São Paulo, sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

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Crescem os temores do mercado sobre o risco de calote do país

Agência de classificação ameaça rebaixar nota grega; Atenas adia emissão de títulos

LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A ATENAS

Depois da Comissão Europeia na semana passada, foi a vez de os mercados aumentarem a pressão sobre a Grécia e voltarem a alimentar dúvidas sobre a capacidade do país de pagar suas dívidas e reduzir seu deficit orçamentário, que em 2009 era o quádruplo do teto permitido na zona do euro.
Atenas decidiu ontem que adiará pelo menos até a semana que vem a emissão de novos títulos da dívida, esperada para os próximos dias, informou o "Wall Street Journal" citando fontes envolvidas com a oferta.
Na véspera, a agência de avaliação de risco Standard and Poor's havia lançado um alerta de que poderia reduzir a classificação da dívida do país (hoje em BBB+, o que já lhe causa dificuldade para conseguir crédito) em um ou dois pontos.
Foi o suficiente para aumentar o nervosismo sobre o país, às voltas também com pressões internas -apesar do apoio genérico da população às medidas de austeridade do governo, uma greve contra as exigências da UE e os bancos estrangeiros parou anteontem 70% da indústria e do setor público.
O governo do socialista George Papandreou, que assumiu em outubro e encontrou um problema maior do que mostravam os dados oficiais (maquiados pelo antecessor conservador), lançou-se em uma campanha para tentar recuperar a credibilidade do país.
Embora tenha sido rápido em assumir os problemas, Papandreou repetiu diversas vezes que se sente alvo de especuladores interessados em quebrar o país para contaminar a zona do euro e fragilizar a moeda comum. Atenas também se vê acuada pela União Europeia.
Funcionários e assessores do governo ouvidos pela Folha nos últimos dias ecoaram a sensação de que Atenas é uma espécie de "filho perseguido" do bloco, usado como exemplo para os demais de que o castigo para quem faz bagunça é duro. As reformas austeras propostas por Atenas foram postas em um cronograma rígido pela UE, sob fiscalização intensa e a exigência de mais esforço.
O governo visa mudanças maiores, estruturais. "Mas não há como enxergarem isso em 15 dias, vai levar meses", disse à Folha Spyros Kouvelis, secretário de Estado grego e o encarregado de todos os temas econômicos na Chancelaria.
"Estamos tentando ser coerentes, que é o melhor que podemos fazer agora. O que eu acho visível é que houve uma mudança real de governo, e isso deve ajudar a credibilidade."
O governo, que coloca o "deficit de credibilidade" como seu maior problema, precisa lidar também com os que apostam em sua falência. Ironicamente, uma reportagem do "New York Times" mostrou que são os mesmos bancos que lhe ajudaram a ocultar a dívida, no passado, usando transações escusas com derivativos.
Segundo o "Times", dados da consultoria inglesa Markit permitem que empresas como o Goldman Sachs e o JP Morgan Chase invistam na compra de Credit Default Swaps (CDS), títulos supostamente usados como proteção dos credores, mas cuja rentabilidade cresce conforme aumenta a chance de moratória.


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