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MARCHA LENTA
Ameaça de guerra, escândalos corporativos e desaceleração dos Estados Unidos fazem o planeta patinar
Crescimento global está adiado para 2004
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
A tão esperada recuperação da
economia mundial deverá ser
adiada mais uma vez. A cada dia,
2003 emerge mais sombrio das
expectativas macroeconômicas.
Entre julho de 2002 e janeiro
deste ano, as projeções para o
crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) dos principais países
desenvolvidos se deterioraram
significativamente.
É o que mostra um levantamento feito pela Folha com base em
pesquisas publicadas mensalmente pela revista inglesa "The
Economist" que trazem estimativas feitas por importantes instituições financeiras e centros de
pesquisa.
Ameaça crescente de guerra,
rescaldos dos escândalos corporativos e dos atentados terroristas,
estouro da "bolha" no mercado
de tecnologia e desaceleração da
economia norte-americana.
Embaralhados, esses fatores
têm gerado uma grande incerteza,
palavra que, na prática, é sempre
associada a imprevisibilidade e,
na maioria das vezes, também a
pessimismo.
Em julho do ano passado, as
instituições, cujas previsões são
reunidas pela "The Economist",
previam, na média, crescimento
de 3,5% para a economia norte-americana em 2003. A última revisão, publicada há duas semanas,
mostrava que esse número havia
encolhido para 2,5%.
No caso da zona do euro, a estimativa para o PIB caiu ainda mais
no mesmo período, de 2,8% para
1,3%. Inglaterra, Alemanha, Japão, França, Canadá e Itália seguiram o mesmo rumo de desaceleração de expectativas de crescimento.
"Neste momento, a economia
norte-americana parece muito
fraca, a cotação do euro está alta e
existe a ameaça de guerra. Tudo
isso está contribuindo para as
projeções ruins", diz Robin Bew,
economista-chefe da Economist
Intelligence Unit (EIU), centro de
pesquisa econômica que pertence
ao mesmo grupo que publica a
"The Economist".
Problemas
As dúvidas sobre as consequências do conflito cada vez mais provável contra o Iraque assustam.
"Uma guerra sempre é um fator
inusitado. Faz com que a margem
de erro das previsões econômicas
aumente muito", diz Rodrigo
Azevedo, economista-chefe do
CSFB Garantia.
A apreciação do euro em relação ao dólar também preocupa. O
endividamento crescente do governo norte-americano provoca
um temor cada vez maior de que
o Fed (o banco central dos EUA)
eleve os juros. Isso enfraqueceria
ainda mais a principal economia
do mundo.
A consequência dessa percepção negativa é a desvalorização do
dólar e o fortalecimento do euro,
resultado de uma migração de investidores para a Europa.
Os riscos disso são que, enfraquecida, a economia norte-americana reduza sua demanda global, o que prejudicaria todo o
mundo, inclusive a Europa.
Nesse contexto, as esperanças
recaem sobre dois acontecimentos ainda incertos. Analistas apostam nas chances de que: 1) o recente pacote fiscal anunciado pelo
governo de George W. Bush consiga reanimar a economia dos
EUA até o fim do ano, 2) a provável guerra seja rápida, com vitória
dos americanos e isso leve a uma
forte queda no preço do petróleo.
Um relatório do banco Goldman Sachs, por exemplo, aponta
uma grande probabilidade, entre
40% e 60%, de que a guerra seja
rápida. Os preços de petróleo cairiam, voltaria a confiança no mercado de ações e a economia mundial se recuperaria. O CSFB e a
EIU também acreditam que essa
hipótese é a mais provável.
"Nosso cenário central prevê
que o possível conflito seja resolvido rapidamente. Neste caso, o
prêmio de risco já embutido nos
preços dos ativos cai, abrindo espaço para redução de juros nos
Estados Unidos e estímulo à economia global", diz Paulo Leme,
diretor de pesquisas de mercados
emergentes do Goldman Sachs,
em Nova York.
Segundo Leme, embora a média
dos indicadores aponte ainda
uma recuperação lenta, na margem há uma melhora mais acelerada: "Isso significa que a recuperação deverá ser maior já no segundo semestre".
De toda a forma, uma retomada
mais forte da economia mundial
parece ter sido adiada mais uma
vez. Expectativas de taxas razoavelmente melhores de crescimento -como as esperadas em meados do ano passado para 2003-
ficam adiadas novamente, agora
para 2004.
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