São Paulo, sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

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BB tem lucro recorde com dinheiro da Previ

Banco trouxe R$ 3 bi em receitas de ajuste de conta com fundo de pensão, o que permitiu melhorar resultado em 2009

No ano da crise, banco teve crescimento acima do mercado no crédito, com maior rentabilidade e menor inadimplência

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco do Brasil se apropriou de R$ 3 bilhões da Previ, o fundo de pensão dos seus funcionários, e encerrou 2009 com um lucro líquido anual recorde de R$ 10,15 bilhões, o maior já apurado por um banco no país, segundo a consultoria Economática. Sem o impacto desse adiantamento e de outros ganhos extras, o lucro cairia para R$ 6,9 bilhões no ano passado.
Esse ganho decorre de dinheiro que "sobra" no caixa da Previ após os pagamentos aos aposentados. É um ajuste de contas que o BB costuma fazer como patrocinador da aposentadoria dos funcionários, que, normalmente, representa despesas.
Um desses planos, porém, já fechado para adesão após mudança de regras, passou a ter cada vez menos desembolsos com a morte dos beneficiários.
Como o número de aposentados vai cair mais, a tendência é que esse plano se torne cada vez mais superavitário. Desde 2008, os patrocinadores de fundos de pensão podem recalcular as despesas, com base em projeções da expectativa de vida dos atuais aposentados, e se "apropriar" do superavit que só poderiam obter quando morresse o último beneficiário.
O ganho tem efeito apenas contábil -não entra no caixa-, mas gera lucro, impostos e PLR (participação nos lucros) aos funcionários. Também permite ao banco somar R$ 1 bilhão ao patrimônio, elevando assim a sua capacidade de conceder novos empréstimos.
"Só estamos fazendo o que a lei permite", disse Marco Geovanne, gerente de Relações com Investidores do BB.
O executivo reconhece que essa apropriação "traz alguma volatilidade para o resultado do banco". No entanto, argumenta que a tendência é que o plano mantenha boa rentabilidade. "Só se houver uma catástrofe. Num ano difícil como 2009, tivemos um excelente ganho."

Ganho de mercado
Em 2009, o BB teve um desempenho superior ao dos concorrentes. Enquanto o mercado teve crescimento de 14,5% no crédito, o BB expandiu em 33,8% sua carteira de empréstimos, que atingiu R$ 320 bilhões, incluindo avais e fianças.
Estimulado pelo governo a ser mais agressivo nos empréstimos para enfrentar a crise global que amedrontou os bancos privados, o crédito ao consumidor cresceu 88,1% no BB e atingiu R$ 91,8 bilhões, somando parte das operações do Votorantim e da Nossa Caixa.
Os empréstimos para empresas somaram R$ 125,3 bilhões, 29% mais do que em 2008.
Apesar da agressividade, o banco não incorreu em risco de inadimplência acima dos demais bancos -maior temor das instituições privadas na crise. O banco também não comprometeu suas margens de ganho. A rentabilidade, indicador de retorno do investimento do acionista, subiu de 24,7% para 25,8% de 2008 para 2009. Itaú Unibanco, Bradesco e Santander tiveram rentabilidade de 21,4%, 21,8% e 19,3%.
A inadimplência do BB girou em 3,3%, enquanto a do sistema financeiro total ficou em 4,4%. Na pessoa física, os pagamentos em atraso acima de 90 dias atingem 7,8% dos empréstimos. Para as empresas, 3,8%.
Para 2010, o banco prevê um acirramento na concorrência entre os bancos, com maior apetite dos privados pelo crédito. A expectativa é que os financiamentos cresçam 23%. "Queremos manter ou crescer um pouco, mas não esperamos um crescimento tão forte quanto 2009, já que a concorrência estará mais acirrada", disse Aldemir Bendine, presidente do BB.


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