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Governo banca 76% do PAC, diz Dilma
Dos R$ 504 bi de investimentos previstos no programa, R$ 384 bi serão bancados com dinheiro público, segundo ministra
Gerente do PAC afirma não ter projeto político, diz que rigor fiscal será mantido e que não haverá "balcão de negociação" do programa
Alan Marques - 22.jan.07/Folha Imagem
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A ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, a "gerente' do PAC |
VALDO CRUZ
PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Dos R$ 503,9 bilhões de investimentos previstos no PAC
(Programa de Aceleração do
Crescimento), R$ 384 bilhões
serão bancados com dinheiro
público do Orçamento da
União, das estatais federais e de
financiamentos de bancos oficiais. "É dinheiro público direto na veia", disse a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), autora do cálculo "conservador"
que aponta que 76% dos investimentos virão do governo.
Em entrevista à Folha, Dilma admitiu ajuste nos gastos
públicos se o país não crescer
5%. "Ninguém administra um
país de olhos vendados", justificou. Mas afirma que, se isso
ocorrer, o programa não ficará
comprometido. "Dá uma redução da dívida [pública] menor,
mas continua consistente."
Gerente do PAC, Dilma disse
que o governo não vai transformá-lo num "balcão de negociação". A ministra só admite alguns "ajustes na margem".
Reconhece, porém, que o governo pode negociar com os governadores quando for tratar da prorrogação da CPMF.
Diz que o PAC não significa o
fim da era Palocci, mas vê o começo de uma "nova receita".
Elogia o ex-ministro da Fazenda e afirma que foi sua política
que permitiu a Lula essa "nova
receita", sem abrir mão da "robustez fiscal".
Crítica dos juros altos, Dilma
não acha que a decisão do Banco Central, de diminuir o ritmo
da queda da Selic, possa comprometer o PAC. "O que importa é que [a taxa] mantém a tendência de queda."
FOLHA - O que a sra. achou da decisão do Copom, criticada por empresários e trabalhadores? Pode influenciar negativamente o PAC?
DILMA - Não, não concordo. O
que acho muito positivo na decisão é mais o sentido dela do
que o tamanho. O que importa
é que mantém a tendência de
queda da taxa de juros. O processo teve continuidade, talvez
uma pequena desaceleração.
FOLHA - No governo, havia defensores da redução de 0,50, e não 0,25
ponto percentual.
DILMA - No mercado também,
mas o importante é que está
mantida a tendência. Para o
PAC, é isso o que importa.
Combinado com o crescimento, isso se reflete numa redução
consistente do tamanho da dívida pública ante o PIB, além de
uma redução muito significativa do déficit nominal.
FOLHA - E uma interrupção da queda prejudicaria o PAC?
DILMA - Não vejo nada na conjuntura econômica e nas variáveis macroeconômicas que justifique interrupção. O que não
podemos deixar de dizer é que,
do nosso ponto de vista, não vemos muito motivo para isso.
FOLHA - O ex-ministro José Dirceu
pediu ontem a demissão do presidente do Banco Central, Henrique
Meirelles. O que a sra. acha disso,
vindo de uma pessoa com grande
influência no PT?
DILMA - Eu prefiro não comentar. Não temos uma crise por
conta disso [queda de 0,25 ponto nos juros]. Um país precisa
ter planejamento estratégico.
Ao mesmo tempo, manteremos
a robustez fiscal, porque nós
não rompemos com nenhum
dos preceitos que adotamos
desde 2003.
FOLHA - Como a sra. avalia as críticas ao PAC, principalmente dos governadores, insatisfeitos com a escolha das obras e com a perda de receita por conta de desonerações?
DILMA - Antes do PAC, falei
com vários governadores.
Achei uma coisa muito curiosa:
todos os pleitos coincidiam
com o que estava no PAC. Eram
os nossos. É muito difícil tamanha dissintonia entre o que é
necessário numa região, entre
o governo federal e o estadual.
E eu quero crer que, na grande
maioria dos Estados, são as
obras prioritárias possíveis.
Porque são aquelas que são factíveis no curto e no médio prazo. Algumas podem ser importantes, mas terá de ter projeto.
Temos recursos escassos.
FOLHA - Pode haver mudanças negociadas com os governadores?
DILMA - Para ter mudança, algo
tem de sair. A hipótese de que
está tudo aberto para ser negociado não fecha na realidade.
Tenho a orientação clara do governo no sentido de dizer que
não estamos abertos a negociações desse tipo. O PAC não é
uma lista de obras.
FOLHA - O PAC está ou não fechado
a ajustes?
