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Punição a empresa inclui publicidade "responsável"
Processadas fazem acordo na Justiça e "pagam" pena com campanhas educativas
Empregadores acusados de contratação irregular têm de promover ações como
a publicação de anúncios e a distribuição de cartilhas
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério Público do Trabalho adotou uma nova forma
de "punição" para empresas
que contratam trabalhadores
de forma irregular: a realização
de campanhas educativas, que
incluem desde a publicação de
anúncios em jornais de grande
circulação até a distribuição de
cartilhas aos funcionários para
explicar direitos trabalhistas.
Nos últimos 30 dias, ao menos duas empresas publicaram
informes publicitários, como
resultado de acordos homologados na Justiça do Trabalho
de São Paulo. Os nomes das
empresas não são citados nos
anúncios, mas, pelo número do
processo divulgado, a Folha
constatou que elas são a Medial
Saúde S.A., do setor de saúde
suplementar, e a Sonda do Brasil S.A., do setor de tecnologia
de informação, que pertence ao
grupo chileno Sonda.
Procuradas pela Folha, as
duas empresas preferiram não
comentar o assunto.
Em 2005, o Ministério Público do Trabalho ingressou com
uma ação civil pública contra a
Medial Saúde porque a empresa contratou de forma irregular
cerca de 2.000 trabalhadores
por meio de cooperativa. Em
vez de trabalharem como sócios de uma cooperativa, os
empregados atuavam como subordinados da empresa, mas
sem os direitos garantidos pela
CLT (13º, FGTS, entre outros).
Pela lei do cooperativismo,
não pode haver vínculo empregatício entre o tomador do serviço de uma cooperativa -nesse caso, a Medial Saúde- e o
cooperado. A ação previa indenização em torno de R$ 1 milhão. Por meio de acordo judicial, a empresa se comprometeu a regularizar a situação dos
empregados e a publicar um
anúncio. O texto do anúncio,
publicado no dia 26 de novembro, foi produzido pela coordenadoria nacional de combate às
fraudes no trabalho.
No caso da Sonda do Brasil, a
empresa assinou um termo de
ajustamento de conduta (TAC)
no ano passado comprometendo-se a não contratar trabalhadores por meio de "falsas cooperativas de trabalho", segundo informou o MPT.
Após ter assinado o documento, o Ministério Público
constatou que a empresa encerrou a contratação de cooperados, regularizando a situação
desses trabalhadores, mas passou a empregar estagiários. Segundo o MPT, o estágio era
usado para realizar atividades
normais na empresa, e não para complementar o ensino, como determina a legislação.
O MPT ingressou na Justiça
com uma ação de execução para cobrar o TAC assinado -que
previa uma multa diária de R$
1.000 por empregado em situação irregular. O valor total da
indenização por danos coletivos, somados juros e correção,
chegou a R$ 62 milhões.
Sem condições de pagar a autuação, a empresa chegou a um
acordo com o MPT, homologado na Justiça. A empresa se
comprometeu a regularizar a
situação dos estagiários, a distribuir cartilhas a atuais e futuros estagiários contratados e a
publicar um anúncio educativo
para alertar trabalhadores e
empregadores sobre fraudes
nas relações de trabalho. No último domingo, a empresa Sonda do Brasil publicou o anúncio
na primeira página da Folha.
Prejuízo
Para a juíza Maria Stella Malagodi, da 35ª Vara do Trabalho
de São Paulo, "prosseguir numa
ação desse porte seria inviabilizar a empresa e, ao invés de
cem estagiários perderem o estágio, seriam centenas de empregados que perderiam com o
fechamento da empresa. Teríamos um enorme prejuízo, primeiro para o trabalhador, depois para o Estado".
O procurador Rodrigo Carelli, que coordena o núcleo nacional de combate às fraudes
nas relações de trabalho, explica que a legislação prevê que as
indenizações por dano coletivo
devem ser revertidas a um fundo, cujo objetivo é "reconstituir
o bem lesado" -nesse caso, o
trabalho. "Como os recursos do
FAT [Fundo de Amparo ao Trabalhador] são usados para financiamentos e pagamento do
seguro-desemprego, estudamos formas alternativas para
recuperar o que foi lesado. As
campanhas educativas, com
anúncios, a produção de cartilhas para o trabalhador ou até a
compra de equipamentos são
soluções que têm sido usadas."
O MPT ressalta, porém, que
as empresas não estão "livres"
das autuações. Caso voltem a
cometer irregularidades nas
contratações, será cobrado o
valor das atuações -R$ 1 milhão no caso da Medial e R$ 62
milhões no caso da Sonda.
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