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NEGÓCIOS
Gerentes, mais próximos do dia-a-dia, participam pouco de definições de estratégia, aponta pesquisa de consultoria
Empresas brasileiras concentram decisões
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
As decisões no Brasil ainda são
bastante concentradas no topo
das companhias. Os gerentes participam pouco da formulação de
estratégia das empresas, apesar de
serem os principais responsáveis
pela sua execução.
A conclusão consta de pesquisa
realizada pela consultoria Symnetics, líder em projetos de gestão da
estratégia na América Latina. Para a realização do trabalho, foram
ouvidos 150 executivos e colaboradores de 107 empresas no Brasil
com faturamento superior a
R$ 50 milhões anuais no primeiro
trimestre deste ano.
O resultado completo do estudo
será apresentado em evento que
acontece entre os dias 28 e 30 no
Costão do Santinho, em Santa Catarina, com a participação do guru norte-americano David Norton, criador do Balanced Scorecard, apontado pela "Harvard Business Review" como uma das
mais influentes ferramentas de
gestão desenvolvidas nos últimos
70 anos e que hoje é utilizada por
mais de 50% das empresas listadas na "Fortune 1000".
A pesquisa da Symnetics mostra, entre outros resultados, que,
enquanto 83% dos diretores participam da definição de prioridades estratégicas nas empresas,
apenas 50% dos gerentes se envolvem nessa discussão.
O mesmo acontece na definição
dos processos de implantação de
novos produtos. Mais de 80% dos
diretores participam das decisões
nesse campo, enquanto apenas
47% dos gerentes são convidados
a opinar sobre o assunto. Os diretores (73%) também comandam
as questões relativas a novos negócios, enquanto só 53% dos gerentes são consultados.
O consultor Reinaldo Manzini,
diretor da Symnetics e coordenador da pesquisa, considera um
absurdo apenas um grupo restrito
de pessoas discutir a estratégia da
empresa. O grande problema, a
seu ver, é que são aquelas pessoas
que conhecem o chão de fábrica
que sabem se uma determinada
decisão terá ou não sucesso em
sua implementação.
A concentração das decisões de
uma empresa no topo de sua administração, no entanto, não é
um privilégio do Brasil. Trata-se
de uma prática comum do mundo ocidental. Segundo Manzini, a
grande maioria das empresas,
principalmente no continente
americano, promove essa diferenciação cartesiana entre o pensar e o fazer, em que uma cúpula
privilegiada discute a estratégia e
um outro grupo cuida de sua implementação. No mundo oriental,
Manzini diz que não é assim que
funciona. O pensar e o fazer são
feitos de maneira mais integrada.
O consultor prefere não dar
exemplos de empresas centralizadas, mas diz que a maioria delas
segue o verificado pela pesquisa.
Citou, por exemplo, a Petrobras,
na qual, segundo ele, as grandes
linhas são dadas pela diretoria.
O presidente da Petrobras, José
Sérgio Gabrielli, não concorda
que as decisões da estatal sejam
centralizadas. Segundo ele, o modelo de governança corporativa
adotado pela Petrobras procura
envolver os mais diversos níveis
hierárquicos da empresa.
Gabrielli chama o modelo da
Petrobras de descentralizado,
mas com responsabilidade centralizada. "O sistema de discussão
dos temas é descentralizado, mas
a decisão é centralizada", afirma.
Outra grande companhia cujo
modelo de gestão é considerado
bastante centralizado é a Camargo Corrêa. Empresa familiar, hoje
altamente diversificada, a Camargo Corrêa adota um modelo "sui
generis" de gestão. As principais
decisões são concentradas no
conselho de administração, formado por oito executivos com dedicação integral à empresa.
O presidente do conselho de administração da Camargo Corrêa,
Raphael Nogueira de Freitas, admite que as grandes decisões da
empresa estão concentradas no
conselho, apesar de as diversas
unidades de negócio do grupo terem total autonomia. "O CEO da
companhia é o conselho", diz ele.
"Não se pode esquecer que o diretor de hoje é o gerente de ontem."
Freitas diz, no entanto, que, desde 2001, a empresa tem formulado planos plurianuais envolvendo o maior número de pessoas
possível da organização para a
discussão de estratégias e metas
da companhia.
O projeto Camargo 2012, que fixa a meta de a empresa atingir em
2012 o faturamento de R$ 18 bilhões -hoje está na faixa de R$
7,5 bilhões-, envolveu a discussão de dezenas de funcionários.
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