DILMA - Está fechado a ajustes.
A estrutura do PAC tem uma
lógica, a de que estamos trabalhando com recursos escassos.
Para incluir qualquer coisa, outra tem de sair. Como acho que
sempre é possível um reajuste
na margem, não vou dizer que
não pode tirar um projeto lá.
Agora, da forma como estava
sendo dito, que estava aberto a
negociação, não é um balcão de
negociação, é um programa.
São ajustes muito na margem.
FOLHA - O PAC foi montado num
cenário de crescimento de 4,5% neste ano e de 5% nos próximos. Se essas metas não forem atingidas, como fica o plano? O ministro Guido
Mantega disse que, se não crescermos 5%, "estaremos perdidos".
FOLHA - Isso é uma expressão
retórica dele. O que eu acho é o
seguinte: para nós, é muito melhor que cresça 4,5%, 5% ou até
mais, porque vai até sobrar espaço para incluir alguma coisa
no PAC. Em qualquer processo
de gasto público, você tem a
possibilidade de ajustar, ninguém administra um país de
olhos vendados. Você administra com ajuste fino.
O PAC não é R$ 67 bilhões de
verbas públicas apenas. O governo mobilizou todas as suas
instituições financeiras para
assegurar uma adequação entre as estruturas de financiamento e as obras.
FOLHA - E isso garante 5% de crescimento em 2008?
DILMA - Acho que vamos ter
efeito direto das medidas, que o
Mantega calculava de 0,5 ponto
percentual a 1 ponto do PIB.
FOLHA - Mas, se não crescer 5%, as
metas fiscais ficam comprometidas?
DILMA - Não acredito, não
compromete. Dá uma redução
menor do tamanho da dívida
ante o PIB, mas continua sendo
consistente. Pode ser de 40%,
42% ou 43% no final do governo, mas o importantíssimo é
que vai manter a trajetória de
redução da relação dívida/PIB.
FOLHA - Quanto dos R$ 504 bilhões
de investimentos previstos no PAC
para os quatro anos do segundo
mandato é dinheiro novo?
DILMA - Fiz uma conta, conservadora, que mostra que, nos
quatro anos, de dinheiro público, entre orçamento fiscal, estatais e financiamentos de bancos oficiais, dá R$ 383,62 bilhões. União pura, dinheiro público direto na veia. Numa conta conservadora, é no mínimo
76%. É bem mais do que estávamos investindo, antes, no primeiro mandato, tínhamos todas as dificuldades.
FOLHA - Quando vocês lançaram o
PAC, disseram que a infra-estrutura
é uma das principais prioridades. Então, por que os investimentos no setor não deslancharam no primeiro
mandato?
DILMA - Herdamos uma situação fiscal gravíssima, juros e inflação em alta, e absoluta ausência, inexistência de projetos. Os poucos que pegamos tinham problemas, distorções.
FOLHA - Foi um erro não incluir
CPMF e DRU no PAC? Pode aumentar o preço da negociação?
DILMA - Não. Tem prazo grande para negociar. Às vezes, é
melhor negociar em partes.
Nem estou sabendo que vai ter
negociação com governadores
sobre isso agora. Não está na
pauta.
FOLHA - O PAC marca o fim da era
Palocci?
DILMA - Não. O Palocci deu
uma grande contribuição ao
país. No início do governo Lula,
o país estava numa situação de
absoluto desequilíbrio. Todo
mundo apostava que a gente ia
desta para melhor. O mérito do
Palocci foi ter construído as
condições para darmos esse
passo. Estranho seria que, hoje,
com uma situação melhor, repetíssemos a receita de 2003.
FOLHA - Mas não é o fim de uma
era de ajuste fiscal?
DILMA - Se você me pergunta se
transformamos a realidade,
sim. O que fizemos de 2003 a
2006 permite que a realidade
de 2007 seja radicalmente diferente da de 2003. Nós não estamos mudando a política econômica, estamos mudando é a
realidade. Nós superamos uma
fase que nos permite adotar
uma nova receita.
FOLHA - É a era Dilma agora?
DILMA - Isso é uma tentativa de
diminuir o PAC. Ele não é um
produto de uma pessoa, mas de
um governo, uma obra coletiva,
uma obra do governo.
FOLHA - O presidente Lula pode
tentar um terceiro mandato?
DILMA - Está fora de cogitação.
FOLHA - O governo pode reduzir o
superávit abaixo de 3,75%?
DILMA - De jeito nenhum.
FOLHA - A parte fiscal do PAC não
foi muito tímida?
DILMA - Não.
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