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COMÉRCIO EXTERIOR
País amplia transações com o mercado mais populoso do planeta, mas corre o risco de transferir tecnologia
Negócio na China seduz e expõe Brasil a armadilhas
CÍNTIA CARDOSO
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Mais 1,2 bilhão de potenciais
consumidores, taxa de crescimento do PIB de 8% ao ano na última década. A despeito das enormes oportunidades, a intensificação do comércio com a China esconde armadilhas para o Brasil.
De acordo com a Secex (Secretaria de Comércio Exterior), de janeiro a novembro do ano passado
o Brasil exportou US$ 2,348 bilhões para a China. O total é 11%
maior do que as vendas brasileiras ao Oriente Médio (US$ 2,120
bilhões no mesmo período) e apenas 29% menos que os US$ 2,994
bilhões obtidos no comércio com
o Mercosul.
""A população chinesa é toda de
consumidores, no sentido básico
de que todos demandam produtos e serviços. Essa é a razão pela
qual a China representa um mercado com tanto apelo", disse à Folha James Dorn, do Cato, centro
de pesquisas econômicas baseado
em Washington (EUA).
O Politburo (a cúpula do Partido Comunista) privilegia a formação de joint ventures entre empresas estrangeiras e chinesas.
Mas, segundo Durval Noronha,
sócio do único escritório de advocacia brasileiro na China, há uma
lista de setores nos quais empresas estrangeiras podem se estabelecer de forma independente.
Comércio orientado
"As compras na China são
"orientadas"", argumenta José Augusto de Castro, diretor da AEB
(Associação dos Exportadores de
Brasil). ""É política comercial chinesa importar produtos in natura
e processar internamente para estimular a produção local e dar
emprego a todos", completa.
As exportações do complexo
soja ilustram essa circunstância.
Dados da Abiove (Associação
Brasileira das Indústrias de Óleos
Vegetais) mostram que, em 1995,
a China importou quase 1 milhão
de toneladas de óleo de soja. A
partir do ano seguinte, porém, as
importações do produto declinaram -chegaram a 17 mil toneladas em 2001- em favor da importação de soja em grão. Para a
associação, esse movimento foi
consequência da política chinesa,
cujo centro é o incentivo da industrialização local com importação de insumos básicos.
No ano passado, a pauta de exportações brasileiras para o país
concentrou-se, justamente, em
matérias-primas para transformação nas indústrias chinesa: soja em grão e minério de ferro.
A maior e mais óbvia armadilha
é o fato de o que, ao exportar tecnologia para a China, o Brasil termine por armar um concorrente.
"A transferência de tecnologia é
uma faca de dois gumes. O Brasil
pode acabar sendo deixado para
trás", disse Dirceu Coutinho, da
Aduaneiras Comércio Exterior.
As vantagens comparativas chinesas, que aliam da educação de
boa qualidade e mão-de-obra barata para produzir e para exportar, podem corroer a participação
brasileira no mercado mundial.
Essa "armadilha" é parte do jogo do comércio internacional, na
avaliação de Antonio Lacerda,
presidente da Sobeet (Sociedade
Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais). "Em vez da
globalização, a China privilegiou
o plano de Estado e usa o tamanho do mercado interno como
barganha para atrair investimentos. Para se beneficiar da abertura
desse mercado, precisaremos
aprender a negociar", afirma.
O economista sustenta que a
China é um parceiro indispensável para o Brasil. Aviação, máquinas e equipamentos e, sobretudo,
produtos agrícolas são os itens
que podem se beneficiar do crescimento da economia chinesa.
Para Antonio Carlos Manfredini, professor da FGV-SP, o intercâmbio tecnológico para a China
não representa ameaça iminente.
"O Brasil faz bem em exportar
tecnologia. Se o Brasil não fizer isso, outro país vai ocupar esse espaço. O importante é não deixar
de lado o investimento em tecnologia e educação. Se o Brasil abandonar essas áreas, aí sim estará
correndo perigo", argumenta.
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