|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SEM FUNDOS
Comerciantes têm que escolher entre risco de inadimplência e taxas cobradas pelas administradoras de cartões
Consumidores trocam cheque por "dinheiro de plástico"
ALESSANDRA MILANEZ
DA REPORTAGEM LOCAL
O cheque vem caindo em desuso nos últimos anos. Em 1994, foram compensados 4,14 bilhões de
cheques. Em 2002, a previsão é
que esse número tenha ficado em
2,42 bilhões, uma queda de 41,5%.
Enquanto isso, as transações com
cartões de crédito cresceram
368,5% no mesmo período.
Os cartões de débito -que fazem débito automático em conta
corrente- também tiveram forte
crescimento. O Visa Electron, um
dos mais utilizados, tinha cerca de
8,5 milhões de cartões em circulação em 1998. Até setembro de
2002, o último levantamento disponível, eram 54,3 milhões de cartões, um salto de 536%.
Marcel Solineo, economista da
Associação Comercial de São
Paulo, no entanto, não endossa a
tese de que o cheque vai desaparecer. Segundo ele, a principal causa
da diminuição de seu uso foi o fim
da inflação galopante, que chegou
a 2.477% em 1993, antes do Plano
Real. Isso porque, diz Solineo,
quando havia inflação alta era
vantajoso usar o cheque, ganhar
tempo e pôr o dinheiro em aplicações com rendimentos diários, o
chamado mercado "overnight".
"Aquela psicose de ganhar até horas no "overnight" acabou."
Ele afirma que ainda existe espaço para que ambos os mercados cresçam: o de cheques e o de
cartões. "Não é preciso que o crescimento de um se dê em detrimento do de outro." Para isso,
diz, é preciso que haja uma evolução do consumidor, já que muitos
ainda não têm conta corrente.
Em 2001, havia no país 63,2 milhões de contas correntes, o que
não significa que 78% da população economicamente ativa seja titular de uma conta, pois muitos
têm duas ou mais contas.
Pelo lado do lojista, Solineo afirma que o comerciante avalia o
que é melhor no seu caso: correr
os riscos que o cheque implica
(cheque roubado, sem fundos ou
clonado) ou arcar com as taxas
das administradoras de cartões.
Walter Rabello, diretor-executivo de marketing da VisaNet, diz
que o comerciante paga duas taxas. Uma é o aluguel da máquina
que faz o processamento da compra. A taxa oficial cobrada pela
VisaNet é de R$ 75 mensais. O outro custo é um percentual pago
sobre cada compra efetuada pelo
sistema, que varia de 1,5% a 4%
para os cartões de crédito e de
0,9% a 3% para os de débito.
Segundo Oriam Corrêa, gerente
da assessoria da Fecomercio-SP
(Federação do Comércio do Estado de São Paulo), o comerciante
deixou de aceitar o cheque pré-datado porque a inadimplência
subiu muito: de 1994 a 2002, houve um aumento de 571% na proporção de cheques devolvidos para cada 1.000 compensados.
Para o consumidor, cheque e
cartões representam gastos. Pesquisa do Procon SP (Fundação de
Proteção e Defesa do Consumidor) informa que os bancos cobraram, em média, 8,82% de juros ao mês pelo cheque especial
em 2002.
Alguns bancos, como o ABN
Amro, oferecem cestas de serviços que dão direito a certo número de folhas compensadas por
mês (dez ou 20). Se o cliente exceder esse número, tem que pagar
uma taxa extra de R$ 0,95 por
cheque compensado.
Caso o consumidor escolha o
cartão de crédito, terá que arcar
com a taxa anual. No Banco do
Brasil, o maior do país, a anuidade varia de R$ 45 a R$ 120.
Além disso, se não pagar o valor
total da fatura, há os juros que, no
Banco do Brasil, são de 9% ao
mês. Isso equivale aos maiores juros do cheque especial do banco.
Texto Anterior: Com guerra prolongada, PIB pode cair Próximo Texto: PM recomenda que só se leve o necessário Índice
|