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Pior da crise virá só em 2008, prevê FMI
Fundo afirma que instabilidade nos mercados financeiros resultará em uma desaceleração do crescimento mundial
Relatório da entidade afirma que a economia global, principalmente a de países emergentes, tem até agora reagido bem à turbulência
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
O FMI (Fundo Monetário
Internacional) afirmou ontem
que a atual turbulência nos
mercados terá como conseqüência uma desaceleração do
crescimento mundial. Disse
ainda que a instabilidade deve
continuar por mais alguns meses e que seus desdobramentos
só serão inteiramente conhecidos a partir do próximo ano.
Por outro lado, o Fundo avalia que a economia global, especialmente a de países emergentes como o Brasil, reage bem às
turbulências e que a crise resultará em mudanças importantes
nas práticas dos mercados e dos
órgãos reguladores, o que implicará um aperfeiçoamento do
sistema financeiro global.
"As conseqüências potenciais desse episódio não devem
ser subestimadas, e é provável
que o processo de ajuste seja
postergado. As condições de
crédito podem não se normalizar rapidamente e algumas das
práticas desenvolvidas nos
mercados de crédito terão de
mudar", afirmou o FMI em seu
"Relatório de Estabilidade Financeira Mundial".
"O sistema financeiro mundial passou por um grande teste, que ainda não terminou. A
maior redução do crescimento
será nos Estados Unidos. O resto do mundo não ficará imune.
O fim dos dias do dinheiro barato fará a máquina econômica
do planeta girar com mais lentidão e as gratificações de risco
serão mais altas", disse Jaime
Caruana, o diretor do FMI responsável pelo estudo.
Em Madri, o diretor-gerente
do Fundo, Rodrigo de Rato, disse que os efeitos da crise chegarão à economia real apenas em
2008, especialmente nos EUA.
"Levará alguns meses para que
as perdas nos mercados e nos
balanços dos bancos fiquem totalmente evidentes", disse.
Segundo o FMI, os mercados
reconheceram o que chama de
"deterioração" na disciplina de
concessão e gestão de crédito
nos últimos anos, que agora
causa uma "pane" nos financiamentos, com forte restrição a
novos empréstimos e aumentos generalizados nas taxas.
O FMI chama a atenção para
o futuro do mercado de crédito
estruturado, aquele em que os
financiamentos são feitos sob
medida para as necessidades
particulares de uma empresa.
Isso porque, dependendo do
grau de exclusividade dessas
operações, elas não têm um
mercado secundário e perderam as referências de preços.
É nesse mercado que o FMI
vê as maiores possibilidades de
perdas, pois os bancos tendem
a segurar essas dívidas até seu
vencimento. O Fundo afirma
que os bancos mais expostos a
esses créditos já enfrentam hoje taxas de juros mais altas nos
mercados interbancários.
Segundo o FMI, a percepção
de riscos paralelos à crise aumentou consideravelmente e
suas implicações serão significativas e terão longo alcance.
"Lições para os ambos setores
privado e regulatório terão de
ser pensadas e redesenhadas
para fortalecer o sistema financeiro mundial."
O FMI avalia que, se o preço
das casas cair 5% e em um ano
se estabilizar, as perdas com o
crédito "subprime" (segunda linha) somarão US$ 170 bilhões,
sendo que um quarto disso ficará com os bancos e o restante,
com os detentores de títulos
lastreados nessas dívidas.
O Fundo avalia ainda que a
crise expôs fragilidades na supervisão dos mercados e que a
falta de informação sobre riscos fará os reguladores repensarem o papel das agências de
classificação de risco, que possibilitaram a engenharia de
funcionamento desse mercado.
O FMI afirma que, ao menor
sinal da crise, as agências rebaixaram suas avaliações -e derrubaram os preços de vários
desses papéis avaliados. "[A crise] Faz repensar o quanto confiáveis e úteis são as agências de
avaliação de risco."
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