São Paulo, domingo, 25 de novembro de 2007

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Lucros recordes turbinam investimentos

Balanços de 220 das maiores empresas do país revelam alta de 46% nos ganhos; cenário externo em 2008 traz incerteza

Além do resultado recorde de R$ 368,6 bi nos primeiros três trimestres deste ano, houve redução de dívidas e ampliação das margens


FERNANDO CANZIAN
CRISTIANE BARBIERI

DA REPORTAGEM LOCAL

As maiores empresas brasileiras de capital aberto (com ações na Bolsa) nunca lucraram tanto como em 2007. Os resultados do ano devem garantir fortes investimentos em 2008, apesar das incertezas no cenário internacional.
A aposta é que o mercado interno continuará sendo, como neste ano, o carro-chefe do crescimento. Uma crise externa de maior intensidade, porém, pode azedar o otimismo.
Balanços de 220 companhias publicados até a semana passada mostram que nos primeiros três trimestres deste ano essas empresas faturaram R$ 368,6 bilhões e tiveram lucro líquido de R$ 39,2 bilhões.
São recordes absolutos para essa amostra, realizada para a Folha pela Economática, empresa de consultas econômicas.
O lucro apurado entre essas 220 empresas, em nove meses, foi 45,6% maior do que em igual período de 2006. No ano, a Bolsa paulista, em que as ações dessas empresas são negociadas, subiu 37%.
Em 2007, houve também expressiva queda no endividamento das 220 empresas da amostra (a despesa financeira caiu de R$ 10,1 bilhões em 2006 para R$ 2,8 bilhões neste ano) e aumento de 8% para 11% na margem líquida de ganhos nos negócios.
A redução no endividamento esteve fortemente atrelada à queda do dólar, cuja desvalorização acumula 14% no ano, reduzindo os passivos externos.
Os resultados finais de 2007, que devem ser ainda mais robustos após as vendas do último trimestre, tendem a garantir fortes investimentos nos próximos anos.
"Devemos ter um bom ano em 2008, com aumento nos investimentos e clima de otimismo entre os empresários", afirma Armando Monteiro Neto, presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
"O ano de 2007 foi excepcionalmente bom, e o de 2008 aponta como o melhor da história da empresa", afirma Marcel Malczewski, presidente da empresa de automação de varejo Bematech.
A companhia foi uma das 91 que abriram capital nos últimos dois anos e, com R$ 406 milhões em caixa, partiu para aquisições. Comprou quatro empresas e pretende levar mais quatro até o fim de 2008.
"Há uma tendência grande de formalização no pequeno e médio varejo e temos crescido muito, principalmente nas regiões Norte e Centro-Oeste", diz Malczewski.
Graças a investimentos como esse, o setor privado aposta, apesar de ter ressalvas, que o mercado interno aquecido poderá compensar em boa medida um provável esfriamento da economia internacional, com considerável risco de uma recessão no maior mercado do planeta, os EUA.
Levantamento realizado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) nos setores industrial e de infra-estrutura, por exemplo, revela boa dose de otimismo com o futuro.
Os números e valores de novos empréstimos já analisados e aprovados pelo banco estatal confirmam, na prática, muitas dessas expectativas.
Entre janeiro e outubro, o BNDES aprovou mensalmente, em média, 10% mais verbas (R$ 7 bilhões ao mês) para empresas do que em 2006. O setor de alimentos e bebidas, chave para manter a inflação sob controle, teve 45% mais empréstimos aprovados em dez meses (R$ 6 bilhões) do que em 2006.
Mapeamento do BNDES mostra que na área industrial poderão ocorrer investimentos 13,2% maiores ao ano entre 2008 e 2011 na comparação com o período 2003-06. O "estoque" de investimentos entre os dois períodos saltaria de R$ 124,6 bilhões (já realizados) para R$ 232 bilhões (previstos).
Já na infra-estrutura o aumento anual seria de 12,4%. O "estoque" subiria de R$ 249,4 bilhões (2003-06) para R$ 447 bilhões (2008-11).
"O crescimento do mercado interno é quem puxa esses investimentos", afirma Fernando Puga, do BNDES.
A perspectiva desse crescimento interno parece inevitável para Teresa Vernaglia, presidente da AES Eletropaulo Telecom. A empresa vende a infra-estrutura de fibra ótica para operadoras de telefonia e viu a capacidade de sua rede, projetada para ser atingida em três anos, alcançar o limite em um ano e meio. Com isso, sua margem de lucro operacional, que atingiu espantosos 59% em 2006, deve aumentar ainda mais neste ano.
"Com a tendência de convergência, a demanda por banda larga é cada vez maior", diz Vernaglia. "Não acredito que haja crise externa que reduza a necessidade de ganho de escala tanto de empresas quanto de residências."


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