São Paulo, terça-feira, 26 de janeiro de 2010

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Petrobras zera perda com preço da gasolina

Segundo especialistas, estatal já compensou perdas entre 2005 e 2008 por não ter repassado alta do barril aos combustíveis

Mas eles acham que a empresa não reduzirá preços, como chegou a dizer, porque quer fazer caixa para explorar pré-sal

SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

A Petrobras já compensou os R$ 10 bilhões que deixou de faturar ao manter os preços da gasolina e do diesel defasados em relação à cotação internacional do petróleo entre 2005 e 2008, dizem especialistas. No ano passado, a empresa chegou a dizer que baixaria os preços quando isso ocorresse -mas não é o que o mercado espera, embora o Brasil tenha uma das gasolinas mais caras do mundo.
A compensação ocorreu ao longo de 2009, quando, diferentemente dos três anos anteriores, os preços da gasolina e do diesel vendidos nas refinarias da Petrobras estavam acima das cotações internacionais. Isso aconteceu porque, no auge da crise, a cotação do barril foi derrubada de US$ 140 para menos de US$ 40. Hoje, está entre US$ 70 e US$ 75.
Especialistas ouvidos pela Folha calculam que a Petrobras já tenha conseguido recuperar, só no ano passado, entre R$ 10 bilhões e R$ 12 bilhões.
Quase um quarto do petróleo refinado no Brasil é importado, porque parte das refinarias brasileiras não processa o óleo pesado produzido no Brasil. Então, quando o óleo importado está mais caro lá fora, como ocorreu entre 2005 e 2008, os custos da Petrobras para produção dos combustíveis sobem -segundo especialistas, não chega a ocorrer prejuízo.
Além disso, nesse período a Petrobras perdia dinheiro ao importar diesel, já que comprava mais caro e vendia ao preço tabelado no Brasil. Segundo analistas, o impacto dessa política é menor do que o gerado pela importação de petróleo.
"Uma empresa privada, em um mercado aberto, repassaria essas variações de custos aos preços finais", diz Nelson Rodrigues, analista de petróleo do Banco do Brasil.
Isso, porém, aconteceu de forma tímida, por determinação do governo, já que a alta dos combustíveis tem impacto direto na inflação e reflexos em toda a cadeia produtiva.
O único aumento para ajuste ao cenário externo, antes da crise, foi em maio de 2008, quando a gasolina subiu 10%, e o diesel, 15%. Para segurar o efeito na inflação, o governo reduziu a Cide, tributo que incide sobre os combustíveis.
No início de 2009, o diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, disse que os combustíveis só seriam reduzidos quando a estatal compensasse as perdas com a defasagem de preço dos anos anteriores.
Em junho, justificando realinhamento com preços internacionais, o governo autorizou corte na gasolina nas refinarias em 4,5%, e no diesel, em 15%. Ao consumidor, porém, o impacto foi de só 9,6% para o diesel e nulo para a gasolina, já que o governo aumentou a Cide.
Antes de junho de 2009, segundo a consultoria especializada CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), na média, os preços do diesel nas refinarias ficavam 33% acima dos praticados no golfo do México, mercado mais próximo. Até maio, a alta era de 52%, mas, com a queda no barril e o corte no preço no Brasil, chegou ao fim do ano a 20%.
No caso do preço da gasolina nacional, a diferença era de 59% até maio, caindo para 29% pelo mesmo motivo em relação ao diesel. Na média, ficou 41% acima dos preços externos.
Para os especialistas, a tão esperada redução de preço não virá. "O preço que não traria nem perdas nem ganhos à Petrobras é de US$ 90 por barril. E, como esse preço não está longe, acho difícil que mudem agora", diz Rodrigues.
Para Adriano Pires, diretor do CBIE, a estatal vai reforçar o caixa. "Essa folga deverá ser mais uma fonte de recursos para os planos de exploração do pré-sal e, por isso, não deverão abrir mão dela", diz.
Procurada, a Petrobras não se pronunciou.


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