São Paulo, terça-feira, 25 de setembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pior da crise virá só em 2008, prevê FMI

Fundo afirma que instabilidade nos mercados financeiros resultará em uma desaceleração do crescimento mundial

Relatório da entidade afirma que a economia global, principalmente a de países emergentes, tem até agora reagido bem à turbulência

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

O FMI (Fundo Monetário Internacional) afirmou ontem que a atual turbulência nos mercados terá como conseqüência uma desaceleração do crescimento mundial. Disse ainda que a instabilidade deve continuar por mais alguns meses e que seus desdobramentos só serão inteiramente conhecidos a partir do próximo ano.
Por outro lado, o Fundo avalia que a economia global, especialmente a de países emergentes como o Brasil, reage bem às turbulências e que a crise resultará em mudanças importantes nas práticas dos mercados e dos órgãos reguladores, o que implicará um aperfeiçoamento do sistema financeiro global.
"As conseqüências potenciais desse episódio não devem ser subestimadas, e é provável que o processo de ajuste seja postergado. As condições de crédito podem não se normalizar rapidamente e algumas das práticas desenvolvidas nos mercados de crédito terão de mudar", afirmou o FMI em seu "Relatório de Estabilidade Financeira Mundial".
"O sistema financeiro mundial passou por um grande teste, que ainda não terminou. A maior redução do crescimento será nos Estados Unidos. O resto do mundo não ficará imune. O fim dos dias do dinheiro barato fará a máquina econômica do planeta girar com mais lentidão e as gratificações de risco serão mais altas", disse Jaime Caruana, o diretor do FMI responsável pelo estudo.
Em Madri, o diretor-gerente do Fundo, Rodrigo de Rato, disse que os efeitos da crise chegarão à economia real apenas em 2008, especialmente nos EUA. "Levará alguns meses para que as perdas nos mercados e nos balanços dos bancos fiquem totalmente evidentes", disse.
Segundo o FMI, os mercados reconheceram o que chama de "deterioração" na disciplina de concessão e gestão de crédito nos últimos anos, que agora causa uma "pane" nos financiamentos, com forte restrição a novos empréstimos e aumentos generalizados nas taxas.
O FMI chama a atenção para o futuro do mercado de crédito estruturado, aquele em que os financiamentos são feitos sob medida para as necessidades particulares de uma empresa. Isso porque, dependendo do grau de exclusividade dessas operações, elas não têm um mercado secundário e perderam as referências de preços.
É nesse mercado que o FMI vê as maiores possibilidades de perdas, pois os bancos tendem a segurar essas dívidas até seu vencimento. O Fundo afirma que os bancos mais expostos a esses créditos já enfrentam hoje taxas de juros mais altas nos mercados interbancários.
Segundo o FMI, a percepção de riscos paralelos à crise aumentou consideravelmente e suas implicações serão significativas e terão longo alcance. "Lições para os ambos setores privado e regulatório terão de ser pensadas e redesenhadas para fortalecer o sistema financeiro mundial."
O FMI avalia que, se o preço das casas cair 5% e em um ano se estabilizar, as perdas com o crédito "subprime" (segunda linha) somarão US$ 170 bilhões, sendo que um quarto disso ficará com os bancos e o restante, com os detentores de títulos lastreados nessas dívidas.
O Fundo avalia ainda que a crise expôs fragilidades na supervisão dos mercados e que a falta de informação sobre riscos fará os reguladores repensarem o papel das agências de classificação de risco, que possibilitaram a engenharia de funcionamento desse mercado.
O FMI afirma que, ao menor sinal da crise, as agências rebaixaram suas avaliações -e derrubaram os preços de vários desses papéis avaliados. "[A crise] Faz repensar o quanto confiáveis e úteis são as agências de avaliação de risco."


Texto Anterior: Vinicius Torres Freire: O preço do pão, do leite, da carne...
Próximo Texto: Análise: Fed pode gerar bolha nos emergentes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.