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Crise leva a fuga de US$ 11 bilhões e afeta refinanciamento de empresas
Para economistas, após auge da crise em outubro, fluxo deve se normalizar
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Números do Banco Central
mostram que o agravamento da
crise internacional levou não
apenas a uma fuga de investidores estrangeiros da Bovespa
mas também a dificuldades no
refinanciamento de dívidas assumidas por empresas brasileiras no mercado internacional.
De outubro para cá, segundo o
Banco Central, ambas as operações resultaram na saída de
US$ 10,9 bilhões do país.
O número, fechado ontem
pelo BC, refere-se às vendas de
ações brasileiras feitas por estrangeiros e ao volume de dólares que empresas brasileiras,
diante das dificuldade em prorrogar o vencimento de seus
compromissos, enviaram ao
exterior para quitar dívidas. O
valor corresponde a pouco
mais de 2% do saldo total de
aplicações mantidas por estrangeiros em papéis do país.
A maior parte dessa saída
ocorreu na Bovespa. No mês
passado, investidores de outros
países retiraram US$ 6,1 bilhões da Bolsa paulista. Neste
mês, segundo dados apurados
até ontem, o saldo negativo está
em US$ 880 milhões.
Até as aplicações em títulos
públicos deixaram de atrair os
estrangeiros. Apesar dos juros
altos pagos pelos papéis do governo, no mês passado a saída
foi de US$ 1,7 bilhão. Neste
mês, os saques estão até agora
em US$ 604 milhões.
Do lado das empresas que
têm dívidas no exterior as dificuldades cresceram. Em outubro, essas companhias conseguiram captar US$ 596 milhões
para honrar compromissos de
US$ 474 milhões -ou seja, quitaram todos os vencimentos e
ainda contraíram dívidas adicionais.
Neste mês, ao contrário, as
parcelas que venceram até ontem somaram US$ 2,1 bilhões, e
apenas 18% desse total -ou
US$ 372 milhões- foram refinanciados. O restante teve que
ser pago, o que resultou em envio de recursos para fora.
O chefe de Departamento
Econômico do BC, Altamir Lopes, diz que esses números
mostram o principal efeito que
a crise internacional teve sobre
as contas externas do Brasil.
"Tivemos um impacto muito
forte nos investimentos estrangeiros em ações e em renda fixa. É aí que se manifesta a crise.
Mas o pior foi em outubro, o
que se espera agora são movimentos menos intensos."
O economista-chefe do banco Schahin, Silvio Campos Neto, diz que "era natural" que esses números fossem negativos,
mas também ressalta que "outubro deve ter sido o auge da fuga" dos investimentos estrangeiros e que a expectativa é de
melhora. "Não vamos mais ver
a mesma facilidade dos últimos
anos para equilibrar as contas
externas, mas não vejo um risco muito acentuado", diz.
Já a economista Adriana Dupita, da LCA Consultores, afirma que, apesar da expectativa
de que o pior da crise possa estar ficando para trás, a normalização nos fluxos de capitais externos para o país dificilmente
ocorra antes de 2009. "E essa
normalização não significa que
voltaremos a ter os resultados
alcançados recentemente, num
período de liquidez abundante
[no mundo]. Vai demorar para
termos fluxos como o que se viu
nos últimos anos", diz.
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