São Paulo, quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

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Embraer se reúne com Lula e prevê recuperação lenta

Empresa diz que não tem como rever 4.200 demissões por causa do cenário externo

Segundo presidente da Embraer, Lula pediu apenas que a fabricante de aviões tente oferecer mais benefícios aos demitidos


HUMBERTO MEDINA
ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Embraer não só ratificou a demissão de 4.200 funcionários como afirmou que não há previsão de recontratação pelos próximos dois ou três anos, quando, segundo a empresa, o cenário econômico continuará ruim, sem retomada nas encomendas externas.
O presidente Lula pediu, no encontro, que a Embraer incremente os benefícios sociais a quem perdeu o emprego, oferecendo algo além do pagamento do plano de saúde pelos próximos 12 meses, já oferecido pela empresa.
Em entrevista do presidente da Embraer, Frederico Curado, e do ministro Miguel Jorge (Desenvolvimento), após a reunião, o executivo disse que foi explicado a Lula que as demissões aconteceram por causa da redução de 30% na demanda por aviões no mercado externo. No caso da Embraer, segundo Jorge, o mercado externo representa 93% da demanda.
Questionado sobre por que a empresa não optou por medidas menos drásticas, como férias coletivas, Curado disse que o cenário projetado pela empresa não permitiu essa decisão. "Férias coletivas é quando se tem uma visão de uma recuperação a curto prazo. Nossa visão é que as encomendas e o nível de produção vão demorar de dois a três anos para se recuperarem. Se acontecer antes, excelente", disse Curado.
Ele disse ainda que não é possível rever as demissões de 20% da força de trabalho da empresa. "Só poderíamos voltar atrás se houvesse retomada das encomendas, o que não está previsto a curtíssimo prazo. O problema não é da empresa nem do Brasil. É do mercado internacional", disse o executivo.
Tanto Curado quanto Jorge disseram que Lula não pediu para que as demissões fossem canceladas. "O presidente nos fez um apelo para ver o que a empresa pode fazer além do que já está fazendo", afirmou Curado.
Cobrado a respeito dos empréstimos do BNDES à Embraer, Jorge disse que, na verdade, o banco não financia diretamente a empresa. "O BNDES financia quem compra os aviões da Embraer", afirmou.
De acordo com Curado, as demissões não foram objeto de negociação com o governo e foram comunicadas quando já estavam prestes a serem anunciadas. "Nós só comunicamos o governo às vésperas de acontecer, não houve discussão prévia", afirmou Curado. De acordo com Miguel Jorge, o presidente foi avisado na quinta-feira da semana passada.
A Folha publicou, na semana passada, que o presidente Lula sabia desde segunda-feira que a Embraer anunciaria uma grande demissão no seu quadro de pessoal. No dia em que a empresa oficializou as demissões, segundo relato do presidente da CUT, Artur Henrique, Lula se disse indignado e afirmou que convocaria a empresa para ouvir explicações e tentar reverter as demissões.
Na segunda-feira que antecedeu o anúncio houve reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão, na sede do Banco do Brasil em São Paulo, e o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luciano Coutinho, antecipou aos demais participantes que a situação da Embraer, por depender muito do mercado externo, era complicada por conta da crise internacional e que haveria "expressivas demissões".
Estavam na reunião o ministro José Múcio (Relações Institucionais), o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, os presidentes do Banco do Brasil e da CEF (Caixa Econômica Federal), Antônio de Lima Neto e Maria Fernanda Coelho, além de Henrique, da CUT, entre outros.


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