São Paulo, segunda-feira, 25 de setembro de 2006

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Folhainvest

Bancos adotam taxas altas para aplicação no Tesouro

Para consultores, medida visa estimular investidor a preterir títulos públicos

Bradesco e Itaú cobram entre oito e 16 vezes mais que outras instituições de grande porte, que praticam taxas de 0,25% a 0,50%

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Os maiores bancos privados do país, Bradesco e Itaú, cobram taxas para aplicação no Tesouro Direto entre oito e 16 vezes maior que o mercado. Ambos cobram taxa anual de 4% do valor dos títulos públicos adquiridos pela internet, enquanto em outras instituições, inclusive bancos de grande porte, as taxas vão de 0,25% a 0,50%. Há quem, como a corretora Socopa, não cobre taxa nenhuma para corretagem de títulos do Tesouro Direto.
E não é tudo: os dois bancos cobram ainda uma taxa fixa de R$ 25 sobre toda aplicação, e, no caso do Bradesco, há um valor mínimo de R$ 20 a ser pago de taxa de corretagem.
Numa aplicação de R$ 200 reais, por exemplo, a taxa de custódia será de R$ 45: 4% de R$ 200 são R$ 8, mas é cobrado um mínimo de R$ 20, mais o fixo de R$ 25 por operação.
"É para não investir. Aplicações do Tesouro Direto vão para o Tesouro. Eles querem que o investidor aplique em produtos do banco", diz a consultora Márcia Dessen.
Clientes do Itaú Personalité pagam uma taxa de 3%, um pouco menor que a cobrada do restante dos clientes do Banco Itaú, mas ainda bem acima da média do mercado. Durante quase toda a semana passada, assessores do Bradesco e do Itaú declararam que os bancos não poderiam se manifestar porque fontes das corretoras não estavam em São Paulo.
No Tesouro Direto, quem faz a aplicação em títulos do governo federal é o investidor. Por isso, não se justificam taxas elevadas, como em muitos fundos de investimento administrados por instituições financeiras. A corretora apenas faz o serviço de liquidar a operação.
A taxa de custódia remunera o agente pelo custo do cadastro, dos registros de conta corrente, do pagamento ao Tesouro Nacional, no caso das compras, e a recepção de crédito em favor dos clientes, quando há vendas, juros e vencimentos dos títulos públicos federais.

Shopping
"Compete ao investidor fazer o "shopping", pesquisar preços antes de escolher o prestador do serviço", lembra Dessen.
"No caso de bancos e corretoras gestoras de fundos de investimento, a oferta de títulos públicos federais concorre com os fundos de renda fixa e DIs, que cobram, em média, taxas de administração entre 2,5% e 4,5% ao ano. Uma taxa para o Tesouro Direto baixa implicaria em perda de atratividade dos produtos dos bancos", diz André Siqueira, da Fator Corretora.
Com uma taxa elevada, de 4%, somada ao IR cobrado, obtém-se uma rentabilidade líquida inferior à da caderneta de poupança, tradicional lanterninha no ranking das aplicações.
O Tesouro Direto foi criado pelo governo federal para atender ao pequeno investidor, que não tinha acesso a títulos públicos a taxas convidativas.
O valor cobrado pelas corretoras vale para o primeiro ano. Nos demais anos, o custo da corretagem é descontado no vencimento, na venda dos títulos ou no pagamento dos juros, de acordo com o prazo em que o investidor ficou com o título.
Além da taxa para a corretora, há ainda uma cobrada pela CBLC (Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia), de 0,40%, relativa à guarda. "Instituição com taxa fora do padrão procura ganhar em cima da operação e visa menos atrair clientes [para o Tesouro]", diz Jonas Jaimovick, da Ágora.


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