São Paulo, quinta-feira, 25 de setembro de 2008

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BC eleva liquidez para bancos pequenos

Medidas tornam mais flexíveis regras de compulsório, que irrigará mercado com R$ 13,2 bi, e isentam 23 instituições

Crise financeira global enxuga recursos disponíveis a essas instituições; BC fala em "decisão pontual" para "preservar sistema"

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Para tentar amenizar os efeitos que a crise financeira internacional tem tido sobre os bancos que atuam no Brasil, colocando mais dinheiro à disposição deles, o Banco Central tornou mais flexíveis duas regras sobre recolhimento compulsório. A medida resultará na injeção de cerca de R$ 13,2 bilhões no mercado e deve isentar 23 instituições financeiras de pequeno e médio porte do cumprimento dessas exigências.
O anúncio ocorre uma semana depois de o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, dizer que não havia problemas de liquidez nos bancos brasileiros.
"A liquidez em real continua normal, devido às condições de bom funcionamento da economia brasileira", disse Meirelles na quinta-feira passada, em Nova York, onde se encontrou com investidores e membros do Federal Reserve (banco central dos EUA).
As novas medidas reduzem o volume de dinheiro que os bancos são obrigados a recolher periodicamente no BC, o que aumenta a quantidade de recursos que as instituições financeiras podem direcionar para outras operações, como a concessão de empréstimos.
Por meio de nota, o BC disse que a decisão tem "caráter pontual" e foi tomada "com o objetivo de preservar o sistema financeiro nacional dos efeitos da restrição de liquidez que vem sendo observada no sistema financeiro internacional".

Uma das mudanças está no critério usado para calcular qual parcela de seus depósitos bancários (conta corrente, poupança ou investimentos) deve ser retida pelo BC. Até ontem, as instituições financeiras tinham uma espécie de "desconto" de R$ 100 milhões sobre o valor a ser recolhido -ou seja, um banco que tivesse R$ 1 bilhão a recolher ao BC podia depositar somente R$ 900 milhões. Agora, esse desconto passou para R$ 300 milhões.
De acordo com o Banco Central, a ação liberará cerca de R$ 5,2 bilhões no sistema financeiro, pouco se comparado, por exemplo, com R$ 1 trilhão da carteira de crédito dos bancos que atuam no país.

Alívio
Mais do que a preocupação com o valor, a medida tem como alvo dar um maior alívio a instituições financeiras de tamanho médio, as que mais têm tido dificuldade de captar dinheiro no mercado. Dos 117 bancos sujeitos ao compulsório, 23 não precisarão recolher mais nada por estarem abaixo do limite de R$ 300 milhões. O BC não confirmou quais seriam esses bancos. Outros 77 já eram isentos. Desde o começo do ano, com a alta de juros e a forte expansão do crédito, bancos de grande porte passaram a pagar juros mais altos na captação.
Como resultado, quase todo o dinheiro disponível no mercado, com origem tanto em grandes investidores como em pessoas físicas, passou a ir para esses grandes bancos, deixando os menores em dificuldade. A situação piorou com o agravamento da crise internacional, que deixou os agentes de mercado ainda mais cautelosos na aplicação de recursos.

Leasing
A segunda medida também mira nos bancos menores, especialmente os que trabalham com financiamento de veículos. Para escapar do depósito compulsório, muitos bancos passaram a captar dinheiro no mercado por meio de suas empresas de leasing.
O dinheiro captado era deixado numa espécie de conta remunerada mantida pelos bancos, aplicação sobre a qual não incidia compulsório. Em janeiro passado, o Banco Central mudou essa regra e passou a recolher compulsório também sobre essa modalidade e estabeleceu um cronograma, a ser implantado até janeiro do ano que vem, em que as alíquotas do recolhimento iam subindo até chegar a 25% do total de depósitos.
Segundo levantamento feito pela Folha, 89 bancos trabalham com depósitos interfinanceiros, sendo que só 5 concentram 37% do saldo total. Três deles não estão nem entre os 20 maiores do país.
Ontem, o BC decidiu alterar o cronograma original e adiou para março do ano que vem a cobrança da alíquota máxima de 25% sobre esses depósitos. Até lá, os bancos deixarão de recolher cerca de R$ 8 bilhões adicionais, dando um fôlego maior para suas operações.


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