundo ele, pode ter levado mais pessoas de uma mesma família a procurar trabalho com o objetivo de complementar o orçamento familiar.
Na avaliação de Ávila, do Ipea, não há no cenário macroeconômico justificativa para o fraco desempenho do mercado de trabalho, já que as políticas fiscal e monetária são "expansionistas" -ou seja, gasto em alta e juros em baixa.


Texto Anterior: Mercado aberto
Próximo Texto: Luiz Carlos Mendonça de Barros: Opções para a sangria de dólares
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.