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Brasil lidera em gasto com Previdência
Estudo põe país em 1º lugar empatado com outros cuja estrutura etária é mais velha, o que justificaria despesa mais elevada
Pesquisador do Ipea leva em
conta fatores como gasto
em relação ao PIB, idade
mínima para se aposentar
e percentual de idosos
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O Brasil encabeça a lista de
países que mais gastam com a
Previdência no mundo, ao lado
de nações como Áustria, Polônia, Suíça e Uruguai, cuja estrutura etária da população é mais
envelhecida -o que, em tese,
justificaria uma despesa maior.
A conclusão é de estudo do
Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada), que considera novos fatores além do
tradicional "gasto como proporção do PIB". O novo critério
leva em conta também fatores
como idade mínima para aposentadoria, alíquotas de contribuição, percentual de idosos
em relação à população em idade ativa e a proporção de contribuintes na força de trabalho.
"O Brasil é um ponto fora da
curva. Tem um gasto muito alto
para as suas características. Se
um país tem muitos idosos, é
aceitável que tenha uma despesa maior, mas não é o caso do
Brasil", diz o pesquisador do
Ipea Marcelo Caetano, autor do
estudo, realizado em parceria
com Rogério Miranda, também
pesquisador do instituto.
O total de idosos com mais de
65 anos corresponde, no Brasil,
a 9,1% da força de trabalho do
país (pessoas de 15 anos a 65
anos). Na Áustria, a proporção
chega a 24,2%. No vizinho Uruguai, a 21,2%. Ou seja, são países mais "envelhecidos", onde a
despesa da Previdência tende,
naturalmente, a ser mais alta.
Pela medida mais usual e
também considerada no estudo, o gasto previdenciário do
Brasil corresponde a 11,7% do
PIB. É o 14º mais elevado do
mundo segundo esse conceito,
atrás de países como Itália
(17,6%), Ucrânia (15,4%) e Uruguai (15%). Mas, na Itália, por
exemplo, os idosos com mais de
65 anos representam 29,7% das
pessoas em idade ativa.
Caetano diz que o objetivo do
estudo foi quantificar o gasto
da Previdência de acordo com
outras variáveis que justificam
ou permitem despesas maiores. "Se um país tem um número proporcionalmente maior
de contribuintes e alíquota
mais elevada de contribuição,
pode gastar mais", pondera.
O estudo do Ipea contabilizou como gasto previdenciário
as aposentadorias (inclusive as
rurais, em sua maioria subsidiadas, pois não há a contrapartida da contribuição), pensões e
auxílios-doença.
Benefícios assistenciais, como o concedido a idosos carentes que não contribuíram e deficientes, não foram computados. Segundo o Ministério da
Previdência, os gastos desses
benefícios chegaram a R$ 12 bilhões de janeiro a outubro deste ano -alta de 12,8% ante igual
período de 2006. No acumulado deste ano até outubro, o déficit da Previdência (exclui setor público) atingiu R$ 39 bilhões -0,5% menos do que no
mesmo período de 2006.
Segundo Caetano, o estudo
mostra que o Brasil "possui um
sistema muito oneroso e muito
generoso ao mesmo tempo".
"Insustentável"
Caetano justifica sua posição
com vários argumentos: o tempo de contribuição no país é
muito curto diante do período
que o segurado recebe o benefício, o valor das aposentadorias
é alto em comparação com a
renda média e há um carga elevada de subsídios -pessoas que
recebem sem ter contribuído.
"No Brasil, há quem contribua por 30 anos e receba o benefício por mais 30 anos. Isso é
insustentável."
Por isso, Caetano defende
uma idade mínima para a aposentadoria, como em outros
países. A medida, diz, aumentaria o tempo de contribuição.
Sugere ainda um redutor para
as pensões por morte, a exemplo do que ocorre em outros regimes -hoje, elas são integrais.
"O problema é que o Brasil
tem um sistema previdenciário
muito carregado de subsídios.
Mistura assistência social com
Previdência, o que não acontece nos outros países", diz o economista Raul Velloso, especialista em contas públicas.
Caetano aponta como problema a vinculação dos benefícios à correção do salário mínimo. "O ganho real expressivo do mínimo nos últimos anos
gera uma pressão adicional."
Velloso vê o mesmo obstáculo e diz que uma das soluções
para reduzir o déficit é congelar
os reajustes reais do mínimo.
Ele defende o aumento do tempo de contribuição e a redução
dos benefícios mais altos.
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