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Com crise, champanhe tem seus últimos dias de fartura
Após duas décadas de crescimento, previsão é que vendas do setor caiam neste ano
Diante das turbulências, distribuidores optaram
por escoar os estoques, deixando de realizar novas encomendas a vinicultores
LAETITIA CLAVREUL
DO "LE MONDE", EM ÉPERNAY (FRANÇA)
A avenida Champagne, a
Champs-Elysées de Épernay, já
contava com prédios de empresas de prestígio, como Moët &
Chandon ou Perriet-Jouet.
Agora também tem a sede recém-inaugurada do Sindicato
Geral dos Vinicultores.
É um símbolo importante,
mais ainda porque, agora que a
crise financeira veio perturbar
o setor, os únicos a resistir à
tempestade são os champanhes
de vinicultores. "Com mais de
70 milhões de garrafas vendidas por ano, temos nosso lugar
garantido entre os grandes",
diz o presidente do sindicato,
Patrick Lebrun. Mas o triunfo é
modesto: "É verdade que alguns vinicultores estão vendendo até mais que em 2007,
mas acho que não seremos
poupados em 2009".
As cifras causam espanto.
Em outubro, mês das grandes
compras para o Natal, elas foram catastróficas: queda de
16,5%, da qual 20,9% dos produtores de champanhe e 17,5%
das cooperativas. Com aumento de 3,3%, os champanhes de
vinicultores continuam a crescer. O recuo chega a 4,9% em
dez meses, e a previsão geral é
que o ano de 2008 termine no
vermelho, após duas décadas
de crescimento. Será que a festa acabou?
Divulgadas pelo Comitê Interprofissional dos Vinhos de
Champanha (CIVC), essas cifras são relativizadas em Épernay. Com mais de 338 milhões
de garrafas vendidas, 2007 foi
recorde absoluto. Teria sido difícil superar essa marca.
Mas ninguém previa uma inversão tão grande.
A culpa pode ser atribuída
para intermediários, importadores, grandes distribuidores
ou vendedores de vinho mais
prudentes ou mesmo assustados desde que a crise financeira
começou.
Nos últimos três meses eles
preferiram escoar seus estoques a investir ou multiplicar
pequenas encomendas. Optaram por um fluxo constante,
correndo o risco de ver-se sem
mercadoria para as festas de
fim de ano, já que os produtores
de Champanha não podem suprir a todos em poucos dias. Se
os champanhes de vinicultores
estão resistindo, é porque são
vendidos diretamente ao cliente final. Sua força permanece
garantida, comprovando que,
embora as vendas possam ter
caído, o mesmo não aconteceu
com o consumo.
Não é questão de se deixar levar pelo pânico. "Precisamos
recompor nossos estoques,
pois o risco principal que corremos é o de ficar sem estoque",
lembra Ghislain de Montgolfier (Bollinger), presidente da
União de Fabricantes de
Champanhe. "Em 2007, muitos diziam que o setor estava
superaquecido. Estávamos
vendendo demais", recorda Daniel Lorson, porta-voz do
CIVC, lembrando que será preciso esperar até 2020 para ver a
produção aumentar, graças à
extensão da AOC. Não existe
problema de excedentes aqui
-uma situação totalmente diferente da do setor automotivo.
A Champanha está descendo
de sua nuvem, portanto. Mas
não há garantias de que a aterrissagem será tranqüila. Todos
estimam que 2009 será um ano
difícil, e, nesse meio pequeno
em que todos ficam atentos ao
que fazem os outros, as pessoas
imaginam que o desaquecimento causará estragos.
Os anos 2008 e 2009 deverão
distinguir as atitudes prudentes das estratégias de risco às
quais alguns produtores cederam durante a euforia, quando
era tão fácil vender. Muitos elevaram seus preços. Paralelamente, multiplicaram-se as
tentativas de oferecer produtos
de alto padrão e foi reforçada a
divulgação de vinhos de safras
especiais e declinações "rosadas". O objetivo era um só: integrar o universo do luxo. Outros
optaram pela corrida ao grande
volume, e suas vendas recordes
de 2007 deverão ser seguidas
por um declínio nítido.
Os mais afetados serão os
grandes distribuidores. Os "valores seguros", com marcas fortes e bem consolidadas junto a
uma clientela fiel, podem resistir. O nível de endividamento
será decisivo, e é possível que
depois do fim do ano, empresas
que não consigam financiar
10% ou mais de estoque suplementar, ou que precisem de liquidez, ofereçam suas garrafas
a dez euros.
A Laurent-Perrier já anunciou perspectivas de queda para o exercício 2008-2009. Se o
grupo tinha previsto o impacto
que teria sobre suas vendas a
alta de preços de 17% que
acompanhou seu posicionamento na parte nobre do mercado, ele não conseguiu prever
a outra vertente de seus problemas atuais: a falta de estoque
devida à crise. Mas Yves Dumont, presidente do diretório,
prevê passar pela tempestade
"sem sofrer", já que, segundo
ele, sua empresa "não está endividada".
A cooperativa Nicolas Feuillate -responsável por quase
um terço das vendas de sua categoria- é discreta quanto a
seus resultados. "Vamos esperar o fim do ano para dizer
qualquer coisa", indica seu diretor geral, Dominique Pierre.
Tradução de CLARA ALLAIN
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