São Paulo, terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

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Polícia prende 17 por golpe em investidores

Organização tinha sede no Brasil, mas era comandada por estrangeiros; vítimas vinham sendo lesadas desde 2003

Policiais detêm 15 pessoas em São Paulo e 2 brasileiros em Miami; grupo teria lucrado US$ 50 milhões em 5 anos ao aplicar golpes

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Federal prendeu ontem 15 pessoas em São Paulo, entre empresários e doleiros, e 2 brasileiros em Miami (EUA) suspeitos de integrar uma quadrilha internacional que lucrou US$ 50 milhões nos últimos cinco anos ao aplicar golpes em investidores estrangeiros -principalmente ingleses, espanhóis, neozelandeses, norte-americanos e asiáticos.
As investigações ocorrem há cerca de dois anos em parceria com o FBI (polícia federal dos EUA) e órgãos governamentais norte-americanos. Ainda ontem à noite, os policiais cumpriam outros 15 mandados de prisão e parte das 35 ordens de busca e apreensão solicitadas pelo Ministério Público Federal de São Paulo e executadas na chamada operação "Pirita".
Em uma casa no Morumbi, foi preso o israelense Doron Mukamal, apontado nas investigações como um dos três estrangeiros que chefiavam a organização. Dois outros líderes da quadrilha, também estrangeiros, ainda estavam foragidos, segundo a PF. Na casa do israelense foram apreendidos carros, jóias, euros e dólares -em valores que somaram cerca de R$ 400 mil.
O golpe ocorria por meio de um escritório especializado -uma espécie de telemarketing sediado em São Paulo-, em que funcionários de diversas nacionalidades ofereciam a investidores estrangeiros (pessoas físicas e jurídicas) comprar ações que eles possuíam e que estavam desvalorizadas no mercado. Após desconfiarem que a PF monitorava as conversas dos atendentes, o escritório foi transferido para Buenos Aires (Argentina). No escritório, a PF encontrou listas com nomes dos investidores e das ações "podres" (de baixo valor de mercado) que possuíam.
"Eles [atendentes] simulavam sites oficiais americanos, enviavam falsos e-mails e ofereciam valores acima do mercado para atrair o negócio. Pediam aos investidores para fazer depósitos antecipados de taxas de corretagem e impostos e desapareciam após receber esses valores em contas abertas em bancos dos EUA", diz o delegado Mário Menin Jr., da Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado.
"Quando alguém propõe: me dá R$ 2 que eu te devolvo R$ 100, é preciso desconfiar", afirma David Brassani, adido policial do FBI no Brasil, que participa das investigações.
O dinheiro obtido nos golpes era repassado a doleiros para que fizessem remessas ao Brasil por meio da operação conhecida como "dólar-cabo" -sistema de compensação em que não há a transferência física ou eletrônica de dinheiro, mas sim por meio das contas de doleiros. Dos 11 brasileiros presos ontem no país, 6 são doleiros.
A PF começou a investigar o grupo após descobrir lavagem de dinheiro no Brasil. "Para dar aparência lícita a esse dinheiro que entrava no país, o grupo comprava imóveis", diz Karina Murakami Souza, coordenadora da operação.
A movimentação financeira do grupo era controlada nos EUA por dois brasileiros que foram presos em Miami. Um deles é o advogado Marcos Macchione, sócio de um escritório de advocacia em São Paulo, segundo os policiais. O grupo vai responder por crime de estelionato, evasão de divisas, operar instituição financeira sem autorização, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal.
A fraude que a quadrilha aplicava nos investidores estrangeiros no Brasil é líder em reclamações, segundo informa a SEC (Securities and Exchange Commission, equivalente, no Brasil, à Comissão de Valores Mobiliários). Em 2006, a SEC recebeu 2.099 reclamações de investidores que pagaram por taxas de serviços e produtos cobrados com antecedência sem que fossem entregues.

Outro lado
A Folha não localizou ontem os advogados de Mukamal. O telefone que consta em seu nome em uma casa em Maresias (litoral norte) não atendeu. No escritório do advogado Macchione, funcionários disseram que não podia dar informações nem fornecer telefones dos advogados deles.


Com DENYSE GODOY , da Reportagem Local


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