São Paulo, sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

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VINICIUS TORRES FREIRE

Banca estatal 1 x 0 mercadismo


Lucro e rentabilidade do BB superam os da grande banca privada e desmoralizam crítica de extremistas de mercado

O BANCO DO Brasil foi mais rentável em 2009 do que os maiores bancos privados brasileiros. Se o teste do pudim é comê-lo, o resultado do BB tem gosto de vitória ou desforra para os adeptos de empreendimentos estatais na economia. Desde que os bancos públicos passaram a sustentar 80% do aumento do total de empréstimos, no final de 2008, ouvia-se que a animação dos bancos estatais acabaria em ressaca. Até agora ninguém precisou de analgésico e sal de frutas.
Empurrados pelo governo, dizem críticos, os estatais concederiam empréstimos demais para uma economia em recessão, que passaria de um crescimento de mais de 6% para zero. Mesmo em tempos de crescimento bom, conceder empréstimos demais pode dar problema. Por quê?
Esgotados os clientes mais seguros, corre-se o risco de emprestar a pessoas mais sujeitas a dar calote.
Na crise, há mais desemprego, empresas sem caixa ou no caminho da quebra. A história do crédito concedido durante a crise ainda não acabou, decerto. Em parte, ainda pode desandar. Mas, quase ano e meio após a explosão da crise, os empréstimos podres ainda não apareceram.
O setor privado argumenta ainda que os bancos estatais se lançaram a uma orgia creditícia, digamos ironicamente, sem ter como antever o tamanho da crise. Poderiam ter quebrado a cara. Passariam a conta para o governo: para nós, pagantes de impostos. É verdade. Mas, caso os bancos públicos tivessem contido os empréstimos tal como a média do setor privado o fez, a economia poderia ter afundado ainda mais.
Onde está a justa medida entre o bom ataque e a retranca, entre o risco ponderado e a covardia mesquinha? Difícil dizer, claro, mas a resposta deve ser de um tom de cinza qualquer. Nada de preto ou branco, como querem "desenvolvimentistas" e, em particular, mercadistas.
Banqueiros privados dizem de resto que não podiam aceitar os riscos assumidos pelos bancos estatais.
Se um banco público leva calotes e fica com um rombo no caixa, o governo estará lá para cobrir o buraco, com dinheiro de impostos. A cautela é, pois, compreensível. Quão compreensível? Isto é, qual o tamanho da justa retranca do banco privado?
Outra vez: difícil dizê-lo sem estar na direção de um banco.
Mas o resultado (lucros) dos bancos privados não teria sido tão bom se, entre outros fatores, os bancos públicos tivessem deixado a peteca do crédito cair. Menos crédito, mais recessão; mais recessão, mais calotes em geral, os quais atingiriam também os bancos privados.
Outra crítica relevante ao ativismo estatal no crédito é a macroeconômica. O governo, com seu gasto, e a banca estatal, com seu crédito, agiram como que "contra naturam", a contracorrente da crise. Caso a recessão tivesse seguido seu curso "natural", para as profundas do inferno, teria sido possível baixar mais a taxa de juros, diz-se. O governo teria menos deficit e dívida. O patamar da taxa básica de juros no pós-crise seria mais baixo. Pode ser. Quão mais baixo? Quanto cairia a receita do governo nesse caso?
Valeria a pena de uma recessão maior? "Pena" em termos econômicos: nem se fala do custo humano e do risco de tumulto político, que não costumam entrar nessas contas.

vinit@uol.com.br


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