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EMPRÉSTIMOS
Companhias aproveitam crédito melhor para captar mais no exterior, e volume dos débitos atinge US$ 37,3 bi em 2003
Dívida em dólar das empresas bate recorde
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O bom humor da economia internacional em relação ao Brasil e
o mercado de linhas de crédito
mais aberto levaram as empresas
brasileiras a bater o recorde do
volume de dívidas em dólar em
2003.
Levantamento com base em dados dos balanços financeiros de
105 empresas abertas (com ações
em Bolsa) mostra que, de janeiro
a setembro de 2003, o volume de
dívida líquida das companhias
atingiu US$ 37,3 bilhões.
O montante é maior que o apurado de janeiro a dezembro nos
cinco anos anteriores, quando a
base de companhias analisadas
foi a mesma -para que não ocorressem desvios. De 1998 a 2002, a
média anual alcançou US$ 33,8
bilhões.
No entanto, as taxas de juros sobre os empréstimos caíram e os
prazos se alongaram. Além disso,
diferentemente de 2002, os empresários não enfrentaram resistência dos credores para renegociar seus débitos. Naquele ano, a
ascensão de Luiz Inácio Lula da
Silva nas pesquisas eleitorais despertou medo nos investidores, e o
crédito ficou caro e escasso.
As captações em 2003 atingiram
US$ 23,7 bilhões, ante US$ 9,2 bilhões no ano anterior. E continuam crescendo neste ano: só nos
16 primeiros dias de janeiro, foi
captado US$ 1,915 bilhão, valor
que representa 41% do total obtido pelo setor privado em todo o
primeiro trimestre de 2003.
Só as empresas não-financeiras
foram responsáveis por US$ 1,555
bilhão do valor captado em janeiro. Os bancos ficaram para trás e
captaram menos (US$ 360 milhões), segundo balanço da área
econômica do ABN Amro Bank.
Dívidas em moeda estrangeira
podem pressionar as contas das
empresas caso a cotação da moeda dispare. Estima-se que 70%
dos débitos de companhias no
país estejam contratados em dólar. "Há sempre o risco de o cenário internacional mudar e aparecerem dificuldades para o setor
privado captar e rolar os seus vencimentos no exterior. O mais provável, porém, é que 2004 siga positivo", diz Carlos Urso, economista da LCA Consultores.
Um exemplo de melhora do
mercado de crédito é a Braskem.
A petroquímica captou em janeiro US$ 250 milhões, a taxas de
11,75% ao ano e prazo de pagamento de dez anos.
Em setembro de 2003, por menos recursos (US$ 200 milhões), o
rendimento anual ficou em 12,5%
e o prazo de vencimento atingiu
cinco anos.
Levantamento de bancos mostra que, em janeiro, o prazo médio
para pagamento dessas captações
no setor privado atingiu 13 anos
(156 meses). Se retirado dessa
conta o "efeito Vale do Rio Doce"
(a empresa emprestou neste mês
US$ 500 milhões com vencimento
em 30 anos), o prazo médio cai
para 84 meses.
Em meados de 2003, por exemplo, o prazo era de 27 meses.
Há economistas, no entanto,
que acreditam que esse ritmo acelerado de captações em janeiro e
expansão nos vencimentos tenda
a desacelerar.
Explica-se: o mercado aguarda
uma alta da taxa de juros pelo
banco central inglês em fevereiro,
e o investidor estrangeiro deve
mirar a oportunidade de obter
mais ganhos em um mercado
mais seguro. Além disso, as captações no exterior tendem a cair e
podem ganhar força no mercado
interno. Isso por conta de uma estimativa, a médio prazo, de queda
dos juros desses contratos de empréstimos no país.
Levantamento
O levantamento analisou 105
companhias que apresentaram
dados completos sobre dívidas
desde 1998. Há 370 companhias
abertas no Brasil, mas nem todas
apresentaram os resultados em
todos os anos.
O resultado consolidado de
2003 (até dezembro) será conhecido após a publicação do balanço
anual das empresas abertas. Analistas esperam recorde ao levar
em conta os volumes elevados de
captações feitas até dezembro.
Em reais
Na análise das dívidas em moeda nacional, a conta é diferente.
Estudo da Economática mostra
que a dívida financeira líquida das
empresas de janeiro a setembro
de 2003 estava em R$ 144,2 milhões -valor deflacionado pelo
IGP-DI. Em 2002, o montante
chegou a R$ 165,6 bilhões. O motivo foi a valorização do real no
ano passado.
Colaboraram Maeli Prado e
Fabricio Vieira, da Reportagem Local
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