São Paulo, quarta-feira, 25 de setembro de 2002

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Dólar alto não tem base real, afirma FHC

LEILA SUWWAN
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem, quando o dólar chegou a superar R$ 3,80, que a disparada do câmbio não tem "base na realidade" nem ligação com a economia real do país. Com pequeno recuo, o dólar fechou a R$ 3,78.
Em discurso no Planalto, FHC atribuiu a especulação a fatores "externos e internos", mas não comentou o efeito das eleições no câmbio. As pesquisas indicam a possibilidade de vitória do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda no primeiro turno.
"Nada disso, naturalmente, justifica a especulação dos dias que correm. Essa [alta do câmbio" não tem base na realidade. Não tem nada a ver com a economia real, não tem nada a ver com o estado das contas publicas", disse FHC, depois de explicar que o câmbio ajudou o país a substituir importações e reduzir o déficit nas contas externas.
"Isso [a especulação" tem a ver com outros fatores, de outra natureza, externos e internos, e que não estão ligados ao processo produtivo" explicou.
Depois, o porta-voz da Presidência, Alexandre Parola, disse que "o presidente reitera o entendimento de que a alta do dólar é passageira e reafirma que as variáveis fundamentais da economia são sólidas. O presidente não tem, portanto, nenhuma dúvida de que as metas acordadas com o Fundo serão cumpridas".
Mais cedo, em ato de condecoração do hexacampeão de iatismo, Robert Scheidt, FHC não quis falar sobre o dólar. Questionado por jornalistas, respondeu: "Esse não é o meu esporte".

Equipe econômica
Integrantes da equipe econômica avaliam que as declarações do candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, sobre a não-manutenção de Armínio Fraga no comando do Banco Central em um eventual governo petista foram o fator adicional que levou ao acirramento do nervosismo do mercado ontem.
Para assessores do ministro Pedro Malan, a manutenção de Fraga seria um sinal para dar tranquilidade ao mercado. Eles ponderam, entretanto, que o futuro presidente tem o direito de escolher quem estará à frente do BC.
Além do componente político, integrantes da equipe econômica avaliam que três fatores provocaram o novo recorde do dólar.
O primeiro seria o resgate de papéis com correção cambial a ser realizado hoje pelo governo. Para garantir lucro maior, detentores desses títulos pressionaram a cotação do dólar nos últimos dias. Quanto mais alto o câmbio estiver, mais eles ganharão no momento da liquidação dos títulos.
Outro motivo foi o pessimismo que contaminou parte do mercado. Essas pessoas, na avaliação de integrantes da área econômica, não acreditam que o dólar vá ceder nos próximos meses e acham que agora é o momento de comprar a moeda estrangeira e de remeter lucros para o exterior.
Por último, há o cenário externo desfavorável, com risco de guerra entre os EUA e o Iraque e o fraco desempenho das economias dos Estados Unidos e do Japão.

Calma
O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, disse que o governo está "trabalhando para acalmar mercado". Em entrevista ao "Jornal Nacional", da TV Globo, Armínio afirmou que intervir no mercado de câmbio é um complemento do que já vem sendo feito.
Também no "JN", o ministro Pedro Malan (Fazenda) disse que este é o momento de os candidatos à Presidência da República reafirmarem seu compromisso de manter os principais parâmetros da atual política econômica.
Sem citar nomes, Malan endereçou o recado "aos candidatos que acham que podem ganhar as eleições", em referência implícita a Lula, líder nas pesquisas.


Colaborou a Sucursal de Brasília

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