São Paulo, terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

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Preço alto e safra menor fazem gasto com trigo explodir

Demanda mundial acentuada e estoques reduzidos puxam valor do cereal e oneram a balança comercial brasileira

Sangria tende a continuar, pois custos de produção são elevados, e lavouras enfrentam a concorrência firme do milho safrinha

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

A sangria do trigo nas contas da balança comercial, acentuada neste mês, deve continuar. Segundo a Secretaria de Comércio Exterior, o produto foi um dos três a levar a balança comercial a registrar -entre 18 e 24 deste mês- o primeiro déficit semanal desde 2002. Os gastos médios diários deste mês superam em 147% os de igual período de 2007.
A causa da pressão do trigo e seus derivados nas contas nacionais passa não apenas por motivos externos, onde os produtos estão com preços recordes, mas também por um certo recuo da cultura no país.
No cenário externo, os números não deixam dúvidas de quanto o país ainda vai pagar caro pelo cereal. Em janeiro de 2005, os preços médios da tonelada de trigo estavam em US$ 120 na Bolsa de Chicago. No mês passado, subiram para US$ 348. Mais 190%.
Além dessa forte puxada de preços, outros números perigosos rondam o produto, diz Fernando Muraro, da Agência Rural: os estoques mundiais, que no início da década eram suficientes para 130 dias de consumo, caíram para apenas 66.
No ano passado, o Brasil gastou US$ 2,33 bilhões com as importações de trigo e farinhas, valor 43% superior ao de 2006. Neste ano, mesmo com a previsão de safra interna maior, os gastos devem continuar crescendo devido à forte valorização dos preços externos.
Os custos com as importações cresceram ainda devido à política interna da Argentina, que freou as exportações do cereal, incrementando as de farinha, com maior valor agregado. Neste ano, as compras externas podem chegar a 1 milhão de toneladas -4.300 em 2004.
Essa evolução dos preços no mercado externo fez o trigo voltar a atrair a atenção dos produtores. A área a ser plantada no Paraná, o principal produtor nacional, deve aumentar em pelo menos 20% neste ano e superar 1 milhão de hectares.
Os produtores estão animados com esse cenário bastante favorável, mas ainda olham o trigo com certa preocupação.

Plantio caro
"O trigo é uma cultura cara, complicada e arriscada", segundo o produtor paranaense Roberto Pozzi. Nesta safra de inverno, ele vai destinar apenas 35% da área para o trigo e as atenções maiores vão continuar com o milho safrinha.
Pozzi diz que gostaria de plantar mais trigo, mas as próprias condições dadas pelo governo levam os produtores para o milho. Sempre em busca de preços mínimos maiores, os produtores não têm muito a reclamar neste ano. Enquanto o mínimo está em R$ 24 por saca, o mercado paga R$ 36.
Na avaliação dos produtores, no entanto, as culturas de inverno deveriam ter um seguro subvencionado, como ocorre nas de verão, o que levaria mais produtores ao trigo.
Mas não é apenas a política do governo que deixa dúvidas nos agricultores. Pozzi diz que, no ano passado, ganhou dinheiro com o produto, mas já chegou a ficar seis meses com trigo e não apareceu comprador.
Além dessa ausência dos moinhos quando a oferta interna é boa, Pozzi critica a abertura de outros mercados, pelo governo, quando o preço fica bom para o produtor. Ele se refere à retirada da Tarifa Externa Comum adotada pelo governo neste ano para suprir a demanda interna com oferta de trigo de países fora do Mercosul.
"Não há intenção dos moinhos em baixar o preço do trigo nacional", diz Lawrence Pih, do moinho Pacífico. Os moinhos buscam o produto de melhor qualidade e com melhor preço onde encontrar. Além disso, há uma limitação do próprio governo nos empréstimos para a compra do produto nacional, o que prejudica os produtores.
Para o analista José Pitoli, "o único empecilho para o plantio do trigo neste ano será a falta de sementes". Mas Eugênio Bohatch, diretor-executivo da Apasem (Associação Paranaense de Produtores de Sementes e Mudas), diz que semente não faltará. As indústrias estão preparadas para 1 milhão de hectares. Além disso, muitos produtores guardam a própria semente, acrescenta.
Quanto aos preços, Bohatch diz que "o valor das sementes não acompanhou a forte puxada de preços que o trigo teve nos mercados interno e externo: o quilo varia de R$ 0,90 a R$ 1,20, dependendo da variedade.


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