|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Polícia prende 17 por golpe em investidores
Organização tinha sede no Brasil, mas era comandada por estrangeiros; vítimas vinham sendo lesadas desde 2003
Policiais detêm 15 pessoas em São Paulo e 2 brasileiros em Miami; grupo teria lucrado US$ 50 milhões
em 5 anos ao aplicar golpes
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Federal prendeu
ontem 15 pessoas em São Paulo, entre empresários e doleiros, e 2 brasileiros em Miami
(EUA) suspeitos de integrar
uma quadrilha internacional
que lucrou US$ 50 milhões nos
últimos cinco anos ao aplicar
golpes em investidores estrangeiros -principalmente ingleses, espanhóis, neozelandeses,
norte-americanos e asiáticos.
As investigações ocorrem há
cerca de dois anos em parceria
com o FBI (polícia federal dos
EUA) e órgãos governamentais
norte-americanos. Ainda ontem à noite, os policiais cumpriam outros 15 mandados de
prisão e parte das 35 ordens de
busca e apreensão solicitadas
pelo Ministério Público Federal de São Paulo e executadas
na chamada operação "Pirita".
Em uma casa no Morumbi,
foi preso o israelense Doron
Mukamal, apontado nas investigações como um dos três estrangeiros que chefiavam a organização. Dois outros líderes da quadrilha, também estrangeiros, ainda estavam foragidos, segundo a PF. Na casa do
israelense foram apreendidos
carros, jóias, euros e dólares
-em valores que somaram cerca de R$ 400 mil.
O golpe ocorria por meio de
um escritório especializado
-uma espécie de telemarketing sediado em São Paulo-,
em que funcionários de diversas nacionalidades ofereciam a
investidores estrangeiros (pessoas físicas e jurídicas) comprar ações que eles possuíam e
que estavam desvalorizadas no
mercado. Após desconfiarem
que a PF monitorava as conversas dos atendentes, o escritório
foi transferido para Buenos Aires (Argentina). No escritório, a
PF encontrou listas com nomes
dos investidores e das ações
"podres" (de baixo valor de
mercado) que possuíam.
"Eles [atendentes] simulavam sites oficiais americanos,
enviavam falsos e-mails e ofereciam valores acima do mercado para atrair o negócio. Pediam aos investidores para fazer depósitos antecipados de
taxas de corretagem e impostos
e desapareciam após receber
esses valores em contas abertas
em bancos dos EUA", diz o delegado Mário Menin Jr., da Delegacia Regional de Combate ao
Crime Organizado.
"Quando alguém propõe: me
dá R$ 2 que eu te devolvo R$
100, é preciso desconfiar", afirma David Brassani, adido policial do FBI no Brasil, que participa das investigações.
O dinheiro obtido nos golpes
era repassado a doleiros para
que fizessem remessas ao Brasil por meio da operação conhecida como "dólar-cabo" -sistema de compensação em que não há a transferência física ou
eletrônica de dinheiro, mas sim
por meio das contas de doleiros. Dos 11 brasileiros presos
ontem no país, 6 são doleiros.
A PF começou a investigar o
grupo após descobrir lavagem
de dinheiro no Brasil. "Para dar
aparência lícita a esse dinheiro
que entrava no país, o grupo
comprava imóveis", diz Karina
Murakami Souza, coordenadora da operação.
A movimentação financeira
do grupo era controlada nos
EUA por dois brasileiros que
foram presos em Miami. Um
deles é o advogado Marcos
Macchione, sócio de um escritório de advocacia em São Paulo, segundo os policiais.
O grupo vai responder por
crime de estelionato, evasão de
divisas, operar instituição financeira sem autorização, formação de quadrilha, lavagem
de dinheiro e sonegação fiscal.
A fraude que a quadrilha aplicava nos investidores estrangeiros no Brasil é líder em reclamações, segundo informa a SEC (Securities and Exchange
Commission, equivalente, no
Brasil, à Comissão de Valores
Mobiliários). Em 2006, a SEC
recebeu 2.099 reclamações de
investidores que pagaram por
taxas de serviços e produtos cobrados com antecedência sem
que fossem entregues.
Outro lado
A Folha não localizou ontem
os advogados de Mukamal. O
telefone que consta em seu nome em uma casa em Maresias
(litoral norte) não atendeu. No
escritório do advogado Macchione, funcionários disseram
que não podia dar informações
nem fornecer telefones dos advogados deles.
Com DENYSE GODOY , da Reportagem Local
Texto Anterior: Bancos: Goldman Sachs prevê mais perdas nos EUA Próximo Texto: Saiba mais: Operação policial é batizada de pirita, o "ouro de tolo" Índice
|