São Paulo, quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Spread" bancário volta a subir após 8 meses

Bancos deixam de repassar queda da Selic e elevam a diferença entre o que pagam para captar recursos e o que cobram do cliente

Enquanto a taxa básica caiu quase 6 pontos percentuais entre setembro de 2005 e o mês passado, o "spread" recuou menos de 2 pontos


NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Levantamento feito pelo Banco Central mostra que os juros cobrados nos empréstimos bancários continuam em queda e atingiram, em setembro, o nível mais baixo registrado nos últimos anos. Porém, o custo desses financiamentos poderia ser ainda menor se, pela primeira vez em oito meses, os bancos não tivessem deixado de repassar a seus clientes os ganhos proporcionados pelos recentes cortes na taxa Selic.
Como conseqüência, houve no mês passado um aumento no "spread" bancário -diferença entre os juros que os bancos pagam para captar recursos no mercado e a taxa cobrada para emprestá-los para empresas e pessoas físicas. O "spread" serve para cobrir custos -gastos com impostos, despesas administrativas, pagamento de funcionários, entre outros-, além de ajudar a compor o lucro das instituições financeiras.
Em agosto, segundo o BC, os bancos pagavam, em média, juros de 14,4% ao ano para captar recursos. Por outro lado, cobravam 41,9% ao ano nos empréstimos, resultando num "spread" de 27,5 pontos percentuais. No mês passado, o custo de captação passou para 13,7%, mas os juros dos financiamentos foi reduzido apenas para 41,5% -logo, o "spread" subiu e chegou a 27,8 pontos.
O custo de um empréstimo no Brasil é um dos mais elevados do mundo, o que é explicado tanto pela taxa Selic quanto pelo "spread" bancário: ambos são muito altos quando comparados com a média internacional. Mas, se por um lado a Selic está em queda há algum tempo, o "spread" tem se mantido praticamente inalterado.
Em setembro de 2005, a taxa Selic estava em 19,75% ao ano, e o "spread" bancário médio era de 29,4 pontos percentuais. No mês passado, a Selic havia sido reduzida para 14,25%, e o "spread" foi para 27,8 pontos.
Ao divulgar os números da pesquisa, o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, disse que a alta do "spread" ocorrida no mês passado não se configura, necessariamente, uma tendência a ser observada de agora em diante. "Nem sempre quando o custo de captação cai, as instituições repassam isso de imediato."

Juro ainda alto
Para Lopes, a redução dos juros cobrados nos empréstimos -ainda que o "spread" continue elevado- deve fazer com que a procura por novos financiamentos cresça. Essa expansão do crédito, por sua vez, permitiria que os bancos diluíssem seus custos num volume maior de operações, o que contribuiria para a queda do "spread".
O problema é que, mesmo que venham caindo nos últimos meses, os juros bancários seguem altos. Entre agosto e setembro, a taxa média praticada nos empréstimos a pessoas físicas foi de 53,9% ao ano para 53,8%, a mais baixa registrada pelo BC, que começou a produzir essa estatística em 1994. "É a taxa mais baixa da série, mas ainda é elevada", disse Lopes.
Desde que o BC começou a reduzir a taxa Selic, no ano passado, os juros dos empréstimos para pessoas físicas caíram 8,3 pontos percentuais. Parte dessa queda reflete a expansão do chamado crédito consignado, em que as prestações são descontadas diretamente do salário do devedor. Nessas operações, a taxa média cobrada é de 34,7% ao ano. "Já é uma taxa mais civilizada", diz Lopes.
Nos financiamentos para empresas, a queda dos juros foi menor, mas isso se deve, em parte, ao fato de o segmento já contar com taxas mais baixas do que a média do mercado. Neste ano, os juros para pessoas jurídicas caíram 4,4 pontos percentuais, chegando a 27,3% ao ano no mês passado.


Texto Anterior: Vinicius Torres Freire: Brasil investe mais. Lá fora
Próximo Texto: Crédito chega a 33% do PIB, o maior desde 97
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.