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LUÍS NASSIF
O Avança Brasil, segundo Bresser
No sábado, publiquei
uma coluna com críticas
de Eliezer Batista à condução
do programa Avança Brasil.
Na terça, a defesa por seu autor, José Paulo Silveira. Hoje,
publico e-mail do ex-ministro
da Administração Luiz Carlos
Bresser Pereira:
"Não creio que a resposta dada por José Paulo Silveira,
idealizador e coordenador do
programa Avança Brasil, às
críticas feitas por Eliezer Batista seja convincente.
Eliezer faz três críticas, que
você apresenta em seu artigo
de 20 de setembro. O primeiro
erro "foi trocar a visão federativa pela visão regionalizada
-pensar regiões em vez de Estados- e a visão econômica
pela visão interdisciplinar
-tentando focar simultaneamente aspectos econômicos, sociais, tecnológicos'; o segundo
foi "amarrar os investimentos
privados à perspectiva de novos investimentos públicos, e
não ao que já existia'; e o terceiro, "sem atentar para as diferenças entre os países e para a
lógica econômica dos projetos".
Paulo Silveira, conforme seu
artigo, deu explicações financeiras para o fracasso. Limitações financeiras sempre existem para grandes projetos de
investimento.
O programa Avança Brasil,
lançado em 1996, não foi "a melhor contribuição conceitual à
inovação da gestão pública",
mas, sem dúvida, foi uma notável contribuição gerencial à
reforma da gestão pública, que
foi iniciada em 1995, enquanto
selecionava 42 projetos prioritários e lhes dava uma gerencial matricial, por meio de ministérios. Era uma excelente
aplicação da gestão pela qualidade, que foi a estratégia gerencial utilizada na reforma,
promovida por um servidor
público de alto nível, responsável pelas primeiras experiências de gestão pela qualidade
no governo brasileiro.
O desastre com o programa
aconteceu no segundo governo
FHC, quando ele, na prática,
deixou de ser gerencial e se tornou burocrático. O Ministério
do Planejamento caiu na síndrome burocrática da racionalidade perfeita e abrangente. O
programa foi incorporado ao
Plano Plurianual: de 42, passou para cerca de 380 projetos,
quase todos do governo federal.
O programa deixou de ser gerencial, porque só se gerencia
uma iniciativa que pode ser
efetivamente administrada,
controlada. O governo federal
já tem enorme dificuldade de
controlar hierarquicamente as
mais de 300 organizações a ele
subordinadas; controlar matricialmente mais 380 projetos
era uma tarefa impossível. Em
1999, adverti Silveira sobre o
erro em que estava incidindo,
mas ele estava tão entusiasmado com a perspectiva de estender seu método a todo o governo federal que não ouviu.
O erro foi, portanto, administrativo. E um erro administrativo é um erro estratégico. Os
erros estratégicos a que se referem Eliezer estão intimamente
relacionados com um problema de método ou de abordagem".
Nota: essa mesma visão é
compartilhada pelo secretário
de Gestão do Ministério do
Planejamento, Humberto Falcão Martins, que aponta que o
PPA foi trabalhado na visão do
engenheiro, que vê tudo a partir de projetos, quando era um
desafio administrativo.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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