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São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 2003

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SEM FUNDOS

Comerciantes têm que escolher entre risco de inadimplência e taxas cobradas pelas administradoras de cartões

Consumidores trocam cheque por "dinheiro de plástico"

ALESSANDRA MILANEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O cheque vem caindo em desuso nos últimos anos. Em 1994, foram compensados 4,14 bilhões de cheques. Em 2002, a previsão é que esse número tenha ficado em 2,42 bilhões, uma queda de 41,5%. Enquanto isso, as transações com cartões de crédito cresceram 368,5% no mesmo período.
Os cartões de débito -que fazem débito automático em conta corrente- também tiveram forte crescimento. O Visa Electron, um dos mais utilizados, tinha cerca de 8,5 milhões de cartões em circulação em 1998. Até setembro de 2002, o último levantamento disponível, eram 54,3 milhões de cartões, um salto de 536%.
Marcel Solineo, economista da Associação Comercial de São Paulo, no entanto, não endossa a tese de que o cheque vai desaparecer. Segundo ele, a principal causa da diminuição de seu uso foi o fim da inflação galopante, que chegou a 2.477% em 1993, antes do Plano Real. Isso porque, diz Solineo, quando havia inflação alta era vantajoso usar o cheque, ganhar tempo e pôr o dinheiro em aplicações com rendimentos diários, o chamado mercado "overnight". "Aquela psicose de ganhar até horas no "overnight" acabou."
Ele afirma que ainda existe espaço para que ambos os mercados cresçam: o de cheques e o de cartões. "Não é preciso que o crescimento de um se dê em detrimento do de outro." Para isso, diz, é preciso que haja uma evolução do consumidor, já que muitos ainda não têm conta corrente.
Em 2001, havia no país 63,2 milhões de contas correntes, o que não significa que 78% da população economicamente ativa seja titular de uma conta, pois muitos têm duas ou mais contas.
Pelo lado do lojista, Solineo afirma que o comerciante avalia o que é melhor no seu caso: correr os riscos que o cheque implica (cheque roubado, sem fundos ou clonado) ou arcar com as taxas das administradoras de cartões.
Walter Rabello, diretor-executivo de marketing da VisaNet, diz que o comerciante paga duas taxas. Uma é o aluguel da máquina que faz o processamento da compra. A taxa oficial cobrada pela VisaNet é de R$ 75 mensais. O outro custo é um percentual pago sobre cada compra efetuada pelo sistema, que varia de 1,5% a 4% para os cartões de crédito e de 0,9% a 3% para os de débito.
Segundo Oriam Corrêa, gerente da assessoria da Fecomercio-SP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo), o comerciante deixou de aceitar o cheque pré-datado porque a inadimplência subiu muito: de 1994 a 2002, houve um aumento de 571% na proporção de cheques devolvidos para cada 1.000 compensados.
Para o consumidor, cheque e cartões representam gastos. Pesquisa do Procon SP (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor) informa que os bancos cobraram, em média, 8,82% de juros ao mês pelo cheque especial em 2002.
Alguns bancos, como o ABN Amro, oferecem cestas de serviços que dão direito a certo número de folhas compensadas por mês (dez ou 20). Se o cliente exceder esse número, tem que pagar uma taxa extra de R$ 0,95 por cheque compensado.
Caso o consumidor escolha o cartão de crédito, terá que arcar com a taxa anual. No Banco do Brasil, o maior do país, a anuidade varia de R$ 45 a R$ 120.
Além disso, se não pagar o valor total da fatura, há os juros que, no Banco do Brasil, são de 9% ao mês. Isso equivale aos maiores juros do cheque especial do banco.

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