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BC eleva liquidez para bancos pequenos
Medidas tornam mais flexíveis regras de compulsório, que irrigará mercado com R$ 13,2 bi, e isentam 23 instituições
Crise financeira global enxuga recursos disponíveis a essas instituições; BC
fala em "decisão pontual"
para "preservar sistema"
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Para tentar amenizar os efeitos que a crise financeira internacional tem tido sobre os bancos que atuam no Brasil, colocando mais dinheiro à disposição deles, o Banco Central tornou mais flexíveis duas regras
sobre recolhimento compulsório. A medida resultará na injeção de cerca de R$ 13,2 bilhões
no mercado e deve isentar 23
instituições financeiras de pequeno e médio porte do cumprimento dessas exigências.
O anúncio ocorre uma semana depois de o presidente do
Banco Central, Henrique Meirelles, dizer que não havia problemas de liquidez nos bancos
brasileiros.
"A liquidez em real continua
normal, devido às condições de
bom funcionamento da economia brasileira", disse Meirelles
na quinta-feira passada, em
Nova York, onde se encontrou
com investidores e membros
do Federal Reserve (banco central dos EUA).
As novas medidas reduzem o
volume de dinheiro que os bancos são obrigados a recolher periodicamente no BC, o que aumenta a quantidade de recursos que as instituições financeiras podem direcionar para outras operações, como a concessão de empréstimos.
Por meio de nota, o BC disse
que a decisão tem "caráter pontual" e foi tomada "com o objetivo de preservar o sistema financeiro nacional dos efeitos
da restrição de liquidez que
vem sendo observada no sistema financeiro internacional".
Uma das mudanças está no
critério usado para calcular
qual parcela de seus depósitos
bancários (conta corrente,
poupança ou investimentos)
deve ser retida pelo BC. Até ontem, as instituições financeiras
tinham uma espécie de "desconto" de R$ 100 milhões sobre
o valor a ser recolhido -ou seja,
um banco que tivesse R$ 1 bilhão a recolher ao BC podia depositar somente R$ 900 milhões. Agora, esse desconto
passou para R$ 300 milhões.
De acordo com o Banco Central, a ação liberará cerca de R$
5,2 bilhões no sistema financeiro, pouco se comparado, por
exemplo, com R$ 1 trilhão da
carteira de crédito dos bancos
que atuam no país.
Alívio
Mais do que a preocupação
com o valor, a medida tem como alvo dar um maior alívio a
instituições financeiras de tamanho médio, as que mais têm
tido dificuldade de captar dinheiro no mercado. Dos 117
bancos sujeitos ao compulsório, 23 não precisarão recolher
mais nada por estarem abaixo
do limite de R$ 300 milhões. O
BC não confirmou quais seriam
esses bancos. Outros 77 já eram
isentos. Desde o começo do
ano, com a alta de juros e a forte
expansão do crédito, bancos de
grande porte passaram a pagar
juros mais altos na captação.
Como resultado, quase todo
o dinheiro disponível no mercado, com origem tanto em
grandes investidores como em
pessoas físicas, passou a ir para
esses grandes bancos, deixando
os menores em dificuldade. A
situação piorou com o agravamento da crise internacional,
que deixou os agentes de mercado ainda mais cautelosos na
aplicação de recursos.
Leasing
A segunda medida também
mira nos bancos menores, especialmente os que trabalham
com financiamento de veículos. Para escapar do depósito
compulsório, muitos bancos
passaram a captar dinheiro no
mercado por meio de suas empresas de leasing.
O dinheiro captado era deixado numa espécie de conta remunerada mantida pelos bancos, aplicação sobre a qual não
incidia compulsório. Em janeiro passado, o Banco Central
mudou essa regra e passou a recolher compulsório também
sobre essa modalidade e estabeleceu um cronograma, a ser
implantado até janeiro do ano
que vem, em que as alíquotas
do recolhimento iam subindo
até chegar a 25% do total de depósitos.
Segundo levantamento feito
pela Folha, 89 bancos trabalham com depósitos interfinanceiros, sendo que só 5 concentram 37% do saldo total.
Três deles não estão nem entre
os 20 maiores do país.
Ontem, o BC decidiu alterar
o cronograma original e adiou
para março do ano que vem a
cobrança da alíquota máxima
de 25% sobre esses depósitos.
Até lá, os bancos deixarão de
recolher cerca de R$ 8 bilhões
adicionais, dando um fôlego
maior para suas operações.
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