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"Spread" bancário volta a subir após 8 meses
Bancos deixam de repassar queda da Selic e elevam a diferença entre o que pagam para captar recursos e o que cobram do cliente
Enquanto a taxa básica caiu quase 6 pontos percentuais entre setembro de 2005 e o mês passado, o "spread" recuou menos de 2 pontos
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Levantamento feito pelo
Banco Central mostra que os
juros cobrados nos empréstimos bancários continuam em
queda e atingiram, em setembro, o nível mais baixo registrado nos últimos anos. Porém, o
custo desses financiamentos
poderia ser ainda menor se, pela primeira vez em oito meses,
os bancos não tivessem deixado
de repassar a seus clientes os
ganhos proporcionados pelos
recentes cortes na taxa Selic.
Como conseqüência, houve
no mês passado um aumento
no "spread" bancário -diferença entre os juros que os bancos pagam para captar recursos
no mercado e a taxa cobrada
para emprestá-los para empresas e pessoas físicas. O "spread"
serve para cobrir custos -gastos com impostos, despesas administrativas, pagamento de
funcionários, entre outros-,
além de ajudar a compor o lucro das instituições financeiras.
Em agosto, segundo o BC, os
bancos pagavam, em média, juros de 14,4% ao ano para captar
recursos. Por outro lado, cobravam 41,9% ao ano nos empréstimos, resultando num
"spread" de 27,5 pontos percentuais. No mês passado, o
custo de captação passou para
13,7%, mas os juros dos financiamentos foi reduzido apenas
para 41,5% -logo, o "spread"
subiu e chegou a 27,8 pontos.
O custo de um empréstimo
no Brasil é um dos mais elevados do mundo, o que é explicado tanto pela taxa Selic quanto
pelo "spread" bancário: ambos
são muito altos quando comparados com a média internacional. Mas, se por um lado a Selic
está em queda há algum tempo,
o "spread" tem se mantido praticamente inalterado.
Em setembro de 2005, a taxa
Selic estava em 19,75% ao ano, e
o "spread" bancário médio era
de 29,4 pontos percentuais. No
mês passado, a Selic havia sido
reduzida para 14,25%, e o
"spread" foi para 27,8 pontos.
Ao divulgar os números da
pesquisa, o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, disse que a alta do
"spread" ocorrida no mês passado não se configura, necessariamente, uma tendência a ser
observada de agora em diante.
"Nem sempre quando o custo
de captação cai, as instituições
repassam isso de imediato."
Juro ainda alto
Para Lopes, a redução dos juros cobrados nos empréstimos
-ainda que o "spread" continue elevado- deve fazer com
que a procura por novos financiamentos cresça. Essa expansão do crédito, por sua vez, permitiria que os bancos diluíssem
seus custos num volume maior
de operações, o que contribuiria para a queda do "spread".
O problema é que, mesmo
que venham caindo nos últimos meses, os juros bancários
seguem altos. Entre agosto e
setembro, a taxa média praticada nos empréstimos a pessoas
físicas foi de 53,9% ao ano para
53,8%, a mais baixa registrada
pelo BC, que começou a produzir essa estatística em 1994. "É
a taxa mais baixa da série, mas
ainda é elevada", disse Lopes.
Desde que o BC começou a
reduzir a taxa Selic, no ano passado, os juros dos empréstimos
para pessoas físicas caíram 8,3
pontos percentuais. Parte dessa queda reflete a expansão do
chamado crédito consignado,
em que as prestações são descontadas diretamente do salário do devedor. Nessas operações, a taxa média cobrada é de
34,7% ao ano. "Já é uma taxa
mais civilizada", diz Lopes.
Nos financiamentos para
empresas, a queda dos juros foi
menor, mas isso se deve, em
parte, ao fato de o segmento já
contar com taxas mais baixas
do que a média do mercado.
Neste ano, os juros para pessoas jurídicas caíram 4,4 pontos percentuais, chegando a
27,3% ao ano no mês passado.
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