São Paulo, domingo, 25 de setembro de 2005

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NEGÓCIOS

Gerentes, mais próximos do dia-a-dia, participam pouco de definições de estratégia, aponta pesquisa de consultoria

Empresas brasileiras concentram decisões

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

As decisões no Brasil ainda são bastante concentradas no topo das companhias. Os gerentes participam pouco da formulação de estratégia das empresas, apesar de serem os principais responsáveis pela sua execução.
A conclusão consta de pesquisa realizada pela consultoria Symnetics, líder em projetos de gestão da estratégia na América Latina. Para a realização do trabalho, foram ouvidos 150 executivos e colaboradores de 107 empresas no Brasil com faturamento superior a R$ 50 milhões anuais no primeiro trimestre deste ano.
O resultado completo do estudo será apresentado em evento que acontece entre os dias 28 e 30 no Costão do Santinho, em Santa Catarina, com a participação do guru norte-americano David Norton, criador do Balanced Scorecard, apontado pela "Harvard Business Review" como uma das mais influentes ferramentas de gestão desenvolvidas nos últimos 70 anos e que hoje é utilizada por mais de 50% das empresas listadas na "Fortune 1000".
A pesquisa da Symnetics mostra, entre outros resultados, que, enquanto 83% dos diretores participam da definição de prioridades estratégicas nas empresas, apenas 50% dos gerentes se envolvem nessa discussão.
O mesmo acontece na definição dos processos de implantação de novos produtos. Mais de 80% dos diretores participam das decisões nesse campo, enquanto apenas 47% dos gerentes são convidados a opinar sobre o assunto. Os diretores (73%) também comandam as questões relativas a novos negócios, enquanto só 53% dos gerentes são consultados.
O consultor Reinaldo Manzini, diretor da Symnetics e coordenador da pesquisa, considera um absurdo apenas um grupo restrito de pessoas discutir a estratégia da empresa. O grande problema, a seu ver, é que são aquelas pessoas que conhecem o chão de fábrica que sabem se uma determinada decisão terá ou não sucesso em sua implementação.
A concentração das decisões de uma empresa no topo de sua administração, no entanto, não é um privilégio do Brasil. Trata-se de uma prática comum do mundo ocidental. Segundo Manzini, a grande maioria das empresas, principalmente no continente americano, promove essa diferenciação cartesiana entre o pensar e o fazer, em que uma cúpula privilegiada discute a estratégia e um outro grupo cuida de sua implementação. No mundo oriental, Manzini diz que não é assim que funciona. O pensar e o fazer são feitos de maneira mais integrada.
O consultor prefere não dar exemplos de empresas centralizadas, mas diz que a maioria delas segue o verificado pela pesquisa. Citou, por exemplo, a Petrobras, na qual, segundo ele, as grandes linhas são dadas pela diretoria.
O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, não concorda que as decisões da estatal sejam centralizadas. Segundo ele, o modelo de governança corporativa adotado pela Petrobras procura envolver os mais diversos níveis hierárquicos da empresa.
Gabrielli chama o modelo da Petrobras de descentralizado, mas com responsabilidade centralizada. "O sistema de discussão dos temas é descentralizado, mas a decisão é centralizada", afirma.
Outra grande companhia cujo modelo de gestão é considerado bastante centralizado é a Camargo Corrêa. Empresa familiar, hoje altamente diversificada, a Camargo Corrêa adota um modelo "sui generis" de gestão. As principais decisões são concentradas no conselho de administração, formado por oito executivos com dedicação integral à empresa.
O presidente do conselho de administração da Camargo Corrêa, Raphael Nogueira de Freitas, admite que as grandes decisões da empresa estão concentradas no conselho, apesar de as diversas unidades de negócio do grupo terem total autonomia. "O CEO da companhia é o conselho", diz ele. "Não se pode esquecer que o diretor de hoje é o gerente de ontem."
Freitas diz, no entanto, que, desde 2001, a empresa tem formulado planos plurianuais envolvendo o maior número de pessoas possível da organização para a discussão de estratégias e metas da companhia.
O projeto Camargo 2012, que fixa a meta de a empresa atingir em 2012 o faturamento de R$ 18 bilhões -hoje está na faixa de R$ 7,5 bilhões-, envolveu a discussão de dezenas de funcionários.


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