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Rentabilidade de bancos no país supera a dos EUA
Taxa de retorno no país é de 21,7% nos balanços de junho, e, nos EUA, de 8,9%
Estudo da Economática mostra que crise no setor imobiliário nos EUA não respingou nas instituições financeiras brasileiras
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
A crise financeira nos Estados Unidos fez com que a rentabilidade dos bancos brasileiros fosse mais que duas vezes a
registrada pelos bancos norte-americanos no primeiro semestre deste ano. Os bancos
brasileiros registraram rentabilidade de 21,7% em seus balanços de 30 de junho, e os
americanos, de 8,9%.
Se forem levados em conta os
quatro maiores bancos tanto
do Brasil quanto dos Estados
Unidos, a diferença aumenta. A
rentabilidade dos principais
bancos brasileiros no primeiro
semestre deste ano, de 28,5%, é
praticamente quatro vezes a
dos americanos, de 7,1%.
Os quatro maiores bancos
brasileiros são o Itaú (rentabilidade de 30%), o Unibanco
(30%), o Banco do Brasil (27%)
e o Bradesco (26,5%). Já os
americanos são o Goldman
Sachs (23,2%), o JP Morgan
Chase (8,5%), o Bank of America (5,8%) e o Citigroup (-11,5%).
O estudo com a comparação
do desempenho dos bancos
brasileiros e americanos foi feito pela consultoria Economática e levou em conta a rentabilidade média dos balanços publicados por 23 instituições no
Brasil e 81 nos EUA no primeiro semestre deste ano.
Uma curiosidade é que, do final de 2002 até o primeiro semestre deste ano, portanto durante os cinco anos e meio do
governo Lula, a rentabilidade
dos bancos brasileiros saltou de
12,4% para 21,7%. Já entre os
bancos nos EUA, nesse mesmo
período, a rentabilidade caiu de
15,7% para 8,9%.
Segundo o economista Fernando Exel, presidente da Economática, a primeira conclusão
do estudo é que a crise do "subprime" (as hipotecas imobiliárias de alto risco) dos EUA, que
já dura um ano e afetou a saúde
das instituições americanas,
não respingou no país.
A razão da blindagem dos
bancos brasileiros ao efeito
"subprime", na opinião de Exel,
deve-se ao fato de o volume de
crédito imobiliário ser ainda
muito pequeno, principalmente em comparação aos EUA.
O maior risco para o Brasil
não é o do "subprime" mas de a
crise de desaquecimento global
atingir mais fortemente o país.
Mesmo assim, não será um
problema no setor imobiliário,
e sim uma crise global.
Apesar de a crise do "subprime" nos EUA ser a principal
responsável pelo fato de os
bancos brasileiros ganharem
mais do que os americanos neste ano, não se pode dizer que isso se trata de uma novidade. De
acordo com a Economática,
tem sido assim nos últimos três
anos. A crise do "subprime"
apenas ampliou essa diferença.
"Se compararmos o desempenho dos quatro maiores bancos no Brasil e nos EUA, sempre demos uma surra neles."
Concentração e juros
Segundo Exel, dois fatores
explicam o fato de os ganhos
dos bancos brasileiros superarem os dos americanos. Em primeiro lugar, a maior concorrência nos EUA. O Brasil é um
dos países com maior concentração bancária do mundo.
Outro fator é o juro alto, modalidade na qual o Brasil tem sido imbatível nos últimos anos.
O juro elevado também abre espaço para que os bancos elevem
os "spreads", a diferença entre
o valor do dinheiro captado e o
cobrado, o que faz com que a lucratividade seja maior.
Num país com uma taxa básica de juro de 2%, como no caso
dos EUA, torna-se difícil para
os bancos cobrarem "spreads"
muito elevados. Já no Brasil,
onde a taxa básica de juro atinge 13%, é mais fácil para os bancos aumentarem os "spreads".
O ex-deputado federal Delfim Netto afirma que os bancos
brasileiros ganham muito porque o Banco Central proporciona condições para isso. A seu
ver, a alta rentabilidade do sistema bancário brasileiro se deve a mecanismos monetários
adotados no país.
"O banco age com a racionalidade de qualquer cidadão ao
procurar maximizar seu lucro,
mas sempre dentro da lei", diz.
Para Delfim, o problema tem
origem nos mecanismos de financiamento da dívida interna
no país, que obriga o Brasil a ter
uma das mais elevadas taxas de
juro do mundo. "O juro no país
é um erro de política monetária
que o Banco Central continua
alimentando", diz Delfim.
Já o economista e ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola, sócio da Tendências
Consultoria, discorda. Ele diz
que, no Brasil, os "spreads" são
elevados não por causa do juro
alto, mas em razão da elevada
carga tributária e dos altos custos administrativos.
Loyola também não acha que
o Brasil é um dos países com
maior concentração bancária
do mundo. Nos países europeus, diz ele, a situação se repete: são poucos grandes bancos.
Nos Estados Unidos, há um número significativo de instituições financeiras, mas, em sua
maioria, são bancos regionais.
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