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São Paulo, quinta-feira, 25 de setembro de 2003

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LUÍS NASSIF

O Avança Brasil, segundo Bresser

No sábado, publiquei uma coluna com críticas de Eliezer Batista à condução do programa Avança Brasil. Na terça, a defesa por seu autor, José Paulo Silveira. Hoje, publico e-mail do ex-ministro da Administração Luiz Carlos Bresser Pereira:
"Não creio que a resposta dada por José Paulo Silveira, idealizador e coordenador do programa Avança Brasil, às críticas feitas por Eliezer Batista seja convincente.
Eliezer faz três críticas, que você apresenta em seu artigo de 20 de setembro. O primeiro erro "foi trocar a visão federativa pela visão regionalizada -pensar regiões em vez de Estados- e a visão econômica pela visão interdisciplinar -tentando focar simultaneamente aspectos econômicos, sociais, tecnológicos'; o segundo foi "amarrar os investimentos privados à perspectiva de novos investimentos públicos, e não ao que já existia'; e o terceiro, "sem atentar para as diferenças entre os países e para a lógica econômica dos projetos". Paulo Silveira, conforme seu artigo, deu explicações financeiras para o fracasso. Limitações financeiras sempre existem para grandes projetos de investimento.
O programa Avança Brasil, lançado em 1996, não foi "a melhor contribuição conceitual à inovação da gestão pública", mas, sem dúvida, foi uma notável contribuição gerencial à reforma da gestão pública, que foi iniciada em 1995, enquanto selecionava 42 projetos prioritários e lhes dava uma gerencial matricial, por meio de ministérios. Era uma excelente aplicação da gestão pela qualidade, que foi a estratégia gerencial utilizada na reforma, promovida por um servidor público de alto nível, responsável pelas primeiras experiências de gestão pela qualidade no governo brasileiro.
O desastre com o programa aconteceu no segundo governo FHC, quando ele, na prática, deixou de ser gerencial e se tornou burocrático. O Ministério do Planejamento caiu na síndrome burocrática da racionalidade perfeita e abrangente. O programa foi incorporado ao Plano Plurianual: de 42, passou para cerca de 380 projetos, quase todos do governo federal. O programa deixou de ser gerencial, porque só se gerencia uma iniciativa que pode ser efetivamente administrada, controlada. O governo federal já tem enorme dificuldade de controlar hierarquicamente as mais de 300 organizações a ele subordinadas; controlar matricialmente mais 380 projetos era uma tarefa impossível. Em 1999, adverti Silveira sobre o erro em que estava incidindo, mas ele estava tão entusiasmado com a perspectiva de estender seu método a todo o governo federal que não ouviu.
O erro foi, portanto, administrativo. E um erro administrativo é um erro estratégico. Os erros estratégicos a que se referem Eliezer estão intimamente relacionados com um problema de método ou de abordagem".
  Nota: essa mesma visão é compartilhada pelo secretário de Gestão do Ministério do Planejamento, Humberto Falcão Martins, que aponta que o PPA foi trabalhado na visão do engenheiro, que vê tudo a partir de projetos, quando era um desafio administrativo.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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