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LUÍS NASSIF
O "príncipe" dos jornalistas
Na história do jornalismo
brasileiro, um dos nomes
de relevo foi José Eduardo Macedo Soares, que militou dos anos
20 aos anos 50 na imprensa e,
durante longo período, era tratado como "o príncipe dos jornalistas brasileiros". O JE, como era
chamado.
Os Macedo Soares eram de Saquarema, Estado do Rio. Um deles embarcou para São Paulo em
meados do século passado. Os filhos, José Carlos e José Eduardo,
foram criados em São Paulo,
mas continuaram mantendo o
interesse político no Rio.
JE entrou para a Marinha,
mas logo sua paixão pelo jornalismo levou-o a se demitir como
aspirante, para fundar "O Imparcial", que acabou se transformando no principal porta-voz
dos tenentes na década de 20.
Horácio Carvalho era um jovem lindíssimo, neto do Barão
de Amparo, da nobreza decadente de Vassouras. José Eduardo conheceu-o muito jovem e foi
tomado de uma amizade que
varou toda a vida. No Tiro de
Guerra, José Eduardo acompanhava de carro o jovem amigo
marchando. Mais tarde, acompanhava-o nas provas da faculdade.
Certa feita, o Clube dos Jovens
Tenentes empastelou "O Imparcial". Não foi serviço bem-feito,
mantendo praticamente o patrimônio intocado. Mesmo assim,
Getúlio mandou que se indenizasse o proprietário e se levassem
os despojos do jornal à hasta pública. José Eduardo fez com que
Horácio comprasse os equipamentos e, com a indenização do
governo, dos destroços de "O Imparcial" nasceu o "Diário Carioca".
No governo Protógenes Guimarães, interventor do Estado
do Rio, Horácio foi nomeado secretário do Interior, dentro do
esquema Vargas. Mantinha ótimas relações com Alzira Vargas
e Amaral Peixoto.
Ocorre que JE pensava em ser o
homem de Vargas no Rio. Quando Vargas nomeou seu genro
Amaral Peixoto, JE rompeu com
o governo e tornar-se-ia uma pedra no sapato de seu ex-colega
de armas, brindando-o com os
apelidos "Alzirante" e "Leão dos
Mares Guanabarinos".
Figura curiosa a de JE. Homossexual convicto, conseguia comportar-se com a distinção de um
senador romano. Usava sempre
gelô, e sua figura imponente era
realçada por um olho caído, arriado, que, obrigando-o a jogar a
cabeça para trás, conferia-lhe
aquela aparência majestosa de
senador romano.
Era dono de lendária coragem
pessoal. Conta-se que certa vez
levou um tiro do caudilho gaúcho Flores da Cunha, que lhe varou o chapéu. JE caminhou resoluto em direção ao oponente, arrancou-lhe a arma das mãos e
foi embora. Um delegado de polícia procurou-o, instando-o a
denunciar o agressor. Não só
não denunciou como no dia seguinte devolveu a arma ao gaúcho. Ganhou a gratidão eterna,
em meio a lágrimas sinceras.
Em 1944, José Eduardo foi brutalmente agredido na Cinelândia. Aparentemente foi um desencontro amoroso, mas que foi
explorado habilmente por Carlos Lacerda para martelar o governo Vargas. Apesar de homossexual convicto, foi pai de duas
filhas. Uma delas, Lota Macedo
Soares, construiu o parque do
Flamengo para Lacerda.
Seu modo de trabalhar era lendário. Escrevia à mão num bloco
de rascunho de papel jornal,
enormes garranchos que comportavam apenas sete a oito palavras por página. Sua ortografia era absolutamente original.
Escrevia ném, misturava palavras com dois eles e pê agá. Mas
era brilhante.
Vivia uma vida frugal, em
apartamento simples, mas povoado de obras de arte, por onde
passavam os grandes nomes da
República. Diariamente escrevia
seu artigo para a primeira página do "Diário Carioca".
Era um pequeno jornal, que
contava com um dos mais brilhantes corpos de cronistas que a
imprensa brasileira já conheceu.
O chefe de Redação era Pompeu
de Souza; o adjunto, Danton Jobim. Prudente Moraes Neto era
Pedro Lima, cronista político
que deixou a crônica no governo
JK por não concordar nem com o
governo nem com a linha do jornal. Luiz Paulistano de Orleans
Santana era chefe de reportagem. Havia ainda Paulo Mendes
Campos, Sérgio Porto e Armando Nogueira. O secretário era
Everardo Guilhon.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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