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DESIGUALDADE
Para Ipea, que realizou estudo, vínculo mais frágil com empresas pode explicar tempo maior para subir na carreira
Mulher espera 35% a mais por promoção
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Se um recém-formado com nível universitário leva 6,5 anos, por
exemplo, para ser promovido a
gerente ou diretor, uma mulher
nas mesmas condições sobe de
patamar em dez anos. Ou seja, para elas, o salto na carreira demora
35% a mais, mostra estudo que
analisou a evolução profissional
de administradores, contadores,
chefes de seção, economistas, engenheiros e supervisores dentro
de grandes empresas.
O mesmo levantamento, que foi
realizado pelo Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada),
órgão ligado ao Ministério do Planejamento, conclui que a tendência é que essa diferença, apesar de
existir, não é tão grande nas empresas de capital estrangeiro.
Uma explicação possível é que essas companhias seriam mais eficientes -uma eventual discriminação poderia levar à ineficiência.
É a primeira vez no Brasil que
um pesquisador calcula as diferenças de tempo para promoção
de homens e mulheres nas grandes empresas. Para chegar a esse
dado, o economista Danilo Coelho tomou como base informações de 1996 a 2004 da Rais (Relação Anual de Informações Sociais), uma espécie de censo anual
do mercado de trabalho formal
do Ministério do Trabalho.
De acordo com ele, a promoção
mais lenta das mulheres, seja nas
empresas de capital nacional ou
estrangeiro, não é explicada somente por preconceito dos empregadores.
"Pode ser discriminação, mas
pode ser também que as mulheres
tenham um vínculo mais frágil
com as empresas. Elas podem ter
alternativas mais atraentes que os
homens fora do mercado de trabalho, como ter filhos."
Licença-maternidade
A professora do Ibmec São Paulo Regina Madalozzo, especializada em economia do trabalho,
aponta na mesma direção. "A coisa mais óbvia que a gente pode
imaginar é que o fato de as mulheres deixarem de trabalhar para tirar licença-maternidade de quatro meses já explica parte do tempo a mais que elas levam para serem promovidas. São pelo menos
quatro meses a mais."
O nível educacional, lembram
especialistas, não pode ser a razão
para uma ascensão mais lenta das
mulheres, já que elas, em média,
são mais escolarizadas do que os
homens. "Esses números podem
refletir uma procura das empresas por custos mais baixos", diz a
economista Anita Kon, da PUC-SP. "Quando as mulheres têm filhos, saem e uma pessoa tem que
ser contratada para substituí-las."
Dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), do IBGE, mostram os efeitos
da ascensão mais lenta das mulheres dentro das grandes empresas brasileiras de transformação:
elas representam atualmente apenas 14% dos cargos de comando,
como gerência e direção.
De qualquer forma, o quadro é
melhor do que o de anos atrás: em
1996, por exemplo, as mulheres
representavam 22% do total de
empregados nessas indústrias e
somente 8% dos cargos de comando (leia texto abaixo).
Indústria de transformação
O economista tomou como base, para realizar o estudo, os trabalhadores da indústria de transformação (aquela que agrega valor ao produto, como vestuário,
calçados, eletroeletrônicos, alimentícia, entre outras).
Os funcionários pesquisados foram os que exerciam cargos de
administrador, contador, chefe de
seção, economista, engenheiro,
supervisor de vendas e supervisor
de compras de 1996 a 2004.
Apurou-se, por meio dos dados
fornecidos pelas empresas ao Ministério do Trabalho, quanto tempo homens e mulheres nesses cargos levaram para ser promovidos
a gerente ou diretor.
O pesquisador selecionou apenas quem tinha entre 20 e 26 anos
quando entrou na empresa e curso superior completo.
Coelho chegou a dois resultados
diferentes sobre o tempo adicional que a mulher leva para ser
promovida em relação ao homem. O primeiro, que apontou
uma diferença de 35%, é mais representativo, já que leva em conta
toda a amostra.
O segundo cálculo feito pelo
pesquisador exclui o efeito que a
profissão em si pode ter sobre
uma promoção (engenheiros, por
exemplo, são promovidos mais
rapidamente do que advogados, e
a proporção de homens engenheiros é maior).
Nesse caso, o resultado também
é desfavorável para as mulheres:
elas levariam 23% a mais de tempo para serem promovidas do
que os homens, em média.
Mas esse cálculo não é tão representativo, já que, para fazê-lo,
o pesquisador teve de retirar da
base pesquisada aqueles funcionários cuja posição na empresa
antes do período analisado por ele
(com início em 2006) é desconhecida. Isso reduz o universo pesquisado e contamina a amostra,
pois retira exatamente os funcionários que foram promovidos
mais rapidamente (a maioria homens, que já eram gerentes ou diretores em 2006 e dos quais se
desconhece o cargo anterior).
Esses funcionários cuja posição
anterior se ignorava foram retirados porque, sem essa informação,
não era possível calcular o efeito
do cargo que exerciam sobre a
promoção que tiveram.
Mais gente, promoção tardia
Além da comparação do tempo
até a promoção entre homens e
mulheres, outra conclusão do estudo foi que contratações podem
retardar promoções, de homens
ou mulheres, dentro de uma empresa: a cada 1% de mais funcionários, o tempo de emprego até
uma promoção sobe 6,7%. "Isso
ocorre porque a quantidade de
cargos de gerência e direção em
uma empresa cresce menos, proporcionalmente, do que o número de empregados", diz Coelho.
Os números apontam ainda em
quais cargos os funcionários, de
qualquer sexo, têm mais chance
de promoção: em primeiro lugar,
aparece o chefe de seção, e, em seguida, os supervisores.
Em terceiro, vêm os engenheiros, que levam 29% a menos de
tempo para serem promovidos
do que advogados, economistas,
administradores e contadores. O
estudo do Ipea mostra ainda que,
na região Sudeste, a competição
por promoções é mais acirrada:
os trabalhadores de indústria de
transformação da região levam,
em média, 12% a mais de tem-
po para subir de posição.
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