São Paulo, segunda-feira, 25 de dezembro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MULTIMÍDIA

THE NEW YORK TIMES
Com ações desvalorizadas, empresas terão de descobrir novas maneiras para manter seus "cérebros"

Fim da "bolha" pressiona salários nos EUA

FLOYD NORRIS
DO "THE NEW YORK TIMES"

Alan Greenspan acreditou, de fato, que podia ser uma nova era para os EUA. Mas o veredicto dos mercados, ainda contestável, chegou: era uma bolha.
Greenspan -presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano)- chegou a prever, há quase um ano, que a história concluiria que, "na virada do milênio, a economia dos EUA estava passando por uma aceleração quase única de sua inovação".
Segundo ele, a história mostraria que "essa aceleração impulsionava a produtividade, a produção, os lucros das empresas e os preços das ações a uma velocidade não vista em gerações, se é que se poderia achar precedentes para ela".
O tamanho da euforia, de certo modo, gerou a força da resposta dos mercados.

Instabilidade
Devido à lógica instável das Bolsas de Valores, pode-se até esperar que esse veredicto mude.
Mas, caso isso não aconteça, o Federal Reserve e as empresas dos Estados Unidos terão de lidar com um mundo radicalmente diferente daquele que tinham há um ano -um mundo cujas mudanças eles ainda não entendem.
Um sinal dessas dificuldades surgiu na semana passada, vindo da Microsoft, a maior fabricante de programas para computador do mundo.
A empresa planeja cortar custos e elevar salários. Os aumentos são necessários porque o salário real caiu muito na Microsoft e em outras empresas de tecnologia.
A renda dos funcionários costumava ser complementada com as opções de ações, mas agora mais da metade das opções pendentes da empresa estão embaixo d'água.
"A realidade chegou aqui e em toda a indústria", escreveu Steven Ballmer, o presidente da Microsoft, ao anunciar as mudanças. "Não existem mais tantas oportunidades de enriquecer rapidamente no mundo."

Contabilidade virtual
Infelizmente, a contabilidade fictícia permitida sob princípios contábeis não trata todas essas opções como remuneração.
Assim, os investidores estão vendo os custos de folha de pagamento subirem acentuadamente, e os trabalhadores, ao mesmo tempo, terão de viver com uma queda de renda.
A Microsoft tem como aumentar os salários em espécie. Mas muitas empresas não têm condições de fazer isso, e a necessidade de tomar alguma providência vai inchar orçamentos já apertados.
"Os gastos com investimentos se reduzirão significativamente no ano que vem", diz Robert Barbera, economista-chefe da Hoenig & Co.
A maior vítima será o principal beneficiário da sobrevalorização de ações nos últimos anos -o setor de alta tecnologia. Os números de produtividade, que pareciam tão impressionantes, cairão mais ou menos o mesmo tanto que a posição do setor.
Os gastos dos consumidores, que já vêm se reduzindo, cairão ainda mais quando o "efeito prosperidade" cessar.
"Os grandes ciclos se reforçam sozinhos, tanto na alta quanto na baixa", diz Ray Dalio, da Bridgewater Associates, empresa de administração de capitais. "Acreditamos que a queda nos preços das ações causará menor crescimento da economia e dos lucros, o que debilitará ainda mais as ações, devido a receitas cronicamente insuficientes."
Para Dalio, a queda das ações deve gerar "spreads de crédito" (diferenças de rendimento), o que pode tornar os empréstimos mais seletivos -dificultando gastos e novos investimentos.

Círculo vicioso
Essa sequência apavorante ainda não é aceita pela maioria. Em parte porque atrai mais aqueles que -como Barbera e Dalio- acreditavam que a economia vivia mesmo uma bolha, que agora estourou.
A declaração divulgada pelo Fed na semana passada, na qual o banco central apontava uma desaceleração abrupta da atividade econômica, "é uma lista inteligente dos sintomas que vêm atingindo os Estados Unidos", diz Barbera. Mas para tratá-los, "é preciso fazer um diagnóstico".
Para enfrentar a situação, o Fed precisa cortar as taxas de juros substancialmente, começando antes que as estatísticas econômicas confirmem a debilidade que vem sendo telegrafada pelo mercado de ações.
Cortes de impostos também podem ajudar, mas deve-se ter em mente que as projeções de um grande superávit de arrecadação se baseavam, em parte, em receitas governamentais infladas pela folha -especialmente impostos sobre lucros com ações.
As eras posteriores ao estouro de uma bolha nunca são divertidas. Mas essa será menos dolorosa se o Fed agir rapidamente.


Traduções de Paulo Migliacci


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Financial Times: Papai Noel, em crise, demite ajudantes e corta gastos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.