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Banda larga provoca guerra teles-governo
Planalto quer rede nacional de fibra ótica gerenciada por estatal; empresas dizem que proposta é abandono do modelo de privatização
Lula quer plano até
novembro e deseja vender
a universalização do acesso
à internet como uma das obras de seu governo
HUMBERTO MEDINA
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
O Plano Nacional de Banda
Larga criou uma guerra nos
bastidores do governo e das teles pelo controle do serviço de
acesso à internet e do mercado
de comunicação.
De um lado, as teles privadas
atuam para manter a posição
atual de fornecedor privilegiado da infraestrutura que permite o acesso à rede e, com isso,
seguir dominando o setor.
Do outro, Casa Civil e Planejamento defendem a criação de
uma rede pública de fibras óticas, administrada por uma estatal, que permita a entrada no
mercado de pequenos e médios
provedores de acesso pelo país.
Nas palavras de um assessor
presidencial, o que está em jogo
é se as teles vão continuar praticamente monopolizando o
setor no país ou se haverá um
modelo concorrencial que garanta a ampliação da oferta e a
redução nos atuais preços.
Subsídios
Em reação, as empresas de
telecomunicação classificam a
proposta do Planejamento de
abandono do modelo de privatização do setor e a consideram
cara. Defendem duas alternativas: para a população pobre dos
grandes centros, subsídio e redução tributária (nos moldes
do que é feito hoje para a tarifa
social de energia elétrica).
Para áreas remotas, onde a
baixa renda se combina com dificuldades de instalação da infraestrutura, seria necessário
uma mistura de subsídio, desoneração e parceria com o governo para o uso da rede de fibras
óticas das estatais.
O presidente Lula deu prazo
até o final da segunda semana
de novembro para que o Plano
Nacional de Banda Larga seja
apresentado. Ele tem pressa.
Deseja vender a universalização do acesso à internet como
uma das obras de seu governo,
que em 2010 tentará eleger a
ministra Dilma Rousseff (Casa
Civil) como sua sucessora.
Depois que foi divulgada a
ideia de uma nova estrutura estatal no setor pelo Planejamento, com o apoio de assessores da
Casa Civil, as teles passaram a
acenar com a possibilidade de
criar um serviço barato de internet, que poderia custar R$
30 ou até mesmo R$ 9,90 caso o
governo conceda isenções tributárias ao setor e subsídios.
Assim, esperam obter o apoio
de Lula para manter o modelo
atual, no qual as teles detêm toda a rede de distribuição.
Essa, por sinal, é a principal
queixa do Planejamento e da
Casa Civil. Como as teles dominam a rede de cabos, elas conseguem controlar o serviço de
banda larga, considerado o futuro do setor de comunicação
no país. A telefonia fixa, área
nobre na época da privatização,
em 1998, perde cada vez mais
importância.
Pela legislação atual, as teles
são obrigadas a compartilhar
essa rede com outras empresas.
Mas o preço desse serviço é
considerado, hoje, praticamente impraticável para que empresários de médio e pequeno
portes operem.
Os técnicos da Casa Civil e do
Planejamento argumentam
que sua proposta não prevê que
o setor público concorra na
ponta do serviço. A ideia, destacam, é criar uma rede pública
conectando todo o país, deixando o serviço nos municípios
com o setor privado.
Pequenos e médios provedores usariam a rede pública para
oferecer banda larga à população, principalmente por meio
de tecnologia sem fio. As sedes
dos municípios, por sua vez, seriam ligadas à grande rede pública de fibras óticas por meio
de enlaces de rádio. As fibras
óticas já existem e estão instaladas nas linhas de transmissão
da Eletrobrás.
Telebrás
Pela proposta do governo, seria ressuscitada a Telebrás para
administrar essa rede pública
de cabos de fibras óticas, que já
existe e tem 12 mil quilômetros
instalados nas linhas de transmissão do sistema Eletrobrás.
Para isso, seria necessário,
numa primeira etapa, R$ 1,3 bilhão, atingindo aproximadamente 3.700 dos 5.561 municípios brasileiros. As teles dizem
que o custo ultrapassaria R$ 4
bilhões para atender aos municípios que, segundo elas, já serão atendidos pelo sistema privado até o fim de 2010.
A proposta de universalização da banda larga no país esbarra num imbróglio jurídico e
na demora na adesão das teles.
A rede pública que seria usada é
da empresa Eletronet, em processo de falência. Como a solução jurídica ainda se arrasta, o
governo não pode usá-la.
Caso o presidente aprove a
ideia da nova estatal, os técnicos da Casa Civil e do Planejamento pretendem usar parte
dessa rede que não está concedida à Eletronet e também outros cabos, da Petrobras.
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