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Embraer se reúne com Lula e prevê recuperação lenta
Empresa diz que não tem como rever 4.200 demissões por causa do cenário externo
Segundo presidente da Embraer, Lula pediu apenas que a fabricante de aviões tente oferecer mais benefícios aos demitidos
HUMBERTO MEDINA
ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a
Embraer não só ratificou a demissão de 4.200 funcionários
como afirmou que não há previsão de recontratação pelos
próximos dois ou três anos,
quando, segundo a empresa, o
cenário econômico continuará
ruim, sem retomada nas encomendas externas.
O presidente Lula pediu, no
encontro, que a Embraer incremente os benefícios sociais a
quem perdeu o emprego, oferecendo algo além do pagamento
do plano de saúde pelos próximos 12 meses, já oferecido pela
empresa.
Em entrevista do presidente
da Embraer, Frederico Curado,
e do ministro Miguel Jorge
(Desenvolvimento), após a reunião, o executivo disse que foi
explicado a Lula que as demissões aconteceram por causa da
redução de 30% na demanda
por aviões no mercado externo.
No caso da Embraer, segundo
Jorge, o mercado externo representa 93% da demanda.
Questionado sobre por que a
empresa não optou por medidas menos drásticas, como férias coletivas, Curado disse que
o cenário projetado pela empresa não permitiu essa decisão. "Férias coletivas é quando
se tem uma visão de uma recuperação a curto prazo. Nossa visão é que as encomendas e o nível de produção vão demorar
de dois a três anos para se recuperarem. Se acontecer antes,
excelente", disse Curado.
Ele disse ainda que não é possível rever as demissões de 20%
da força de trabalho da empresa. "Só poderíamos voltar atrás
se houvesse retomada das encomendas, o que não está previsto a curtíssimo prazo. O problema não é da empresa nem
do Brasil. É do mercado internacional", disse o executivo.
Tanto Curado quanto Jorge
disseram que Lula não pediu
para que as demissões fossem
canceladas. "O presidente nos
fez um apelo para ver o que a
empresa pode fazer além do
que já está fazendo", afirmou
Curado.
Cobrado a respeito dos empréstimos do BNDES à Embraer, Jorge disse que, na verdade, o banco não financia diretamente a empresa. "O BNDES
financia quem compra os
aviões da Embraer", afirmou.
De acordo com Curado, as
demissões não foram objeto de
negociação com o governo e foram comunicadas quando já estavam prestes a serem anunciadas. "Nós só comunicamos o
governo às vésperas de acontecer, não houve discussão prévia", afirmou Curado. De acordo com Miguel Jorge, o presidente foi avisado na quinta-feira da semana passada.
A Folha publicou, na semana
passada, que o presidente Lula
sabia desde segunda-feira que a
Embraer anunciaria uma grande demissão no seu quadro de
pessoal. No dia em que a empresa oficializou as demissões,
segundo relato do presidente
da CUT, Artur Henrique, Lula
se disse indignado e afirmou
que convocaria a empresa para
ouvir explicações e tentar reverter as demissões.
Na segunda-feira que antecedeu o anúncio houve reunião
do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o
Conselhão, na sede do Banco
do Brasil em São Paulo, e o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social), Luciano
Coutinho, antecipou aos demais participantes que a situação da Embraer, por depender
muito do mercado externo, era
complicada por conta da crise
internacional e que haveria
"expressivas demissões".
Estavam na reunião o ministro José Múcio (Relações Institucionais), o presidente do
Banco Central, Henrique Meirelles, os presidentes do Banco
do Brasil e da CEF (Caixa Econômica Federal), Antônio de
Lima Neto e Maria Fernanda
Coelho, além de Henrique, da
CUT, entre outros.
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