São Paulo, quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Espanha ameaça OHL por falha em obra

Vencedora de leilão de rodovias federais no Brasil é acusada de "inepta" por ministério devido a problemas em linha de trem

Empresa, que deverá ser processada, diz que erros que afetaram outra linha de trem já existente se devem "à complexidade da obra"

Guido Manuilo - 4.out.07/Efe
Passageira aguarda saída de trem em estação de Barcelona


CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI

A OHL, a empresa espanhola que ganhou cinco dos sete trechos de rodovias federais brasileiras concedidos ao setor privado, está nas manchetes de ontem dos jornais espanhóis, mas, ao contrário do que houve no Brasil, por motivos nada festivos: o Ministério do Fomento a acusa de "inepta" e ameaça tomar medidas judiciais, ao passo que a Generalitat da Catalunha (o governo dessa comunidade no Nordeste da Espanha) já decidiu que irá aos tribunais.
Tudo porque a OHL, responsável pela construção de 1,1 km da linha de trem de alta velocidade (o AVE, na sigla em espanhol) que ligará Madri a Barcelona, capital catalã, acabou provocando problemas em outra linha, que serve os subúrbios, e ficará dois meses fora de operação. No total, a ligação de alta velocidade entre Madri e Barcelona terá 600 quilômetros e reduzirá o tempo de percurso das atuais seis horas para duas horas e meia.
"A empresa deve pagar pelos dois meses em que a linha estará fechada", reclama Joaquín Nadal, conselheiro de Política Territorial da Catalunha. A linha de subúrbios afetada pela obra da OHL transporta 62 mil passageiros por dia.
Já a ministra de Fomento, Magdalena Álvarez, afirma: "É preciso deixar claro que não estamos contentes com os trabalhos que se estão realizando nesse trecho".
Os problemas no AVE ganharam forte conteúdo político porque o governo do socialista José Luis Rodríguez Zapatero pretendia inaugurar a ligação entre as duas principais cidades espanholas no dia 21 de dezembro, a dois meses e meio de eleições gerais que prometem ser muito disputadas.
Para o jornal "El País", simpático aos socialistas, trata-se da "obra pública bandeira" de Zapatero. Já o ABC, de oposição, ataca o que chama de "inaugurações pré-eleitorais", que, nos cálculos do jornal, reduziriam as provas de segurança a menos de um mês de duração, quando o AVE mais importante hoje em operação (Madri/Sevilha) foi testado durante um ano.
O ambiente eleitoral levou o PP (Partido Popular, o principal da oposição) a usar para a ministra Magdalena Álvarez o mesmo qualificativo por ela empregado para a OHL, o de "inepta" (além de "inútil" e "ineficaz").
Mariano Rajoy, líder do PP e candidato derrotado por Zapatero na eleição de 2004, diz que a ministra trabalha para "cumprir um capricho de Zapatero".
Já a OHL se defende e foge do minado campo político, para refugiar-se no técnico. Os problema surgidos, diz nota da empresa, devem-se "à complexidade de uma obra subterrânea que afeta numerosas infra-estruturas".
María Teresa Fernández de la Vega, vice-presidente do governo espanhol, disse que não é o caso de demonizar a empresa, porque a obra envolve uma enorme complexidade técnica, o que não a impede de reconhecer que há, sim, problemas na obra. Segundo ela, o governo da Espanha ainda não decidiu que providências adotará no caso.


Texto Anterior: Petróleo: Falha em duto pára plataforma da Petrobras
Próximo Texto: Acusação pode ser usada contra OHL no Brasil
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.