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Vale desiste de comprar mineradora Xstrata
Com o fim da negociação, a companhia, 2ª no ranking, perde a chance de chegar ao topo entre as grandes empresas do setor
A aquisição não prosperou, segundo Roger Agnelli, porque não houve acordo sobre a comercialização
dos produtos da Xstrata
DA SUCURSAL DO RIO
A Vale anunciou ontem que
desistiu da compra da mineradora anglo-suíça Xstrata. Em
nota, a Vale informou que submeteu uma proposta de pagamento em dinheiro e em ações
para adquirir 100% das ações
da Xstrata, mas que não foi alcançado acordo entre as partes.
Com o fim da negociação, a
Vale, que ocupa hoje o segundo
lugar entre as maiores mineradoras do mundo, perde a chance de chegar ao topo entre as
grandes empresas do setor.
Atualmente, ela só fica atrás da
australiana BHP-Billiton. A
aquisição daria à empresa mais
destaque na produção mundial
de carvão e cobre. "A Vale entende que essa oferta criaria
considerável valor para os acionistas de ambas as empresas",
informou em nota.
Antes do comunicado à imprensa, o presidente da Vale,
Roger Agnelli, já havia afirmado em um evento em São Paulo
que a compra da Xstrata não
era prioritária para a empresa.
Em entrevista após a divulgação do resultado da companhia
no início deste mês, Agnelli já
havia mencionado que a mineradora brasileira havia chegado
ao limite de sua proposta de
compra e que mantinha conversas com outras empresas.
À noite, em outro evento na
capital paulista, o presidente da
companhia disse que "é uma
negociação complexa, é difícil
chegar a um acordo". "Não é
bom para as empresas ficarem
com um negócio pendente".
Sobre outras aquisições, Agnelli disse que "sempre tem um
plano B". "Estamos interessados em outras empresas, em especial o mercado de cobre e
carvão", completou.
Na metade do mês, executivos da mineradora anglo-suíça,
como Mike Davis, e da trading
Glencore, que detém participação de 35% na Xstrata, Ivan
Glasenberg, estiveram no Brasil para uma rodada de negociações com Agnelli. A Glencore
queria manter o direito à comercialização de produtos da
Xstrata. Segundo Agnelli, a
aquisição não prosperou porque as empresas não chegaram
a um acordo sobre qual delas
iria controlar a comercialização dos produtos -e não por
causa do valor da compra.
No comunicado divulgado
ontem, a Vale ressaltou que, de
acordo com regras do Reino
Unido, a companhia se reserva
o direito de anunciar uma oferta ou participar de uma proposta pela Xstrata dentro dos próximos seis meses caso haja uma
recomendação positiva ou um
acordo com o Conselho de Administração da Xstrata. A nova
oferta seria viável também caso
outra empresa faça uma proposta pela Xstrata ou a mineradora anglo-suíça anuncie uma
operação reversa de compra.
A Vale nunca chegou a divulgar um valor de oferta, mas o
montante estimado para a
aquisição era de US$ 90 bilhões. Desde o início, a proposta gerou polêmica. Apesar das
sinergias com a eventual aquisição da Xstrata em áreas como
níquel, carvão e cobre, havia receio no mercado de que a aquisição resultasse em um aumento do nível de endividamento
da empresa, o que poderia, em
última instância, comprometer
o grau de investimento concedido por agências de classificação de risco. A operação seria
muito mais complexa do que a
compra da produtora de níquel
canadense Inco em 2006.
Depois que a Vale conseguiu
equacionar a proposta após a
negociação com bancos, a discussão passou a girar em torno
da forma de gerir o negócio. A
empresa havia obtido uma linha de US$ 50 bilhões para financiar a operação junto a consórcio de bancos estrangeiros.
Apesar das negativas da mineradora, um dos principais
entraves ao sucesso da proposta foi a resistência inicial do governo. Agnelli chegou a receber
o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva em um jantar em sua
casa, no Rio, mas ambos negaram que o tema tivesse sido discutido. O governo temia que a
operação representasse um
primeiro passo para que o controle da empresa ficasse no futuro nas mãos de estrangeiros.
Com MARINA GAZZONI , colaboração para a Folha
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