São Paulo, domingo, 25 de dezembro de 2005

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ANO BOM

Várias empresas terão em 2005 seus melhores resultados da história ou em muitos anos; Vale deve liderar ranking

Apesar de câmbio e juros, lucros crescem

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar dos juros altos e do câmbio valorizado, este será um ano de lucros recordes para empresas brasileiras de capital aberto. Das 382 companhias listadas na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), 34 já haviam superado seus melhores resultados históricos até setembro e outras 30 estavam beirando seus recordes, segundo levantamento feito pela Economática para a Folha.
Entre as recordistas, 14 estão obtendo os maiores lucros em um período de 10 a 20 anos. Os ganhos excepcionais são confirmados pelas projeções dos resultados até dezembro de empresas como Vale do Rio Doce, Caemi, Arcelor, Bradesco e Banco do Brasil, feitas por analistas.
"No mínimo, 2005 empatará com 2004 -que também mostrou lucros excepcionais. Foi um ano ótimo para as empresas", afirma Einar Rivero, coordenador da Economática para a América Latina. O levantamento exclui a Petrobras, que, por seu porte, distorce a amostra.
Embora tenha crescido pouco o número de companhias recordistas em relação a 2004, o volume total de lucros é quase o dobro do registrado no ano passado. Em 2004, 32 empresas tiveram lucros recordes em nove meses do ano. No total, elas obtiveram ganho de R$ 13,1 bilhões. Neste ano, a soma dos lucros das 34 recordistas chegou a R$ 25,6 bilhões no período. "Os resultados de muitas empresas foram estratosféricos", diz Rivero. Para o setor industrial, 2005 também significou rentabilidade recorde. A rentabilidade média sobre o patrimônio líquido da indústria atingiu 12,2% até setembro -o maior desde 1994.
A Vale do Rio Doce lidera o ranking das empresas recordistas de 2005. Segundo projeção da Gap Asset Management, deve encerrar o ano com lucro de R$ 12,5 bilhões. Em 2004, seu lucro foi de R$ 6,4 bilhões e até setembro deste ano estava em R$ 7,8 bilhões.
Outra empresa do setor de mineração, a Caemi, deve fechar o ano com lucro líquido de R$ 1,6 bilhão, de acordo com as projeções da Gap. No ano passado, o lucro ficou em R$ 1,38 bilhão, segundo dados da Economática.
O que impulsionou os resultados dessas companhias foi o aumento de 71% nos preços do minério de ferro, que vigorou a partir de maio, e a expansão das vendas. A Vale, por exemplo, vendeu 7% a mais do que no ano passado, segundo André Vainer, analista da Gap. "A valorização do real comeu um pouco o reajuste dos preços do minério, mas, como a alta foi forte, mais do que compensou o câmbio", diz Vainer.
No caso da Vale, a queda do dólar beneficiou a empresa ao reduzir suas dívidas em moeda estrangeira. A combinação de aumento das receitas e queda das despesas financeiras deve elevar para 38% a rentabilidade sobre o patrimônio líquido da Vale no ano, segundo projeção da Gap. Em 2004, a rentabilidade foi de 31,5%.
Vainer diz que o cenário para 2006 é positivo para o setor de mineração. "A negociação do reajuste de preços com as siderúrgicas já começou e há boas chances de permanecerem altos por alguns anos", diz o analista. "Há um ciclo de geração de caixa muito forte pela frente." Todos os anos, as grandes mineradoras negociam com as maiores siderúrgicas internacionais os preços a serem praticados. A projeção da Gap é que seja acertado um aumento entre 15% e 20% para o minério de ferro, a vigorar em 2006.
No ranking dos recordistas da Economática, a Belgo Mineira é a quarta colocada -mas a segunda entre as empresas não-financeiras. Antes dela, estão o Bradesco e o Banco do Brasil.
Os resultados da Belgo espelham o processo de consolidação com a CST e a Vega do Sul, compradas em 2004. As três empresas estão, agora, sob o mesmo guarda-chuva, da Arcelor Brasil, subsidiária da segunda maior siderúrgica do mundo, a européia Arcelor. Segundo projeção de resultados da companhia, feita pela corretora do Banco Real, o lucro líquido de 2005 pode chegar a R$ 2,398 bilhões, e a rentabilidade patrimonial, a 14,6%.
Pedro Galdi, analista da corretora, diz que "a constituição da Arcelor Brasil trouxe uma profunda modificação no ranking das siderúrgicas brasileiras com a consolidação da CST, Belgo e Vega. A Arcelor Brasil nasce com uma capacidade de produção de 11 milhões de toneladas de aço por ano, em 25 unidades industriais, e será o maior grupo siderúrgico da América Latina".
As empresas do setor siderúrgico viveram momentos difíceis neste ano devido à alta dos preços do minério, do carvão e do coque -seus principais insumos- e à queda de preços dos produtos siderúrgicos, segundo Galdi. Por isso, o lucro recorde da Belgo deve-se à comparação dos resultados da siderúrgica mineira com os dados consolidados das três siderúrgicas da Arcelor a partir do terceiro trimestre deste ano.
Para 2006, Galdi projeta lucro líquido de R$ 2,9 bilhões para Arcelor Brasil, com rentabilidade de 15,9%. Segundo ele, os prognósticos levam em conta uma recuperação dos preços internacionais.


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