|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LINHA OCUPADA
Ministro diz que agência não impediu formação de monopólio; Schymura afirma que fenômeno é inevitável
Miro e chefe da Anatel trocam acusações
LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL
A disputa de poder travada entre o Ministério das Comunicações e a Anatel ganhou ontem proporções que apontam para
uma "guerra" pelo controle do setor de telecomunicações. O ministro Miro Teixeira responsabilizou a Anatel (Agência Nacional
de Telecomunicações) pela existência de monopólio na telefonia
fixa local.
"Estamos lutando contra esse
monopólio privado. A Anatel é
responsável por ele. Várias operadoras dizem que não conseguem
entrar na telefonia local de várias
regiões", afirmou Miro. Cabe à
Anatel garantir a concorrência no
setor.
As acusações do ministro foram
feitas minutos depois de participar da abertura da Telexpo, maior
feira de telecomunicações do Brasil. Na cerimônia, dividiu a mesa
com o presidente da Anatel, Luiz
Schymura, e evitou ataques muito
diretos no seu discurso.
Miro criou anteontem uma Secretaria de Telecomunicações
dentro de sua pasta, para fiscalizar a Anatel. Por decreto, o governo criou a Secretaria de Telecomunicações no Ministério das
Comunicações. Compete a essa
secretaria, segundo o decreto
"orientar, acompanhar e fiscalizar" as atividades da agência.
Miro acusou a agência de falta
de transparência. "Ela não explica
por que deixa de tomar determinadas decisões. Não tem uma
atuação para evitar que operadoras em disputa tenham de recorrer ao Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica]."
Miro afirmou que a Anatel não
cumpre o seu papel de garantir a
concorrência e demora nas suas
decisões. "Se isso ocorresse em algum departamento do meu ministério, os responsáveis seriam
punidos severamente."
Os ataques de Miro aparentemente não abalaram Schymura,
que foi informado das acusações.
Ele afirmou que o surgimento de
monopólios na telefonia local é algo inevitável, que aconteceu em
vários países do mundo.
"Existe nos Estados Unidos e na
Espanha, por exemplo. Infelizmente é um monopólio natural,
mas não pode ser tratado de modo trivial. Garantir o "unbundling"
[livre acesso a rede de cabos de
concorrentes" nos preocupa e trabalhamos para isso."
Schymura disse que a Anatel é
transparente, mas que às vezes
tem dificuldades para tomar decisões nos prazos previstos.
Diante da platéia de cerca de 500
empresários que participaram da
abertura da Telexpo, Miro e
Schymura foram mais diplomáticos. Schymura disse que a Anatel
é instrumento democrático importante para permitir que a sociedade interfira na decisões sobre o setor.
"É fundamental a participação
da sociedade, via consultas públicas." Ele disse que o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito
democraticamente e que a Anatel
serve como instrumento democrático para ouvir a sociedade.
O secretário de Ciência e Tecnologia e Desenvolvimentodo Estado de São Paulo, João Carlos Meirelles, defendeu a importância da
Anatel e foi aplaudido por parte
da platéia.
Miro mostrou irritação com a
reação e disse que o país votou em
Lula para que haja um projeto desenvolvimentista para o Brasil. "O
governo anterior repassou para a
Anatel poderes sobre a política de
telecomunicações. O atual entende que isso cabe ao Executivo e ao
Legislativo".
Depois do evento, Miro negou
que haja "uma guerra" entre o seu
ministério e a Anatel. "Vamos nos
entender democraticamente." Ele
afirmou que o papel da Anatel
agora é fiscalizar e regulamentar o
setor. Caberia à nova Secretaria de
Telecomunicações auxiliar o governo na criação da nova política
para o setor.
Para Schymura, a nova secretaria criada pelo governo não tem
poderes de fiscalizar a agência reguladora. "Se quiser fazer isso, irá
contra a lei." Segundo ele, a legislação garante independência total
da Anatel.
Texto Anterior: O vaivém das commodities Próximo Texto: Ataque Índice
|