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"LIVRE COMÉRCIO"
De olho na eleição, Casa Branca apóia projetos que inflam subsídios agrícolas; gasto militar também cresce
Emendas devem elevar déficit americano
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Uma série de emendas de última hora ao Orçamento dos EUA
para 2004 está inflando os subsídios agrícolas e deve ampliar ainda mais as previsões de déficit fiscal para o ano que vem, estimado
em cerca de US$ 500 bilhões.
Os gastos militares, que deverão
chegar a US$ 401,3 bilhões no próximo ano, também contribuem
para o déficit. O orçamento é superior em cerca de US$ 8 bilhões
ao deste ano.
Analistas afirmam que o calendário eleitoral do presidente
George W. Bush e do Partido Republicano, que controla o Congresso, está por trás da nova onda
de gastos. Em Wall Street, a corretora Goldman Sachs e a agência
de avaliação de riscos Moody's
alertaram ontem para os perigos
do déficit orçamentário.
Embora a Moody's tenha mantido em Aaa (o mais elevado) o
"rating" para os títulos do governo dos EUA, a agência ressaltou o
fato de o déficit americano ser, em
termos relativos, maior do que a
média dos 30 países OCDE (Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico).
Em relatório a investidores, a
Goldman Sachs afirmou que "a situação orçamentária dos EUA está fora de controle".
No ano fiscal de 2003 terminado
em setembro, os EUA atingiram
um déficit de US$ 374 bilhões, o
equivalente a 3,5% do PIB (Produto Interno Bruto).
O número equivale a um gasto
público anual de US$ 20 mil por
família nos EUA, o maior desde a
Segunda Guerra, para uma arrecadação (também por família) de
US$ 17 mil por ano.
Para Brian Reidl, especialista
em Orçamento da Fundação Heritage, entidade que apóia Bush e
o Partido Republicano, muitos
dos gastos estão relacionados às
bases políticas da Casa Branca.
Na área agrícola, principalmente, as emendas têm se multiplicado desde a posse de Bush para aumentar subsídios a produtores de
amendoim, lã, laticínios, etanol e
soja. "Novos aumentos estão sendo acrescidos ao Orçamento de
2004", disse Reidl à Folha.
Algodão
Um dos setores que mais têm
recebido nova ajuda é o de algodão, que já acumula US$ 3,5 bilhões em subsídios ao ano.
Mesmo produzindo algodão a
um preço até seis vezes do que no
oeste da África, por exemplo, produtores do Mississipi vêm sendo
acusados de praticar preços muito abaixo da média do mercado
internacional. No início de dezembro, pela primeira vez em
anos, o Mississipi elegeu um governador do partido de Bush.
Os subsídios norte-americanos
aos agricultores do país somam
hoje cerca de US$ 50 bilhões ao
ano e já foram o principal ponto
de atrito nas negociações entre os
EUA e o Brasil na Alca (Área de
Livre Comércio das Américas).
Ao mesmo tempo em que aumenta gastos, o Congresso procura renovar, em 2004, 14 medidas
de cortes de impostos adotas por
Bush desde a sua posse.
Para Reidl, a maior preocupação com o atual descontrole fiscal
é que os EUA poderão voltar a aumentar impostos no curto prazo
para cobrir os rombos, prejudicando o cenário de recuperação
econômica.
Além de mais gastos pulverizados, também estão sendo incluídos investimentos de US$ 33 bilhões para o setor elétrico e de outros US$ 400 bilhões para o novo
sistema de saúde conhecido como
Medicare -que poderá ser um
ponto forte da campanha à reeleição de Bush no ano que vem.
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