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Dólar e consumo baixo fazem elétricas atrasar R$ 2,2 bi
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Pressionadas pela alta do dólar,
pela maior inadimplência e pela
queda no consumo desde o início
do racionamento, as distribuidoras de energia acumulam uma dívida de ao menos R$ 2,2 bilhões
com as geradoras. O valor é referente a contas de fornecimento
que estão em atraso -algumas
delas há mais de dez anos.
É o que revela levantamento exclusivo feito pela Folha com as
cinco maiores geradoras do país.
Proporcionalmente, a pior situação é da estatal federal Eletronorte, subsidiária da Eletrobrás.
Três distribuidoras -as únicas
privadas na região a que ela atende- têm faturas em atraso que
somam R$ 290 milhões.
Estão em débito a Cemar (R$
110 milhões), que sofre intervenção da Aneel (Agência Nacional
de Energia Elétrica), a Celpa e a
Celtins -ambas controladas pelo
privado Grupo Rede, cuja dívida é
de R$ 90 milhões. Também deve a
companhia a estatal CEA (R$ 90
milhões), do Amapá.
A dívida mais elevada, no entanto, é a que distribuidoras têm
com a maior geradora do país.
Furnas, também subsidiária da
Eletrobrás, tem contas em atraso
no valor de R$ 1,2 bilhão.
Entre as empresas de geração
consultadas, apenas duas não sofrem com a inadimplência de seus
clientes: a estatal paulista Cesp e a
federal Chesf (Nordeste).
A alta do dólar é uma das principais razões para a inadimplência.
"Quase todas as distribuidoras
não estão pagando a energia de
Itaipu", disse o diretor financeiro
de Furnas, Márcio Nunes.
É Furnas que comercializa a
energia de Itaipu, cotada em dólar. Da dívida total com Furnas,
R$ 300 milhões são referentes à
energia da usina.
O preço da energia ao consumidor também sofre reajuste pelo
dólar só uma vez por ano. As concessionárias, porém, podem pedir
um aumento extraordinário por
causa desse custo excepcional.
Outro problema é que o consumo não se recuperou desde o fim
do racionamento, ao contrário do
esperado. No caso da Light, por
exemplo, a queda é de 15%. A redução levou a empresa a acumular débitos de R$ 88 milhões com
Furnas, o maior entre as devedoras privadas. Segundo a Light, a
dívida foi quitada na sexta-feira.
"Não é um privilégio da Light.
Existem empresas que têm dívidas maiores", disse na semana
passada à Folha o diretor financeiro da companhia, Paulo Roberto Ribeiro Pinto.
Segundo Ribeiro Pinto, a inadimplência dos clientes também
têm crescido, dificultando ainda
mais a situação das companhias.
É um efeito em cascata, disse.
Também sofre com a inadimplência a única grande geradora
privada do país, a Tractebel -antiga Eletrosul, comprada pela holding belga de mesmo nome atual.
Duas distribuidoras devem, juntas, à empresa R$ 750 milhões: a
goiana Celg (R$ 200 milhões) e a
alagoana Ceal (R$ 550 milhões).
A estatal Celg, que está sendo federalizada para depois ser privatizada, é a recordista em dívidas. Os
débitos com geradoras chegam a
R$ 800 milhões. Segundo Furnas,
que tem R$ 600 milhões a receber,
a empresa atrasa os pagamentos
desde agosto de 2000.
A CEA paga irregularmente à
Eletronorte há dez anos. Já a CEB
(DF) tem com Furnas uma dívida
de R$ 250 milhões acumulada
desde janeiro de 2001.
Segundo a Folha apurou, algumas empresas já aceitaram usar
parte do crédito do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social), dado para
compensar as perdas com o racionamento, para saldar dívidas.
Privadas
Furnas informou na semana
passada que tem R$ 27 milhões a
receber da paulista CPFL, que diz
não estar inadimplente pois tem
15 dias de carência pelas regras do
contrato com a geradora.
A CPFL diz que devido à volatilidade do dólar, tem optado por
pagar fora do prazo, mas dentro
do limite contratual, conseguindo
taxas de câmbio mais favoráveis.
Procurado, o Grupo Rede não
respondeu aos recados deixados
pela reportagem.
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