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Agência quer criar cartão-frete para "alforriar" caminhoneiro
Rodrigo Capote/Folha Imagem
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O caminhoneiro Antonio Sousa, que reclama da carta-frete
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
A ANTT (Agência Nacional
de Transportes Terrestres)
quer a publicação já em janeiro
de medida provisória que cria o
cartão-frete no país e muda a
relação entre transportadoras e
caminhoneiros autônomos. "A
medida será a alforria dos autônomos", diz Bernardo Figueiredo, diretor-geral da ANTT.
A criação de um sistema eletrônico para pagamento do frete pode acabar com a chamada
carta-frete, instrumento ilegal
que aprisiona do ponto de vista
econômico a maioria dos caminhoneiros autônomos a regras
impostas pelos embarcadores.
Pelo modelo arcaico, os autônomos ficam à mercê de acordos entre transportadoras e
postos de serviço, que autorizam os postos a descontar os
créditos da carta-frete em gastos com combustível e alimentação ou ainda o recebimento
de dinheiro mediante deságios.
A carta-frete geralmente representa custos mais altos para
os autônomos. "Com a carta-frete, o óleo do diesel que custa
R$ 1,90 por litro passa a R$ 2,20
ou R$ 2,30", diz o autônomo
Antônio Vicente de Sousa, 63.
O sistema é ilegal e parte de
uma extensa rede de informalidade no transporte de carga,
mas é praticado livremente em
todo o país. "Já existe lei que
torna essa prática irregular, o
problema é que não temos mecanismo eficaz para coibir essa
prática", diz Figueiredo.
Segundo ele, o cartão-frete
será o instrumento pelo qual a
ANTT irá monitorar e coibir a
prática no país. O mecanismo
também pode ajudar a agência
a fiscalizar outra prática ilegal:
o não pagamento dos pedágios
por parte das empresas embarcadoras. Pela lei, os embarcadores são os responsáveis por
pagar o custo do frete. Segundo
estimativas da ANTT, só 30%
dos caminhoneiros do país recebem o vale-pedágio para o
custeio dessa despesa. "O que
ocorre é que o transportador
informa o valor do meu frete,
mas inclui ali o valor do pedágio. No fundo, quem está pagando o pedágio é a parte do
meu frete", diz Sousa.
Na via Dutra, Sousa diz que
recebeu R$ 7.100 pela viagem, o
que incluía todos os custos, incluindo pedágios. "O certo seria
o transportador me entregar o
vale-pedágio separado. Se você
reclamar, fica sem carga", diz.
Esse é o maior problema para
coibir a prática ilegal. Segundo
Norival de Almeida Silva, presidente do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do Estado de
São Paulo, poucos caminhoneiros denunciam empresas. "Todos temem ficar marcados e
sem frete. A situação é cruel,
mas é assim que funciona", diz.
Flavio Benatti, presidente da
NTC&Logística (associação
dos transportadores de carga),
reconhece a gravidade da situação. "Lamentavelmente [o uso
da carta-frete] ainda ocorre. É
algo que precisa acabar no setor, mas infelizmente é algo
ainda lento", diz. Segundo ele,
parte da solução implicará formalização dos caminhoneiros,
o que muitos não desejam. O
sistema torna o transporte rodoviário, a principal modalidade para o trânsito de mercadorias do país, um negócio com
imenso nível de informalidade.
Segundo a ANTT, o caminhoneiro é o mais atingido.
Sem comprovação de renda,
que a carta-frete não dá, ele
nem sequer pode se habilitar a
qualquer linha de financiamento para renovar o caminhão. O
que ajuda a explicar por que a
idade média da frota autônoma
é superior a 20 anos.
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