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Preço alto e safra menor fazem gasto com trigo explodir
Demanda mundial acentuada e estoques reduzidos puxam valor do cereal e oneram a balança comercial brasileira
Sangria tende a continuar,
pois custos de produção
são elevados, e lavouras
enfrentam a concorrência
firme do milho safrinha
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
A sangria do trigo nas contas
da balança comercial, acentuada neste mês, deve continuar.
Segundo a Secretaria de Comércio Exterior, o produto foi
um dos três a levar a balança
comercial a registrar -entre 18
e 24 deste mês- o primeiro déficit semanal desde 2002. Os
gastos médios diários deste
mês superam em 147% os de
igual período de 2007.
A causa da pressão do trigo e
seus derivados nas contas nacionais passa não apenas por
motivos externos, onde os produtos estão com preços recordes, mas também por um certo
recuo da cultura no país.
No cenário externo, os números não deixam dúvidas de
quanto o país ainda vai pagar
caro pelo cereal. Em janeiro de
2005, os preços médios da tonelada de trigo estavam em
US$ 120 na Bolsa de Chicago.
No mês passado, subiram para
US$ 348. Mais 190%.
Além dessa forte puxada de
preços, outros números perigosos rondam o produto, diz Fernando Muraro, da Agência Rural: os estoques mundiais, que
no início da década eram suficientes para 130 dias de consumo, caíram para apenas 66.
No ano passado, o Brasil gastou US$ 2,33 bilhões com as
importações de trigo e farinhas,
valor 43% superior ao de 2006.
Neste ano, mesmo com a previsão de safra interna maior, os
gastos devem continuar crescendo devido à forte valorização dos preços externos.
Os custos com as importações cresceram ainda devido à
política interna da Argentina,
que freou as exportações do cereal, incrementando as de farinha, com maior valor agregado.
Neste ano, as compras externas
podem chegar a 1 milhão de toneladas -4.300 em 2004.
Essa evolução dos preços no
mercado externo fez o trigo
voltar a atrair a atenção dos
produtores. A área a ser plantada no Paraná, o principal produtor nacional, deve aumentar
em pelo menos 20% neste ano e
superar 1 milhão de hectares.
Os produtores estão animados com esse cenário bastante
favorável, mas ainda olham o
trigo com certa preocupação.
Plantio caro
"O trigo é uma cultura cara,
complicada e arriscada", segundo o produtor paranaense
Roberto Pozzi. Nesta safra de
inverno, ele vai destinar apenas
35% da área para o trigo e as
atenções maiores vão continuar com o milho safrinha.
Pozzi diz que gostaria de
plantar mais trigo, mas as próprias condições dadas pelo governo levam os produtores para o milho. Sempre em busca de
preços mínimos maiores, os
produtores não têm muito a reclamar neste ano. Enquanto o
mínimo está em R$ 24 por saca,
o mercado paga R$ 36.
Na avaliação dos produtores,
no entanto, as culturas de inverno deveriam ter um seguro
subvencionado, como ocorre
nas de verão, o que levaria mais
produtores ao trigo.
Mas não é apenas a política
do governo que deixa dúvidas
nos agricultores. Pozzi diz que,
no ano passado, ganhou dinheiro com o produto, mas já chegou a ficar seis meses com trigo
e não apareceu comprador.
Além dessa ausência dos
moinhos quando a oferta interna é boa, Pozzi critica a abertura de outros mercados, pelo governo, quando o preço fica bom
para o produtor. Ele se refere à
retirada da Tarifa Externa Comum adotada pelo governo
neste ano para suprir a demanda interna com oferta de trigo
de países fora do Mercosul.
"Não há intenção dos moinhos em baixar o preço do trigo
nacional", diz Lawrence Pih, do
moinho Pacífico. Os moinhos
buscam o produto de melhor
qualidade e com melhor preço
onde encontrar. Além disso, há
uma limitação do próprio governo nos empréstimos para a
compra do produto nacional, o
que prejudica os produtores.
Para o analista José Pitoli, "o
único empecilho para o plantio
do trigo neste ano será a falta de
sementes". Mas Eugênio Bohatch, diretor-executivo da
Apasem (Associação Paranaense de Produtores de Sementes e
Mudas), diz que semente não
faltará. As indústrias estão preparadas para 1 milhão de hectares. Além disso, muitos produtores guardam a própria semente, acrescenta.
Quanto aos preços, Bohatch
diz que "o valor das sementes
não acompanhou a forte puxada de preços que o trigo teve
nos mercados interno e externo: o quilo varia de R$ 0,90 a R$
1,20, dependendo da variedade.
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