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Dólar alto não tem base real, afirma FHC
LEILA SUWWAN
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem, quando o dólar chegou a superar R$
3,80, que a disparada do câmbio
não tem "base na realidade" nem
ligação com a economia real do
país. Com pequeno recuo, o dólar
fechou a R$ 3,78.
Em discurso no Planalto, FHC
atribuiu a especulação a fatores
"externos e internos", mas não
comentou o efeito das eleições no
câmbio. As pesquisas indicam a
possibilidade de vitória do candidato Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) ainda no primeiro turno.
"Nada disso, naturalmente, justifica a especulação dos dias que
correm. Essa [alta do câmbio" não
tem base na realidade. Não tem
nada a ver com a economia real,
não tem nada a ver com o estado
das contas publicas", disse FHC,
depois de explicar que o câmbio
ajudou o país a substituir importações e reduzir o déficit nas contas externas.
"Isso [a especulação" tem a ver
com outros fatores, de outra natureza, externos e internos, e que
não estão ligados ao processo
produtivo" explicou.
Depois, o porta-voz da Presidência, Alexandre Parola, disse
que "o presidente reitera o entendimento de que a alta do dólar é
passageira e reafirma que as variáveis fundamentais da economia são sólidas. O presidente não
tem, portanto, nenhuma dúvida
de que as metas acordadas com o
Fundo serão cumpridas".
Mais cedo, em ato de condecoração do hexacampeão de iatismo, Robert Scheidt, FHC não quis
falar sobre o dólar. Questionado
por jornalistas, respondeu: "Esse
não é o meu esporte".
Equipe econômica
Integrantes da equipe econômica avaliam que as declarações do
candidato do PT à Presidência,
Luiz Inácio Lula da Silva, sobre a
não-manutenção de Armínio
Fraga no comando do Banco
Central em um eventual governo
petista foram o fator adicional
que levou ao acirramento do nervosismo do mercado ontem.
Para assessores do ministro Pedro Malan, a manutenção de Fraga seria um sinal para dar tranquilidade ao mercado. Eles ponderam, entretanto, que o futuro
presidente tem o direito de escolher quem estará à frente do BC.
Além do componente político,
integrantes da equipe econômica
avaliam que três fatores provocaram o novo recorde do dólar.
O primeiro seria o resgate de papéis com correção cambial a ser
realizado hoje pelo governo. Para
garantir lucro maior, detentores
desses títulos pressionaram a cotação do dólar nos últimos dias.
Quanto mais alto o câmbio estiver, mais eles ganharão no momento da liquidação dos títulos.
Outro motivo foi o pessimismo
que contaminou parte do mercado. Essas pessoas, na avaliação de
integrantes da área econômica,
não acreditam que o dólar vá ceder nos próximos meses e acham
que agora é o momento de comprar a moeda estrangeira e de remeter lucros para o exterior.
Por último, há o cenário externo
desfavorável, com risco de guerra
entre os EUA e o Iraque e o fraco
desempenho das economias dos
Estados Unidos e do Japão.
Calma
O presidente do Banco Central,
Armínio Fraga, disse que o governo está "trabalhando para acalmar mercado". Em entrevista ao
"Jornal Nacional", da TV Globo,
Armínio afirmou que intervir no
mercado de câmbio é um complemento do que já vem sendo feito.
Também no "JN", o ministro
Pedro Malan (Fazenda) disse que
este é o momento de os candidatos à Presidência da República
reafirmarem seu compromisso de
manter os principais parâmetros
da atual política econômica.
Sem citar nomes, Malan endereçou o recado "aos candidatos
que acham que podem ganhar as
eleições", em referência implícita
a Lula, líder nas pesquisas.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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