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MULTIMÍDIA
THE NEW YORK TIMES
Com ações desvalorizadas, empresas terão de descobrir novas maneiras para manter seus "cérebros"
Fim da "bolha" pressiona salários nos EUA
FLOYD NORRIS
DO "THE NEW YORK TIMES"
Alan Greenspan acreditou, de
fato, que podia ser uma nova era
para os EUA. Mas o veredicto dos
mercados, ainda contestável, chegou: era uma bolha.
Greenspan -presidente do Fed
(Federal Reserve, o banco central
norte-americano)- chegou a
prever, há quase um ano, que a
história concluiria que, "na virada
do milênio, a economia dos EUA
estava passando por uma aceleração quase única de sua inovação".
Segundo ele, a história mostraria que "essa aceleração impulsionava a produtividade, a produção, os lucros das empresas e os
preços das ações a uma velocidade não vista em gerações, se é que
se poderia achar precedentes para
ela".
O tamanho da euforia, de certo
modo, gerou a força da resposta
dos mercados.
Instabilidade
Devido à lógica instável das Bolsas de Valores, pode-se até esperar que esse veredicto mude.
Mas, caso isso não aconteça, o
Federal Reserve e as empresas dos
Estados Unidos terão de lidar
com um mundo radicalmente diferente daquele que tinham há
um ano -um mundo cujas mudanças eles ainda não entendem.
Um sinal dessas dificuldades
surgiu na semana passada, vindo
da Microsoft, a maior fabricante
de programas para computador
do mundo.
A empresa planeja cortar custos
e elevar salários. Os aumentos são
necessários porque o salário real
caiu muito na Microsoft e em outras empresas de tecnologia.
A renda dos funcionários costumava ser complementada com as
opções de ações, mas agora mais
da metade das opções pendentes
da empresa estão embaixo d'água.
"A realidade chegou aqui e em
toda a indústria", escreveu Steven
Ballmer, o presidente da Microsoft, ao anunciar as mudanças.
"Não existem mais tantas oportunidades de enriquecer rapidamente no mundo."
Contabilidade virtual
Infelizmente, a contabilidade
fictícia permitida sob princípios
contábeis não trata todas essas
opções como remuneração.
Assim, os investidores estão
vendo os custos de folha de pagamento subirem acentuadamente,
e os trabalhadores, ao mesmo
tempo, terão de viver com uma
queda de renda.
A Microsoft tem como aumentar os salários em espécie. Mas
muitas empresas não têm condições de fazer isso, e a necessidade
de tomar alguma providência vai
inchar orçamentos já apertados.
"Os gastos com investimentos
se reduzirão significativamente
no ano que vem", diz Robert Barbera, economista-chefe da Hoenig & Co.
A maior vítima será o principal
beneficiário da sobrevalorização
de ações nos últimos anos -o setor de alta tecnologia. Os números
de produtividade, que pareciam
tão impressionantes, cairão mais
ou menos o mesmo tanto que a
posição do setor.
Os gastos dos consumidores,
que já vêm se reduzindo, cairão
ainda mais quando o "efeito prosperidade" cessar.
"Os grandes ciclos se reforçam
sozinhos, tanto na alta quanto na
baixa", diz Ray Dalio, da Bridgewater Associates, empresa de administração de capitais. "Acreditamos que a queda nos preços das
ações causará menor crescimento
da economia e dos lucros, o que
debilitará ainda mais as ações, devido a receitas cronicamente insuficientes."
Para Dalio, a queda das ações
deve gerar "spreads de crédito"
(diferenças de rendimento), o que
pode tornar os empréstimos mais
seletivos -dificultando gastos e
novos investimentos.
Círculo vicioso
Essa sequência apavorante ainda não é aceita pela maioria. Em
parte porque atrai mais aqueles
que -como Barbera e Dalio-
acreditavam que a economia vivia
mesmo uma bolha, que agora estourou.
A declaração divulgada pelo
Fed na semana passada, na qual o
banco central apontava uma desaceleração abrupta da atividade
econômica, "é uma lista inteligente dos sintomas que vêm atingindo os Estados Unidos", diz Barbera. Mas para tratá-los, "é preciso
fazer um diagnóstico".
Para enfrentar a situação, o Fed
precisa cortar as taxas de juros
substancialmente, começando
antes que as estatísticas econômicas confirmem a debilidade que
vem sendo telegrafada pelo mercado de ações.
Cortes de impostos também podem ajudar, mas deve-se ter em
mente que as projeções de um
grande superávit de arrecadação
se baseavam, em parte, em receitas governamentais infladas pela
folha -especialmente impostos
sobre lucros com ações.
As eras posteriores ao estouro
de uma bolha nunca são divertidas. Mas essa será menos dolorosa se o Fed agir rapidamente.
Traduções de Paulo Migliacci
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