São Paulo, terça-feira, 25 de novembro de 2008

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Crise leva a fuga de US$ 11 bilhões e afeta refinanciamento de empresas

Para economistas, após auge da crise em outubro, fluxo deve se normalizar

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Números do Banco Central mostram que o agravamento da crise internacional levou não apenas a uma fuga de investidores estrangeiros da Bovespa mas também a dificuldades no refinanciamento de dívidas assumidas por empresas brasileiras no mercado internacional. De outubro para cá, segundo o Banco Central, ambas as operações resultaram na saída de US$ 10,9 bilhões do país.
O número, fechado ontem pelo BC, refere-se às vendas de ações brasileiras feitas por estrangeiros e ao volume de dólares que empresas brasileiras, diante das dificuldade em prorrogar o vencimento de seus compromissos, enviaram ao exterior para quitar dívidas. O valor corresponde a pouco mais de 2% do saldo total de aplicações mantidas por estrangeiros em papéis do país.
A maior parte dessa saída ocorreu na Bovespa. No mês passado, investidores de outros países retiraram US$ 6,1 bilhões da Bolsa paulista. Neste mês, segundo dados apurados até ontem, o saldo negativo está em US$ 880 milhões.
Até as aplicações em títulos públicos deixaram de atrair os estrangeiros. Apesar dos juros altos pagos pelos papéis do governo, no mês passado a saída foi de US$ 1,7 bilhão. Neste mês, os saques estão até agora em US$ 604 milhões.
Do lado das empresas que têm dívidas no exterior as dificuldades cresceram. Em outubro, essas companhias conseguiram captar US$ 596 milhões para honrar compromissos de US$ 474 milhões -ou seja, quitaram todos os vencimentos e ainda contraíram dívidas adicionais.
Neste mês, ao contrário, as parcelas que venceram até ontem somaram US$ 2,1 bilhões, e apenas 18% desse total -ou US$ 372 milhões- foram refinanciados. O restante teve que ser pago, o que resultou em envio de recursos para fora.
O chefe de Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, diz que esses números mostram o principal efeito que a crise internacional teve sobre as contas externas do Brasil. "Tivemos um impacto muito forte nos investimentos estrangeiros em ações e em renda fixa. É aí que se manifesta a crise. Mas o pior foi em outubro, o que se espera agora são movimentos menos intensos."
O economista-chefe do banco Schahin, Silvio Campos Neto, diz que "era natural" que esses números fossem negativos, mas também ressalta que "outubro deve ter sido o auge da fuga" dos investimentos estrangeiros e que a expectativa é de melhora. "Não vamos mais ver a mesma facilidade dos últimos anos para equilibrar as contas externas, mas não vejo um risco muito acentuado", diz.
Já a economista Adriana Dupita, da LCA Consultores, afirma que, apesar da expectativa de que o pior da crise possa estar ficando para trás, a normalização nos fluxos de capitais externos para o país dificilmente ocorra antes de 2009. "E essa normalização não significa que voltaremos a ter os resultados alcançados recentemente, num período de liquidez abundante [no mundo]. Vai demorar para termos fluxos como o que se viu nos últimos anos", diz.


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