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São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 2003

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MARCHA LENTA

Ameaça de guerra, escândalos corporativos e desaceleração dos Estados Unidos fazem o planeta patinar

Crescimento global está adiado para 2004

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

A tão esperada recuperação da economia mundial deverá ser adiada mais uma vez. A cada dia, 2003 emerge mais sombrio das expectativas macroeconômicas.
Entre julho de 2002 e janeiro deste ano, as projeções para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) dos principais países desenvolvidos se deterioraram significativamente.
É o que mostra um levantamento feito pela Folha com base em pesquisas publicadas mensalmente pela revista inglesa "The Economist" que trazem estimativas feitas por importantes instituições financeiras e centros de pesquisa.
Ameaça crescente de guerra, rescaldos dos escândalos corporativos e dos atentados terroristas, estouro da "bolha" no mercado de tecnologia e desaceleração da economia norte-americana.
Embaralhados, esses fatores têm gerado uma grande incerteza, palavra que, na prática, é sempre associada a imprevisibilidade e, na maioria das vezes, também a pessimismo.
Em julho do ano passado, as instituições, cujas previsões são reunidas pela "The Economist", previam, na média, crescimento de 3,5% para a economia norte-americana em 2003. A última revisão, publicada há duas semanas, mostrava que esse número havia encolhido para 2,5%.
No caso da zona do euro, a estimativa para o PIB caiu ainda mais no mesmo período, de 2,8% para 1,3%. Inglaterra, Alemanha, Japão, França, Canadá e Itália seguiram o mesmo rumo de desaceleração de expectativas de crescimento.
"Neste momento, a economia norte-americana parece muito fraca, a cotação do euro está alta e existe a ameaça de guerra. Tudo isso está contribuindo para as projeções ruins", diz Robin Bew, economista-chefe da Economist Intelligence Unit (EIU), centro de pesquisa econômica que pertence ao mesmo grupo que publica a "The Economist".

Problemas
As dúvidas sobre as consequências do conflito cada vez mais provável contra o Iraque assustam.
"Uma guerra sempre é um fator inusitado. Faz com que a margem de erro das previsões econômicas aumente muito", diz Rodrigo Azevedo, economista-chefe do CSFB Garantia.
A apreciação do euro em relação ao dólar também preocupa. O endividamento crescente do governo norte-americano provoca um temor cada vez maior de que o Fed (o banco central dos EUA) eleve os juros. Isso enfraqueceria ainda mais a principal economia do mundo.
A consequência dessa percepção negativa é a desvalorização do dólar e o fortalecimento do euro, resultado de uma migração de investidores para a Europa.
Os riscos disso são que, enfraquecida, a economia norte-americana reduza sua demanda global, o que prejudicaria todo o mundo, inclusive a Europa.
Nesse contexto, as esperanças recaem sobre dois acontecimentos ainda incertos. Analistas apostam nas chances de que: 1) o recente pacote fiscal anunciado pelo governo de George W. Bush consiga reanimar a economia dos EUA até o fim do ano, 2) a provável guerra seja rápida, com vitória dos americanos e isso leve a uma forte queda no preço do petróleo.
Um relatório do banco Goldman Sachs, por exemplo, aponta uma grande probabilidade, entre 40% e 60%, de que a guerra seja rápida. Os preços de petróleo cairiam, voltaria a confiança no mercado de ações e a economia mundial se recuperaria. O CSFB e a EIU também acreditam que essa hipótese é a mais provável.
"Nosso cenário central prevê que o possível conflito seja resolvido rapidamente. Neste caso, o prêmio de risco já embutido nos preços dos ativos cai, abrindo espaço para redução de juros nos Estados Unidos e estímulo à economia global", diz Paulo Leme, diretor de pesquisas de mercados emergentes do Goldman Sachs, em Nova York.
Segundo Leme, embora a média dos indicadores aponte ainda uma recuperação lenta, na margem há uma melhora mais acelerada: "Isso significa que a recuperação deverá ser maior já no segundo semestre".
De toda a forma, uma retomada mais forte da economia mundial parece ter sido adiada mais uma vez. Expectativas de taxas razoavelmente melhores de crescimento -como as esperadas em meados do ano passado para 2003- ficam adiadas novamente, agora para 2004.

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