São Paulo, quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

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Com crise, champanhe tem seus últimos dias de fartura

Após duas décadas de crescimento, previsão é que vendas do setor caiam neste ano

Diante das turbulências, distribuidores optaram por escoar os estoques, deixando de realizar novas encomendas a vinicultores


LAETITIA CLAVREUL
DO "LE MONDE", EM ÉPERNAY (FRANÇA)

A avenida Champagne, a Champs-Elysées de Épernay, já contava com prédios de empresas de prestígio, como Moët & Chandon ou Perriet-Jouet. Agora também tem a sede recém-inaugurada do Sindicato Geral dos Vinicultores.
É um símbolo importante, mais ainda porque, agora que a crise financeira veio perturbar o setor, os únicos a resistir à tempestade são os champanhes de vinicultores. "Com mais de 70 milhões de garrafas vendidas por ano, temos nosso lugar garantido entre os grandes", diz o presidente do sindicato, Patrick Lebrun. Mas o triunfo é modesto: "É verdade que alguns vinicultores estão vendendo até mais que em 2007, mas acho que não seremos poupados em 2009".
As cifras causam espanto. Em outubro, mês das grandes compras para o Natal, elas foram catastróficas: queda de 16,5%, da qual 20,9% dos produtores de champanhe e 17,5% das cooperativas. Com aumento de 3,3%, os champanhes de vinicultores continuam a crescer. O recuo chega a 4,9% em dez meses, e a previsão geral é que o ano de 2008 termine no vermelho, após duas décadas de crescimento. Será que a festa acabou?
Divulgadas pelo Comitê Interprofissional dos Vinhos de Champanha (CIVC), essas cifras são relativizadas em Épernay. Com mais de 338 milhões de garrafas vendidas, 2007 foi recorde absoluto. Teria sido difícil superar essa marca.
Mas ninguém previa uma inversão tão grande. A culpa pode ser atribuída para intermediários, importadores, grandes distribuidores ou vendedores de vinho mais prudentes ou mesmo assustados desde que a crise financeira começou.
Nos últimos três meses eles preferiram escoar seus estoques a investir ou multiplicar pequenas encomendas. Optaram por um fluxo constante, correndo o risco de ver-se sem mercadoria para as festas de fim de ano, já que os produtores de Champanha não podem suprir a todos em poucos dias. Se os champanhes de vinicultores estão resistindo, é porque são vendidos diretamente ao cliente final. Sua força permanece garantida, comprovando que, embora as vendas possam ter caído, o mesmo não aconteceu com o consumo.
Não é questão de se deixar levar pelo pânico. "Precisamos recompor nossos estoques, pois o risco principal que corremos é o de ficar sem estoque", lembra Ghislain de Montgolfier (Bollinger), presidente da União de Fabricantes de Champanhe. "Em 2007, muitos diziam que o setor estava superaquecido. Estávamos vendendo demais", recorda Daniel Lorson, porta-voz do CIVC, lembrando que será preciso esperar até 2020 para ver a produção aumentar, graças à extensão da AOC. Não existe problema de excedentes aqui -uma situação totalmente diferente da do setor automotivo.
A Champanha está descendo de sua nuvem, portanto. Mas não há garantias de que a aterrissagem será tranqüila. Todos estimam que 2009 será um ano difícil, e, nesse meio pequeno em que todos ficam atentos ao que fazem os outros, as pessoas imaginam que o desaquecimento causará estragos.
Os anos 2008 e 2009 deverão distinguir as atitudes prudentes das estratégias de risco às quais alguns produtores cederam durante a euforia, quando era tão fácil vender. Muitos elevaram seus preços. Paralelamente, multiplicaram-se as tentativas de oferecer produtos de alto padrão e foi reforçada a divulgação de vinhos de safras especiais e declinações "rosadas". O objetivo era um só: integrar o universo do luxo. Outros optaram pela corrida ao grande volume, e suas vendas recordes de 2007 deverão ser seguidas por um declínio nítido.
Os mais afetados serão os grandes distribuidores. Os "valores seguros", com marcas fortes e bem consolidadas junto a uma clientela fiel, podem resistir. O nível de endividamento será decisivo, e é possível que depois do fim do ano, empresas que não consigam financiar 10% ou mais de estoque suplementar, ou que precisem de liquidez, ofereçam suas garrafas a dez euros.
A Laurent-Perrier já anunciou perspectivas de queda para o exercício 2008-2009. Se o grupo tinha previsto o impacto que teria sobre suas vendas a alta de preços de 17% que acompanhou seu posicionamento na parte nobre do mercado, ele não conseguiu prever a outra vertente de seus problemas atuais: a falta de estoque devida à crise. Mas Yves Dumont, presidente do diretório, prevê passar pela tempestade "sem sofrer", já que, segundo ele, sua empresa "não está endividada".
A cooperativa Nicolas Feuillate -responsável por quase um terço das vendas de sua categoria- é discreta quanto a seus resultados. "Vamos esperar o fim do ano para dizer qualquer coisa", indica seu diretor geral, Dominique Pierre.


Tradução de CLARA ALLAIN


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