|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Lula manda Meirelles e Mantega explicarem juros
Ministro e presidente do BC dizem que o importante é sinalizar queda no longo prazo
Preocupação é evitar que
decisão seja um balde de
água fria na estratégia de
criar clima favorável ao
investimento com o PAC
CLÓVIS ROSSI
SHEILA D'AMORIM
ENVIADOS ESPECIAIS A DAVOS
Na tentativa de rebater a repercussão negativa da decisão
do Banco Central de desacelerar o ritmo de queda dos juros,
o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva mandou o ministro
Guido Mantega (Fazenda) e o
presidente do BC, Henrique
Meirelles, falarem sobre o assunto assim que os três desembarcaram, ontem, em Davos (Suíça), para o Fórum Econômico Mundial.
"Imagino que é uma estratégia para prolongar as reduções
da taxa de juros ao longo do
tempo", disse Mantega, ao lado
de Meirelles, referindo-se à decisão do Copom (Comitê de Política Monetária do BC) da véspera. "É uma dedução que faço." Na verdade, esse argumento foi usado pelo próprio presidente do BC para sustentar a
posição da maioria dos diretores do órgão que integram o Copom e, por 5 a 3, optaram por
uma queda menor da taxa Selic.
Segundo a Folha apurou,
Meirelles defendeu que o importante é indicar aos empresários e investidores que os juros continuarão caindo no longo prazo. Nas contas dele, ao
cortar só 0,25 ponto percentual na taxa, para 13%, em vez
de 0,5 ponto, como vinha fazendo, o BC evitará riscos de
interrupção da trajetória e poderá chegar mais rapidamente
a uma taxa de juros menor.
Mantega já tinha uma sinalização do BC desse cenário. Ele
conversou com o presidente do
órgão antes da reunião do Copom. Durante a viagem para a
Suíça, no avião presidencial, os
dois falaram reservadamente
por quase uma hora com Lula
para unificar o discurso.
O presidente não quer que a
decisão do Copom seja um balde de água fria na estratégia do
governo de criar um clima favorável ao investimento privado com o anúncio do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Por isso, ao ser questionado sobre a decisão do Copom na chegada do hotel onde
teve uma série de encontros, o
presidente disse: "Vocês vão
conversar agora com o Guido e
o Meirelles".
Na seqüência, os dois foram
convocados para ir ao local pelo porta-voz André Singer. "Estamos no caminho certo. [A taxa] caiu na medida adequada
considerada pelo Copom, que
faz suas análises e tem que entregar uma meta de inflação",
disse Mantega. "O importante
é que os juros estão caindo e
acredito que vão continuar nos
próximos meses, ajudando a
cumprir os objetivos definidos
pelo PAC, que são um crescimento maior da economia."
Pouco à vontade, como seu
companheiro de governo, Meirelles evitou elevar a polêmica.
"O ministro já colocou com
muita clareza o que ele quis dizer. Temos uma relação absolutamente cordial, bem-humorada, e trabalhamos com muita
sintonia", respondeu, ao ser
questionado sobre a cobrança
pública que Mantega fez na segunda para os juros caírem.
Depois da entrevista coletiva
conjunta, Mantega disse à Folha que o BC detectara o aquecimento de certos setores da
economia, o que explicaria a redução menor dos juros. Mas, se
as próximas quedas ficarem no
nível anteontem decidido,
Mantega imagina que a redução até o fim do ano será de 1,5
ponto percentual para 13%.
"Está muito bom."
Tarso
Afinado com o discurso de
todo o governo pós-queda tímida do juro, o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, disse que o importante não é
o tamanho da redução, mas a
trajetória de queda.
"É óbvio que uma grande
parte da sociedade brasileira
esperava uma taxa de juro ainda mais reduzida. Mas tem
duas coisas essenciais. Primeiro, é que houve um rebaixamento, que dá continuidade ao
declínio da taxa de juros, que é
fundamental para o país. Segundo, o presidente não politizou essa questão, conferiu autonomia e respeitou."
Colaborou a Sucursal de Brasília
Texto Anterior: Luiz Carlos Mendonça de Barros: O crescimento da economia Próximo Texto: Dirceu defende demissão de dirigente do BC Índice
|