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Crescem os temores do mercado sobre o risco de calote do país
Agência de classificação ameaça rebaixar nota grega; Atenas adia emissão de títulos
LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A ATENAS
Depois da Comissão Europeia na semana passada, foi a
vez de os mercados aumentarem a pressão sobre a Grécia e
voltarem a alimentar dúvidas
sobre a capacidade do país de
pagar suas dívidas e reduzir seu
deficit orçamentário, que em
2009 era o quádruplo do teto
permitido na zona do euro.
Atenas decidiu ontem que
adiará pelo menos até a semana
que vem a emissão de novos títulos da dívida, esperada para
os próximos dias, informou o
"Wall Street Journal" citando
fontes envolvidas com a oferta.
Na véspera, a agência de avaliação de risco Standard and
Poor's havia lançado um alerta
de que poderia reduzir a classificação da dívida do país (hoje
em BBB+, o que já lhe causa dificuldade para conseguir crédito) em um ou dois pontos.
Foi o suficiente para aumentar o nervosismo sobre o país,
às voltas também com pressões
internas -apesar do apoio genérico da população às medidas de austeridade do governo,
uma greve contra as exigências
da UE e os bancos estrangeiros
parou anteontem 70% da indústria e do setor público.
O governo do socialista George Papandreou, que assumiu
em outubro e encontrou um
problema maior do que mostravam os dados oficiais (maquiados pelo antecessor conservador), lançou-se em uma
campanha para tentar recuperar a credibilidade do país.
Embora tenha sido rápido
em assumir os problemas, Papandreou repetiu diversas vezes que se sente alvo de especuladores interessados em quebrar o país para contaminar a
zona do euro e fragilizar a moeda comum. Atenas também se
vê acuada pela União Europeia.
Funcionários e assessores do
governo ouvidos pela Folha
nos últimos dias ecoaram a
sensação de que Atenas é uma
espécie de "filho perseguido"
do bloco, usado como exemplo
para os demais de que o castigo
para quem faz bagunça é duro.
As reformas austeras propostas por Atenas foram postas
em um cronograma rígido pela
UE, sob fiscalização intensa e a
exigência de mais esforço.
O governo visa mudanças
maiores, estruturais. "Mas não
há como enxergarem isso em
15 dias, vai levar meses", disse à
Folha Spyros Kouvelis, secretário de Estado grego e o encarregado de todos os temas econômicos na Chancelaria.
"Estamos tentando ser coerentes, que é o melhor que podemos fazer agora. O que eu
acho visível é que houve uma
mudança real de governo, e isso deve ajudar a credibilidade."
O governo, que coloca o "deficit de credibilidade" como
seu maior problema, precisa lidar também com os que apostam em sua falência. Ironicamente, uma reportagem do
"New York Times" mostrou
que são os mesmos bancos que
lhe ajudaram a ocultar a dívida,
no passado, usando transações
escusas com derivativos.
Segundo o "Times", dados da
consultoria inglesa Markit permitem que empresas como o
Goldman Sachs e o JP Morgan
Chase invistam na compra de
Credit Default Swaps (CDS), títulos supostamente usados como proteção dos credores, mas
cuja rentabilidade cresce conforme aumenta a chance de
moratória.
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