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LUÍS NASSIF
A indústria do cinema
Na discussão sobre a TV
digital, um dos pontos centrais é o da indústria do audiovisual -que tem na televisão,
mundialmente, uma de suas
maiores fontes de financiamento.
Nos últimos anos houve um
boom no setor motivado pela
entrada das produtoras de publicidade no mercado e pela
criação de mecanismos de incentivo fiscal -a Lei do Audiovisual, a Lei Rouanet (de mecenato) e, mais recentemente, o
Funcine, um fundo de investimento no cinema, regulado pela
CVM (Comissão de Valores Mobiliários), com incentivos fiscais
que podem chegar a 68% do investimento.
Sócio de uma produtora e gestora de um fundo, gestor do
Fundo Funcine da Rio Bravo,
Thierry Perrone trabalhou dez
anos em Paris em bancos de investimento e acompanhou o renascimento da indústria cinematográfica francesa. Por lá, a
produção anual chega a 1 bilhão.
Perrone considera o modelo
francês adequado para o Brasil.
Lançado em 1981 pelo ministro
da Cultura de François Miterrand, Jack Lang, começou a ser
implementado em 1983, com
forte intervenção no Estado nos
aspectos econômicos. Foram
criados diversos tipos de incentivo, as redes de televisão foram
obrigadas a investir na produção nacional e os distribuidores
incentivados a levarem os filmes
franceses para o mundo, com o
Estado investindo fortemente
na promoção do filme francês
no exterior.
Demorou 20 anos para pegar e
custou caro, constata Perrone.
Mas o investimento foi recompensado com a criação de empregos, pagamento de impostos
e, principalmente, pela questão
político-estratégica. Cultura é
questão de Estado, diz ele.
Integram a cadeia de produção do filme a produção e distribuição, a exibição (as salas de
cinema) e a indústria técnica
(os laboratórios). O Brasil tem
bons quadros em quase toda a
cadeia produtiva do cinema. A
entrada de publicitários no pedaço melhorou sensivelmente o
acabamento técnico dos filmes.
Existem bons diretores, bons
criadores, bons laboratórios.
Faltam roteiristas talentosos,
que ficam na televisão aberta.
O maior problema é a escassez
de salas de cinema. Existem 200
salas de cinema, uma para cada
90 mil habitantes. No México, a
proporção é de uma para cada
33 mil. Na Argentina, uma para
40 mil. Na França, uma para cada 9.000 habitantes. Com a escassez de salas, se um exibidor
não consegue 40% de ocupação
para um filme, imediatamente
o tira de cartaz, porque tem
mais quatro filmes esperando.
Na França, com 25% de ocupação o filme fica. E existe o problema da distribuição . Por
aqui, as "majors" (grandes empresas mundiais da área) têm
85% do mercado de distribuição, contra 15% das empresas
nacionais. Na França, a proporção é inversa.
Hoje em dia, em um projeto de
filme bem sucedido, 30% da receita vem do cinema, 50% do
DVD e 20% da TV. Com raras
exceções, não se pode contar
com a exportação, a não ser em
casos de filmes em co-produção
internacional.
Barretão
Ao contrário do que publiquei
na coluna "A troca de guarda
no cinema", o produtor Luiz
Carlos Barreto faz parte da banda profissionalizada do cinema
brasileiro, apesar de insucessos
eventuais, que fazem parte do
jogo.
Email - Luisnassif@uol.com.br
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