|
Texto Anterior | Índice
CARVOARIAS
Siderúrgica corta fornecedores por irregularidades trabalhistas
Marlene Bergamo - 6.dez.05/Folha Imagem
|
Carvoaria na região do Pantanal (MS) que utiliza a madeira proveniente do desmatamento realizado por pecuaristas da região |
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Instituto Carvão Cidadão, organização formada
por um grupo de siderúrgicas do pólo industrial de Carajás (PA) e criado para fiscalizar as condições de trabalho na cadeia produtiva do
carvão vegetal, cortou de sua
lista de fornecedores 312 carvoarias que descumpriam a
legislação trabalhista.
Essas empresas que integram o instituto exportam
40% de todo o ferro gusa
(principal componente do
aço) fabricado no país e, juntas, faturaram US$ 1 bilhão
em 2006.
As principais irregularidades encontradas nas auditorias realizadas pelos técnicos
do instituto nesses fornecedores - em sua maior parte
de pequeno e médio portes-
foram a falta de registro em
carteira, falta de equipamentos de proteção e segurança e
instalações inadequadas (refeitórios, alojamentos, água
potável). Cada carvoaria emprega de 12 a 15 pessoas.
A lista atualizada foi enviada pelo instituto ao Ministério do Trabalho há cerca de
duas semanas.
As carvoarias que ainda
não tiverem sido fiscalizadas
pelos auditores devem ser alvo das próximas ações do
Grupo Móvel de Fiscalização
do ministério, segundo informa Ruth Vilela, secretária
nacional de Inspeção do Trabalho.
"Temos recebido essa lista
periodicamente desde o final
de 2005. Mostra que o setor
está agindo de forma preventiva no combate à precarização do trabalho", afirmou Vilela.
Entre 2003 e 2007, foram
feitas 187 operações pelo governo em carvoarias de Pará,
Piauí, Maranhão e Tocantins, com a libertação de
8.312 trabalhadores em condições análogas à escravidão.
Oito siderúrgicas foram
autuadas há três anos pelo
ministério por serem consideradas co-responsáveis pelo uso de mão-de-obra escrava em carvoarias do Pará e do
Maranhão por adquirirem
matéria-prima de fornecedores que empregavam de
forma irregular.
As siderúrgicas assinaram
um termo de compromisso
com o governo, o Ministério
Público do Trabalho e outras
entidades, em 2004, se comprometendo a erradicar o
trabalho escravo na fabricação de carvão vegetal e fazer
cumprir as leis trabalhistas.
"Não podemos trabalhar
com fornecedores que usam
trabalho escravo e não cumprem a lei. Se as carvoarias
descredenciadas quiserem
voltar a fornecer às empresas, terão de provar que se
adequaram ", diz Luiz Correia Lima, secretário-executivo da Asica (Associação das
Siderúrgicas de Carajás), cujas filiadas integram o Instituto Carvão Cidadão.
Pressão dos EUA
A pressão sobre as siderúrgicas aumentou desde o final
de 2006, quando parlamentares democratas dos EUA
informaram que investigariam denúncias de que parte
do carvão produzido no Brasil, usado no ferro gusa, é feita com trabalho escravo.
A atuação do instituto já
surte efeito, segundo Lima.
Ele diz que há cerca de três
anos apenas 1,6% dos empregados nas carvoarias do Maranhão eram registrados.
"Esse percentual hoje é de
95% na estimativa do Observatório Social", afirma.
"Se há irregularidades, o
descredenciamento é correto", diz Francisco Nascimento, presidente do Sindicato
das Indústrias de Carvão Vegetal, Transporte e Serviços
Florestais do Maranhão, que
representa as carvoarias daquele Estado. "Hoje, no Maranhão, o índice de trabalhadores registrados nas carvoarias é muito superior ao
do comércio, onde a informalidade está mais concentrada", diz Nascimento.
Texto Anterior: Frase Índice
|