São Paulo, terça-feira, 25 de dezembro de 2007

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Exportador tem menor ganho desde 1985

Apesar do avanço em dólar nas vendas externas, receita em reais cai em razão do câmbio; embarque de industrializados já é afetado

Estudo da Fiesp indica que um terço dos exportadores enfrenta redução de rentabilidade em reais; entidade pede desoneração

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A valorização do real em relação ao dólar diminuiu a rentabilidade dos exportadores ao menor patamar em duas décadas e já começa a afetar os embarques de produtos industrializados, como celulares, automóveis e motores de carros.
Apesar de as exportações terem batido recorde em outubro, com US$ 15,76 bilhões, a receita obtida pelos exportadores em reais foi inferior à registrada em junho de 2004, quando os embarques foram de apenas US$ 9,4 bilhões, mostra estudo da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) obtido pela Folha.
Nesse período de 41 meses, a cotação do dólar saiu de R$ 3,11 para R$ 1,80, o que encolheu a quantidade de reais para cada dólar que termina no caixa das empresas. Em outubro, os exportadores conseguiram receita de R$ 28,38 bilhões, menos que os R$ 29,24 bilhões obtidos em meados de 2004.
"No acumulado de janeiro de 2003 até novembro de 2007, o real ganhou cerca de 47% em relação ao dólar, anulando os benefícios da alta dos preços internacionais para o exportador", diz o estudo da Fiesp.
O índice de rentabilidade das exportações calculado pela Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior) atingiu em novembro 78,07, o menor patamar desde janeiro de 1985, quando o indicador começou a ser calculado. Um ano antes, o índice estava em 85,35. Em junho de 2004, com o dólar a R$ 3,11, foi de 107,42.
"Alguns exportadores de manufaturados têm registrado perdas, porque não conseguem compensar a valorização do real com aumento de preços", observa Fernando Ribeiro, economista-chefe da Funcex.
O estudo da Fiesp indica que um terço dos exportadores enfrenta queda de sua rentabilidade em reais.
O principal efeito desse movimento é a desaceleração do ritmo de expansão das exportações. Roberto Giannetti da Fonseca, diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp, acredita que as vendas podem registrar queda dentro de 18 meses. Ele ressalta que a alta nas exportações é sustentada pelo aumento de preços. As quantidades exportadas têm crescido em ritmo inferior ao do comércio mundial e, em alguns setores, estão em queda.
José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, observa que o número de carros embarcados até outubro caiu 6,9% ante igual período de 2006. A receita subiu 0,3% em razão do aumento dos preços.
Para 2008, Castro prevê forte desaceleração nas exportações, com expansão de apenas 5%. O ano de 2007 deve fechar em alta de 16%, patamar semelhante ao de 2006.
"Se o dólar estivesse em R$ 2,50, o crescimento das exportações neste ano seria de 22%", diz Pedro Pedrossian Neto, supervisor de Análise Econômica do Comércio Exterior da Fiesp.
A lista de produtos que mais perderam receita nas exportações é liderada pelos celulares. Pedrossian afirma que foram R$ 2 bilhões a menos no período de novembro de 2006 a outubro de 2007 em relação aos 12 meses anteriores. Em seguida aparecem óleo e gasolina (R$ 1,1 bilhão a menos) e veículos (R$ 969 milhões a menos).
Para compensar a perda de competitividade provocada pela alta do real, a Fiesp propõe a desoneração tributária de investimentos em logística, o que envolve portos e ferrovias.


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