São Paulo, segunda-feira, 26 de janeiro de 2004

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EMPRÉSTIMOS

Companhias aproveitam crédito melhor para captar mais no exterior, e volume dos débitos atinge US$ 37,3 bi em 2003

Dívida em dólar das empresas bate recorde

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O bom humor da economia internacional em relação ao Brasil e o mercado de linhas de crédito mais aberto levaram as empresas brasileiras a bater o recorde do volume de dívidas em dólar em 2003.
Levantamento com base em dados dos balanços financeiros de 105 empresas abertas (com ações em Bolsa) mostra que, de janeiro a setembro de 2003, o volume de dívida líquida das companhias atingiu US$ 37,3 bilhões.
O montante é maior que o apurado de janeiro a dezembro nos cinco anos anteriores, quando a base de companhias analisadas foi a mesma -para que não ocorressem desvios. De 1998 a 2002, a média anual alcançou US$ 33,8 bilhões.
No entanto, as taxas de juros sobre os empréstimos caíram e os prazos se alongaram. Além disso, diferentemente de 2002, os empresários não enfrentaram resistência dos credores para renegociar seus débitos. Naquele ano, a ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas eleitorais despertou medo nos investidores, e o crédito ficou caro e escasso.
As captações em 2003 atingiram US$ 23,7 bilhões, ante US$ 9,2 bilhões no ano anterior. E continuam crescendo neste ano: só nos 16 primeiros dias de janeiro, foi captado US$ 1,915 bilhão, valor que representa 41% do total obtido pelo setor privado em todo o primeiro trimestre de 2003.
Só as empresas não-financeiras foram responsáveis por US$ 1,555 bilhão do valor captado em janeiro. Os bancos ficaram para trás e captaram menos (US$ 360 milhões), segundo balanço da área econômica do ABN Amro Bank.
Dívidas em moeda estrangeira podem pressionar as contas das empresas caso a cotação da moeda dispare. Estima-se que 70% dos débitos de companhias no país estejam contratados em dólar. "Há sempre o risco de o cenário internacional mudar e aparecerem dificuldades para o setor privado captar e rolar os seus vencimentos no exterior. O mais provável, porém, é que 2004 siga positivo", diz Carlos Urso, economista da LCA Consultores.
Um exemplo de melhora do mercado de crédito é a Braskem. A petroquímica captou em janeiro US$ 250 milhões, a taxas de 11,75% ao ano e prazo de pagamento de dez anos.
Em setembro de 2003, por menos recursos (US$ 200 milhões), o rendimento anual ficou em 12,5% e o prazo de vencimento atingiu cinco anos.
Levantamento de bancos mostra que, em janeiro, o prazo médio para pagamento dessas captações no setor privado atingiu 13 anos (156 meses). Se retirado dessa conta o "efeito Vale do Rio Doce" (a empresa emprestou neste mês US$ 500 milhões com vencimento em 30 anos), o prazo médio cai para 84 meses.
Em meados de 2003, por exemplo, o prazo era de 27 meses.
Há economistas, no entanto, que acreditam que esse ritmo acelerado de captações em janeiro e expansão nos vencimentos tenda a desacelerar.
Explica-se: o mercado aguarda uma alta da taxa de juros pelo banco central inglês em fevereiro, e o investidor estrangeiro deve mirar a oportunidade de obter mais ganhos em um mercado mais seguro. Além disso, as captações no exterior tendem a cair e podem ganhar força no mercado interno. Isso por conta de uma estimativa, a médio prazo, de queda dos juros desses contratos de empréstimos no país.

Levantamento
O levantamento analisou 105 companhias que apresentaram dados completos sobre dívidas desde 1998. Há 370 companhias abertas no Brasil, mas nem todas apresentaram os resultados em todos os anos.
O resultado consolidado de 2003 (até dezembro) será conhecido após a publicação do balanço anual das empresas abertas. Analistas esperam recorde ao levar em conta os volumes elevados de captações feitas até dezembro.

Em reais
Na análise das dívidas em moeda nacional, a conta é diferente. Estudo da Economática mostra que a dívida financeira líquida das empresas de janeiro a setembro de 2003 estava em R$ 144,2 milhões -valor deflacionado pelo IGP-DI. Em 2002, o montante chegou a R$ 165,6 bilhões. O motivo foi a valorização do real no ano passado.


Colaboraram Maeli Prado e Fabricio Vieira, da Reportagem Local

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